Contacto Ducati Panigale V4 S

A Ducati Panigale V4 foi revista para 2020 e apresenta-se com diversas melhorias trazidas, em parte, da experiência em competição. Estivemos no Bahrain para testar o modelo na versão “S”, num dia de grande tempestade, condições que ajudaram a revelar o trabalho feito em torná-la mais fácil de pilotar. 

Texto Marcos Leal • Fotos Ducati/Milagro

Vencer a tormenta

A Panigale V4 é já de si uma moto de uma beleza muito cativante, algo extensível a toda a família deste modelos. Mas no ano passado, a versão “R” com as suas asas e o maior volume das carenagens frontais, elevou a fasquia. Esta nova imagem é agora transportada para a versão base e S da Panigale V4, ficando apenas a V2 liberta dos apêndices aerodinâmicos.

Para 2020 a Ducati procurou, sem fazer grandes alterações, tornar a V4 numa moto menos exigente de pilotar. Focou-se na ideia de minorar o esforço para se andar depressa, de forma a permitir a pilotos menos conhecedores, melhorarem as suas prestações em pista. Isto tudo a tornando também mais eficiente e mais rápida em quaisquer condições, e com pilotos experientes.

Durante a fase de desenvolvimento e testes, juntaram a nova moto e uma unidade da anterior numa pista com três utilizadores; um piloto profissional, Michele Pirro, um piloto amador e um terceiro utilizador “comum”. Pirro conseguiu baixar 0,4 s ao seu tempo por volta com a moto nova, o piloto amador 0,8 s e o utilizador comum retirou 1,3 s. Com este exercício a Ducati quis comprovar que os resultados das evoluções operadas foram um sucesso.

Minorar o esforço

O trabalho de melhoramento feito na ciclística na Panigale V4, passou pela introdução do novo quadro Front Frame. Construído de acordo com as especificações da Ducati Corse, conta com alterações no set-up das suspensões que conduzem a um centro de gravidade mais alto, a um maior ângulo de ataque da corrente de transmissão e a uma diferente rigidez lateral. Graças a estas alterações, a moto é mais fácil de inserir em curva quando se largam os travões, chega mais depressa ao apex da curva, absorve com maior eficácia quaisquer irregularidades do piso e comporta-se de forma mais neutra à saída da curva.

A versão “S” que usamos durante a apresentação está equipada com uma forquilha Öhlins NIX-30 e amortecedor traseiro Öhlins TTX36, bem como um amortecedor de direcção Öhlins. Nesta versão, suspensões e amortecedor de direcção são controlados pela segunda geração do sistema Öhlins Smart EC 2.0. Com as condições de pista e por estar a usar pneus de chuva deixamos o sistema trabalhar de forma dinâmica sem lhe fazer qualquer modificação, já que trabalharam na perfeição.

Desmocedicci Stradale

Para conhecermos as diferenças a Ducati preparou uma apresentação no Circuito Internacional do Bahrain. Nesta altura do ano, as marcas procuram paragens mais quentes e secas para este tipo de trabalho, mas nem sempre têm sucesso com a escolhas que fazem, por muito que se esforcem. Numa região onde dizem chover apenas 3 dias por ano, devemos ter apanhado a água desses três dias concentrada num só.

Ainda assim foi possível perceber algumas das melhorias operadas na ciclística e electrónica que tornam esta moto numa desportiva um pouco mais acessível e fácil de utilizar, características fundamentais para nos darem confiança em situações de chuva. Neste trabalho de evolução, o motor foi um dos elementos que foi mantido sem alterações. Com 1103 cc de cilindrada, o motor da Panigale V4 S é capaz de produzir 214 cv de potência e um binário de 12,6 Nm. Com os bancos de cilindros a fazerem 90º de ângulo entre si, este motor consegue ter um desfasamento entre momentos de ignição, que quase une dois a dois os cilindros, conseguindo uma sonoridade muito especial, semelhante à da moto de MotoGP e que faz recordar os “velhinhos” V2.

O Desmosedici Stradale é alimentado por quatro corpos de injeção ovais (de diâmetro equivalente a 52 mm), ligados a trombetas de admissão de comprimento variável, que equipam pela primeira vez um motor Ducati. Esta solução optimiza a alimentação dos cilindros ao longo de toda a faixa de rotações. A transmissão final é composta por uma caixa de velocidades de seis velocidades com sensor dos carretos para garantir um funcionamento mais preciso do sistema de Quick Shift.

