Contacto MITT 440 MB

Se é verdade que os “os olhos também comem”, com a MITT 440 MB apanham uma verdadeira barrigada de estilo e agressividade. Mas a nova muscle bike, “preparada” em ginásio chinês, revela surpreendente facilidade de condução e grande equilíbrio dinâmico. 

A crescente consciencialização de que da China não vêm só produtos “baratuchos”, de qualidade duvidosa e que mais não são do que fracas réplicas de bons artigos europeus ou americanos, está bem patente no número crescente de fabricantes de motos que proliferam, ora revitalizando grandes nomes quase fenecidos, ora assumindo o nome próprio, ora resultando de um processo de marketing mais elaborado. É o caso da MITT, pensada por europeus para europeus, e fabricada… na China. Vantagens: a maior prende-se naturalmente com o preço. Mas há também uma acrescida capacidade – nada desprezível, diga-se de passagem – de mudar, evoluir e melhorar pormenores com rapidez.

Tal como os japoneses no pós-guerra, os chineses começam a deixar de lado a simples cópia e a produzir de forma original. Para eles e para os outros.

Este contacto com a MITT 440 MB encontra-se na edição Nº 1488 (Julho de 2020) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1488/

Europo-chinesa

A MITT, marca europeia que recorre a fornecedores orientais para ganhar apostar na qualidade a preços competitivos, oferece uma gama cada vez mais completa e cumpridora dos padrões estéticos e qualitativos dos clientes ocidentais. Normalmente descritos como mais conhecedores e exigentes, e que, ao olhar para a custom 440 MB, ficarão rendidos a uma imagem ímpar, de linhas possantes, em estética onde não faltam pormenores muito bem conseguidos. Das jantes ao minimalista farol dianteiro, do assento à forquilha invertida com fixação tripla da mesa inferior, do estilizado depósito de combustível ao para-lamas posterior bem rematado por um farol quase incrustado. E há ainda que salientar a qualidade dos cromados, a pintura cuidada e sem mácula, os piscas em LED ou o generoso sistema de travagem dianteira, com dois discos e pinças radiais. Imagem musculada, a meio caminho entre uma custom e uma dragster, que antecipa posição de condução também “híbrida’” meio-termo entre o relaxamento próprio de uma cruiser e o controlo absoluto e dinamismo de uma naked. Duplicidade assente em pousa-pés colocados mais atrás do que seria de esperar numa cruiser convencional, ponto de partida para uma posição de costas bastante direitas, apoiada ainda num guiador mais neutro em termos de inclinação. Fica a ganhar o bem-estar a bordo num maior número de situações, contando também com a boa forma do terceiro ponto do triângulo ergonómico do condutor, o assento. Colocado muito baixo (680 mm) permite que todos os motociclistas apoiem tranquilamente os pés no solo, exponenciando confiança no momento de paragem, e tem largura suficiente para bom nível de conforto, ampliado com o apoio oferecido à parte inferior das costas.

Posto de comando bem conseguido, com fácil acesso a comandos limitados ao essencial, como básico é o painel, de boa legibilidade e com tudo o que é preciso, semelhante ao conhecido da referencial Yamaha XSR 700 X-Tribute. Isto na versão mais recente, que é bastante melhor do que o equipamento que montava a unidade utilizada nas fotos. Nota destacada no capítulo estético – onde não faltam os imprescindíveis cromados, incluindo o escape duplo – mas que, por ser o mais subjectivo, deixamos ao critério de cada um avançando, sem delongas, para uma avaliação dinâmica que se quer sempre mais cuidada e objetiva.

Motor de dois cilindros

Aqui, talvez seja de bom tom começar pelo elemento mais surpreendente, não vá o leitor ter que interromper a leitura a meio e ficar sem conhecer o que de mais importante tem a MITT 440MB. Dois cilindros paralelos, 389 cc e uma potência máxima anunciada de 35 cv às 9500 rpm. Números, apenas números, que não esclarecem a suavidade e equilíbrio de uma proposta particularmente aliciante para os que dão os primeiros passos nas motos “grandes”, assumindo-se como degrau de eleição na entrada no universo A2 depois do tirocínio com as 125 cc, automáticas ou de caixa.

