Competições menos conhecidas, parte 3 – Auto Race

Chama-se Auto Race, mas na verdade são corridas de motos. É, tal como o Dirt Track americano, mais uma variação do Speedway, e nasceu quando o governo japonês proibiu as corridas nas ovais de terra, nos anos ’60, por se terem tornado demasiado perigosas. Foi assim que nasceu no Japão o Auto Race, o Speedway organizado em pistas de asfalto, e com uma particularidade importante: é um desporto de apostas, como as corridas de cavalos, por exemplo, o que influenciou grandemente as suas regras.

As corridas são feitas em circuitos de 500 metros de perímetro e 30 de largura, e cada evento é realizado em formato de torneio, que se prolonga por oito dias, não consecutivos, e por dia pode haver de uma a 12 corridas. Uma vez que cada piloto apenas pode participar numa corrida por dia, chega a haver 96 pilotos diferentes a correr diariamente durante um torneio.

Participam oito pilotos em cada corrida. Depois de 12 corridas eliminatórias, 32 pilotos são apurados para as quatro semi-finais.

Depois destas há três corridas finais: a Final propriamente dita, com os 1.º e 2.º classificados de cada semi-final; uma Corrida Especial de Selecção com os 3.º e 4.º de cada semi-final e um Corrida de Selecção com os pilotos que ficaram em 5.º e 6.º em cada semi-final. Cada corrida tem seis voltas e dura menos de três minutos.

Em cada corrida cada piloto tem uma camisola de cor diferente, como os jockeys das corridas de cavalos, e para evitar os ‘arranjinhos’ e batota nas apostas, desde os dias que antecedem o início de cada evento até ao final deste, os pilotos vivem no circuito, não podendo abandonar este nem contactar com pessoas de fora. Chegam a ser meio milhar de pilotos instalados no circuito durante um par de semanas. Isso significa que os pilotos mais activos chegam a viver mais de meio ano fora de casa. Pelas mesmas razões, as motos também não podem deixar as instalações. Os pilotos fazem também de mecânicos, porque não é permitida ajuda externa.

Estas regras foram impostas pela federação japonesa porque este desporto quase foi destruído no Japão quando foi dominado pela Yakuza, até quase aos anos ’70.

Embora não seja exactamente um campeonato, por causa das apostas existe um ranking de pilotos, baseado na classificação da metade anterior do ano: os 60 melhores são de categoria S, entre o 61.º e 260.º têm categoria A e daí para baixo são B. A partir de 2011 começaram a aparecer também mulheres a correr em Auto Race. E não servem apenas para fazer número, pois vencem corridas, como mostra neste video Haruna Masu.

Os pilotos ganham prémios monetários, e embora os melhores possam ganhar alguns milhões de euros por ano, os ganhos médios anuais dos pilotos profissionais rondam os 150 000 euros. O prize money por evento pode variar entre os 100 000 e os 260 000 euros.

Sendo um desporto exclusivo do Japão, os pilotos de Auto Race não ganham fama internacional, mas houve um que não só ficou conhecido fora do Japão, como serviu para dar a conhecer este desporto ao Ocidente: Mitsuo Abe, pai do falecido Norifume Abe.

Antes de chegar ao estatuto de profissional, os pilotos têm que obrigatoriamente passar por uma escola oficial para receber uma certificação.

As motos de Auto Race têm algumas semelhanças com as de Speedway, na medida em que não têm suspensão traseira nem travões. Mas usam um motor de dois cilindros de 600 cc, têm caixa de duas velocidades e têm o guiador assimétrico, de modo a que quando estão inclinadas, o piloto possa manter-se direito. As rectas têm 87 metros cada uma, enquanto que as curvas têm 163, pelo que as motos passam bem mais tempo inclinadas do que na vertical.

Estas motos atingem 150 km/h de velocidade máxima na oval de asfalto, com uma velocidade média por volta de 90 km/h.

Actualmente existem apenas cinco circuitos de Auto Race no Japão.

Em 2015 organizou-se um curioso confronto no circuito de Kawaguchi: duas Suzuki GSX-R1000 do campeonato japonês de Superbike, duas Supermoto e uma moto de Auto Race, com o motor que todas usam, Super Engine Auto Race AR600 (fabricado pela Suzuki). A partida foi dada como nas corridas com handicap, em que os pilotos mais rápidos arrancam de trás. Quem ganhou?