A R nineT Scrambler é a segunda versão que BMW acrescentou à sua gama R nineT, evocando motos de outros tempos. A Scrambler é uma variação da existente café racer nineT, com as correspondentes diferenças estéticas e técnicas.
Texto: Vitor Martins_Fotos: Rogério Sarzedo MOTOJORNAL_1393
Em 2013, para comemorar o seu 90.º aniversário, a BMW apresentou a R nineT, uma café racer moderna, mas evocando os primeiros modelos da marca bávara.
Utilizando o motor boxer da anterior geração, ainda sem refrigeração por líquido, e um tipo de construção que permitia grande liberdade na personalização, a nineT ganhou rapidamente grande popularidade. Cerca de 3 anos depois, a BMW voltou à carga, e apresentou uma variação da nineT, a Scrambler. Esta, é uma interpretação moderna da scrambler dos anos ‘50, mantendo alguma da filosofia desses tempos, como a simplicidade das linhas e com o equipamento reduzido ao essencial, como é o caso do minimalista painel de instrumentos.
A BMW partiu da nineT existente para conceber a Scrambler, com apenas algumas alterações. O motor é exactamente o mesmo, o boxer de 1170 cc refrigerado por ar e óleo, com 110 cv de potência, montado também no mesmo quadro tubular com o propulsor auto-portante.
Porém, o ângulo da coluna de direcção é mais aberto na Scrambler – 28,5 graus, em vez de 25,5 -, a forquilha é convencional de 43 mm de diâmetro, em vez da invertida de Ø46 mm, e com mais 5 mm de curso, para um toal de 125 mm; também o amortecedor traseiro, o Paralever, permite 140 mm de curso, mais 20 mm do que na nineT ‘normal’.
A travagem está a cargo de dois discos de Ø320 mm na frente, mas sem as pinças de montagem radial da café racer, e um disco de 265 mm atrás. De origem, a R nineT Scrambler vem equipada com jantes de liga leve e pneus estradistas, mas só fica verdadeiramente Scrambler com as jantes opcionais de raios, e com uns pneus mistos como os Metzeler Karoo 3, tal como a unidade que experimentámos (que tinha ainda outros extras).
O assento da Scrambler está ligeiramente mais alto, o guiador é igualmente largo, e também ligeiramente mais alto que na nineT normal, enquanto que os pousa-pés estão ligeiramente mais baixos e recuados, pelo que a posição de condução é ligeiramente diferente.
O que continua igual a si mesmo é o carácter do motor boxer de dois cilindros, com aquele empurrão generoso e que se enquadra muito bem também na Scrambler. A jante dianteira de 19 polegadas e os pneus mistos, a par da ligeiras alterações na geometria de direcção, acabam por influenciar o comportamento da Scrambler especialmente em relação à nineT original. A primeira sensação é a de que a direcção tem tendência para fechar em curvas mais lentas; depois, durante os primeiros quilómetros, os pneus não transmitem grande confiança na entrada em curva. Mas depois de um período de adaptação percebemos que a Scrambler curva o que nós quisermos e que é possível contrariar o comportamento nas curvas lentas. Uma característica nefasta mas inevitável deste tipo de pneus é o ruído de rolamento: quando rodamos a 90 – 100 km/h a zoada dos pneus sobrepõe-se ao som das fabulosas ponteiras Akrapovic.
A Scrambler é uma boa estradista, com um comportamento à altura das restantes irmãs da gama R da marca alemã. Muito estável em qualquer situação, permite devorar quilómetros de curvas em ritmo divertido. Tal como nos outros modelos BMW com motor boxer, a sensação de peso desaparece assim que estamos em andamento, e apesar da diferente geometria de direcção e da jante maior à frente, não parece ter perdido muito em agilidade, mesmo nas mudanças rápidas de direcção numa estrada sinuosa.
A vantagem da Scrambler em relação ao modelo que lhe deu origem é que a viagem não acaba quando deixa de haver aslfalto. Mas não se iludam, a Scrambler não é uma GS – até porque nem foi essa a intenção. Permite rodar mais à vontade num estradão de terra do que numa pura estradista, mas apesar dos pneus mistos e do ligeiramente maior curso das suspensões, não permite uma condução ‘off road’ propriamente dita. Podemos desligar o controlo de tracção e o ABS para evitar imprevistos na terra mais resvaladiça, mas não podemos seguir com o mesmo à vontade se o estradão ficar demasiado esburacado, ou com muita pedra solta. Nem a posição de condução é a ideal para podermos conduzir de pé, nem as suspensões são capazes de lidar eficazmente com tanta irregularidade. Acima de tudo, nos dias de hoje, as scrambler têm mais a ver com o estilo e estética do que com a capacidade de rodar fora de estrada. Para isso existem outros modelos, de certo modo descendentes das scrambler de outrora.
Inegavelmente eficiente do ponto de vista dinâmico, também nesta Scrambler dos nossos dias a forma tem tanta ou mais importância que a função, por isso a sua estética, acabamentos e componentes acessórios foram especialmente cuidados a pensar na personalização, nem que seja com elementos da vasta lista de acessórios da marca. Para isso o sub-quadro traseiro que suporta o assento do passageiro é desmontável, transformando radicalmente a Scrambler, por exemplo.
Proposta por 13 690 €, a R nineT Scrambler é uma excelente representante da actual tendência de reviver o passado tirando partido da mais recente tecnologia numa moto altamente desfrutável e personalizável.
Scrambler com história
Em meados do século passado as motos não estavam divididas na miríade de estilos actualmente disponibilizados no mercado. Muitos motociclistas adaptavam as suas motos às suas necessidades. O estilo scrambler nasceu dessa necessidade de poder circular mais facilmente pelas estradas não pavimentadas, assim como muitas das corridas da época se realizavam nesse tipo de estradas. Até que os próprios construtores começaram a ir ao encontro dessas necessidades. A BMW R 68 foi uma dessas motos.
Georg ‘Schorsch’ Meier foi um piloto alemão que antes da II Guerra Mundial competiu oficialmente pela BMW em corridas tão distintas como a velocidade, enduro ou o trial – modalidades então bem diferentes daquilo que agora conhecemos. Meier foi mesmo o primeiro piloto estrangeiro a vencer o TT da Ilha de Man, em 1939, e também o primeiro a superar a velocidade média de 100 mph (160 km/h) no circuito de estrada da ilha britânica. A R68 – com motor boxer, claro – apresentada no pós-guerra, em 1951, no Salão de Frankfurt era proposta com um escape 2-1 em posição elevada. Apesar de a versão standard ter um escape ‘normal’, o escape opcional tornou-se popular e a R68 tornou-se assim na primeira Scrambler da marca alemã.
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