Motor bem arredondado, fácil de controlar e com resposta sem hesitações desde as 3000 rpm, que permite rodar em sexta velocidade, no modo relax, desfrutando da paisagem sem preocupações de maior, graças ao binário sempre presente. E existe até um pormenor que, consoante o ponto de vista, pode ser tido como um formigueiro de excitação quando se estica o regime em cada relação para lá das 5000 rpm, ou como uma vibração, pouco arreliadora é certo, sentida essencialmente nos pousa-pés, bem filtrada pelos punhos e inexistente no assento. Assento que, já que aqui veio à baila, podia ser mais macio embora o tempo possa modelar a espuma. Voltando ao bloco, de boa aparência e acabamentos cuidados, apresenta-se à altura do nível de experiência dos principais candidatos à condução da 440 MB. E mesmo as senhoras, muitas vezes atemorizadas pelas prestações e brusquidão aos movimentos do acelerador. O peso bem dissimulado, facilita as manobras “sem motor” como a inserção em curva ou o tricotar no meio do tráfego urbano, sem beliscar grande estabilidade nas curvas mais rápidas graças a um comportamento sólido. Princípio filosófico de facilidade à prova de meio mundo que parece continuar no sistema de travagem: Mais progressivo, convenhamos, era quase impossível. De aspeto imponente, com dois discos dianteiros de tamanho generoso e pinças de fixação radial, antevia-se uma capacidade de paragem brutal. Mas, na verdade, foi a facilidade o ponto mais importante do caderno de encargos, com um tato esponjoso e um prolongar da desaceleração que limita aspirações desportistas ou, pelo menos, mais atrevidas.

Este contacto com a MITT 440 MB encontra-se na edição Nº 1488 (Julho de 2020) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1488/

Bom, mas também não é, manifestamente, o comportamento procurado pelos potenciais utilizadores desta moto, antes seduzidos pelo fácil controlo, sem repelões, com suavidade que nem chega a colocar verdadeiramente à prova a ciclística apoiada num chassis tubular, de desenho tão simples quanto eficaz. E que, uma vez mais, aposta na facilidade, com mudanças de direção que se fazem quase só com o pensamento. Tanto mais que a suspensão invertida e o ângulo de direção não exageradamente aberto contribuem para um feeling muito preciso da roda dianteira, permitindo manobras de recurso (como fugir a um buraco mesmo em cima do acontecimento…) sem qualquer esforço e fazendo mesmo esquecer os 188 quilos a seco desta moto.

Ponto menos consensual será, sem sombra de dúvida, a taragem do amortecimento, que é como quem diz, o sempre complicado equilíbrio entre conforto e eficácia dinâmica. Neste ponto, um pouco ao contrário do que se vê em toda a máquina, o compromisso pendeu para o lado do comportamento, sem queixas de estabilidade mesmo quando se abusa do ritmo, levando poisa-pés e escape a restolhar pelo asfalto sem que tal implique o mínimo desvio da rota traçada ou qualquer falta de ar ao condutor mais afoito. Eficácia que, porém, foi conseguida à custa de alguma secura nas reações da suspensão, sobretudo do par de amortecedores convencionais na traseira, sem regulação e inclinados a 45.º

Mas, como todos sabem, o melhor deve sempre estar guardado para o final. É assim nos filmes, quando ficamos a saber se o cowboy fica com a giraça ou descobrimos que, afinal, o mordomo não era o assassino, como na gastronomia onde o elevado patamar de uma refeição deve ser rematado com sobremesa de arrasar. E é, também assim com a MITT 440MB e com o preço de comercialização, abaixo dos 5000€ – 4990€ para ser mais preciso!

O que, na prática, quer dizer que custa 5553,87€ já com todos os custos de taxas, impostos e documentos até ter a chave na mão.