Teste Benelli 752s

Apresentada inicialmente no Salão de Milão de 2017, a 752S só em 2020 chegou ao mercado. Foi o regresso da marca histórica a cilindradas maiores, fazendo parte do plano de crescimento sustentado na Europa. A 752S é uma naked de estética arrebatadora e dinâmica competente.

Quando o Qianjiang Group adquiriu a Benelli em 2005, manteve, inicialmente, praticamente inalterada a gama da histórica marca italiana. A gama ia das scooters às carismáticas TnT e Tre-K; o seu maior motor era o tricilíndrico de 1130 cc que equipava as naked e as trails estradistas. Mas o plano foi alterado mais tarde, em 2016, quando surgiram os primeiros modelos projectados sob propriedade chinesa.

A Bn600, que estaria disponível em versões naked e GT. Aposta não foi a mais certeira e o foco virou-se para as baixas cilindradas. As Bn 302 e 125 foram bem recebidas, mas especialmente as trail TRK 502 tornaram- -se bastante populares. Eram as motos de maior cilindrada da gama da Benelli, até agora.

Este contacto com a Benelli 752S encontra-se na edição Nº 1490 (Agosto de 2020) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1490/

A 752S usa um motor bicilíndrico de 754 cc, com as mesmas cotas internas da antiga TnT 1130, 88 x 62 mm. Ora, se fizermos as contas: 1130 a dividir por três dá 376,6 cc por cilindro, multiplicando por dois dá 753,2 cc; ou seja, este motor bicilíndrico é, nada mais, nada menos, do que dois terços do tricilíndrico da antiga naked. Um pedigree a ter em conta. É refrigerado por líquido, tem duas árvores de cames à cabeça e quatro válvulas por cilindro, com uma potência máxima de 76 cv às 8500 rpm e 67 Nm de binário máximo às 6500 rpm.

O motor está montado num quadro tubular em treliça, sendo o braço oscilante também tubular. Esteticamente, a 752S é um pouco mais radical que a irmã 302S. A traseira é mais curta, e o escape, também curto, virado para cima a cerca de 45°, está muito bem integrado nas linhas modernas e minimalistas da moto italiana – que de alguns ângulos faz lembrar uma Ducati Monster 821 ou 797, mas com escape e suporte de matrícula diferentes… A posição de condução apresenta um bom compromisso, devido aos pés ligeiramente recuados que obrigam a dobrar as pernas, mas sem exageros, e ao guiador alto e largo, que mantém o tronco vertical.

À nossa frente o painel de instrumentos é um painel TFT com dois modos de visualização, noturno e diurno; mas não se trata apenas de um ‘dark mode’: para além da apresentação cromática, também a disposição da informação é alterada de um modo para o outro. Uma das primeiras coisas que a Benelli 752S revela assim que arrancamos: o peso e o limitado ângulo de brecagem. Os 228 kg em ordem de marcha na verdade acabam por ‘esconder-se’ em andamento, sem afectar a sua agilidade, fazendo-se sentir apenas nas manobras a baixa velocidade. A brecagem limitada não ajuda, e por vezes limita também as manobras no meio do trânsito, obrigado a um planeamento mais cuidado.

As suspensões firmes são preponderantes no comportamento dinâmico da 752S; embora o amortecedor traseiro seja apenas ajustável em pré-carga da mola, a forquilha invertida, com um generoso diâmetro de 50 mm é totalmente ajustável. Em determinadas situações parece haver um desequilíbrio entre os dois componentes, com o amortecedor a revelar-se mais macio que a forquilha. Mas especialmente em bom piso, a 752S é bastante fácil de explorar.

A travagem, a cargo de dois discos na dianteira, não tem o tacto perfeito, mas tem a potência. O conjunto assegura um forte poder de travagem, mas por vezes o ABS parece demasiado intrusivo no travão traseiro Só não é mais entusiasmante porque falta algum carácter ao motor bicilíndrico. Apesar dos mais que suficientes 76 cv de potência máxima, o que falta é alguma ‘alma’, capaz de transmitir algumas emoções.

Tendo em conta a sua origem, a ‘explosiva’ TnT, esperava um pouco mais destes dois terços desse motor. Falta-lhe algum fôlego e prefere regimes mais elevados, mas nestes vibra um pouco. Para compensar, som do escape é animador e contagiante – sem ser incomodativo -, colmatando assim um pouco as emoções. O facto de o motor ter que puxar por cerca de três dezenas de quilogramas a mais em relação às suas rivais também não ajuda.

Este contacto com a Benelli 752S encontra-se na edição Nº 1490 (Agosto de 2020) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1490/

Porém, a Benelli 752S não deixa de ser uma opção interessante dentro do segmento das naked de média cilindrada. Para muitos o factor ‘made in China’ ainda os deixa de pé atrás, mas a 752S mostra uma boa qualidade de construção, a par daquilo que encontramos no segmento ‘made in’ noutro lado qualquer, e com equipamento adequado, como suspensões Marzzocchi ou travões Brembo. Depois, até tem defeitos à italiana, nos casos em que a forma supera a função, como nos espelhos, que são muito bonitos, sim senhor, mas não se vê nada para trás! Ou o suporte da matrícula/guarda-lamas traseiro, que quase parece mais robusto que o braço oscilante em que está apoiado, fazendo com que este pareça algo frágil, por contraste.

Apesar de esperarmos um motor mais entusiasmante, a verdade é que as prestações não são desadequadas ao segmento, e o comportamento dinâmico é bastante competente, o suficiente para ser bastante divertida numa estrada revirada, ao mesmo tempo que o seu conforto e facilidade/docilidade convidam a usá-la todos os dias.

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