Ao longo de todo o dia fomos assumindo toadas diferentes, consoante chovia mais ou menos e a pista se encontrava mais limpa. As passagens de caixa, quer para cima como para baixo, mostraram-se sempre muito precisas e fáceis seleccionar, quer estivéssemos a conduzir de forma empenhada ou mais descontraída, fazendo a selecção de novas mudanças no topo ou nos regimes a meio do conta-rotações.

À espera do sol

Passamos um dia na esperança de uns minutos de pista seca, mas tal nunca aconteceu. Com mais ou menos “rios” as atravessar a pista, lá fomos procurando uma toada que nos fizesse sentir confortáveis. A verdade é que, à-parte de dois momentos de “aqua-planing” em curva, em que moto e pneus fizeram tudo para me manter em cima do assento assim que houve alguma aderência, todo o dia foi bastante relaxado.

Confesso que dadas as condições e alguns fogosos novos “jornalistas/ influencers” presentes esperava algumas quedas (eu próprio estive perto disso), mas a verdade é que o dia decorreu com toda a actividade normal e nem uma queda. Uma clara nota de quão fácil, neutra e eficaz esta renovada Panigale V4 está. E não é que se tenha andado devagar. É impressionante a capacidade que esta moto tem em todas as condições.

A pista do Bahrain tem uma recta da meta longa, onde neste dia, com um rio na curva que lhe dá acesso, se entrava a uma velocidade baixa. Ainda assim, enquanto o pneu traseiro esteve em bom estado, foi possível ver o velocímetro subir rapidamente até os dígitos atingirem os 299 km/h e desaparecerem a indicar mais de 300, ainda longe do ponto de travagem. Esta é uma demonstração da potência disponível, da capacidade de tracção oferecida pela suspensão traseira e excelente trabalho de gestão feito pela electrónica. Nota igualmente positiva para a capacidade de travagem, poderosa, muito progressiva e fácil de dosear, perfeita mesmo com a baixa aderência oferecida pelo piso.

 Nas asas da tempestade

Ainda nesta recta da meta sentimos bem o funcionamento das asas, mais evidente quanto mais se degradava o pneu traseiro. Com a roda a perder tracção na muita água acumulada na entrada da recta, a direcção tinha tendência a ganhar algumas oscilações, impostas pela tensão da suspensão traseira. Punho colado a fundo sem aliviar, bastava esperar que a velocidade subisse para ver a frente acalmar, sob a pressão descendente das asas, até parar de mover assim que se ultrapassavam os 200 km/h, enquanto a roda traseira lutava para manter tracção e nos continuava a empurrar para a frente com ligeiras oscilações.

Não foram as condições ideias para nos divertirmos em pista, mas o mau tempo trouxe ao de cima tudo o que de melhor esta renovada Ducati Panigale V4 S tem para oferecer. Está de facto uma moto fácil e previsível de pilotar. A sua electrónica faz milagres, não só em manter-nos seguros, mas especialmente em ajudar-nos a tirar partido das prestações disponíveis. Ficou, no entanto, a pena de não poder explorar esta nova Superbike numa utilização mais extremada.

Deixamos, no entanto, aqui a promessa de voltamos ao contacto desta moto em breve, em melhores condições meteorológicas.

Ficha Técnica

DUCATI PANIGALE V4 S
PREÇO  24.245 euros
TIPO  tetracilíndrico em V, cambota contra-rotante, refrigeração por líquido
DISTRIBUIÇÃO  sistema Desmodrómico, 4 válvulas por cilindro
DIÂMETRO X CURSO  81 x 53,5 mm
CILINDRADA  1103 cc
POTÊNCIA MÁXIMA  214 cv / 13000 rpm
BINÁRIO MÁXIMO  124 Nm / 10000 rpm
ALIMENTAÇÃO  duplo injector por cilindro, corpos de injecção elípticos com comando electrónico e comprimento variável da conduta
EMBRAIAGEM  multidisco, banho de óleo, sistema deslizante, comando hidráulico
CAIXA  6 velocidades
FINAL  por corrente
QUADRO  estrutura “Front Frame” em alumínio, motor como reforço
SUSPENSÃO DIANTEIRA  forquilha invertida Ohlins NIX30 de 43 mm, compressão e extensão de hidráulico ajustadas com o sistema Ohlins Smart EC 2.0
SUSPENSÃO TRASEIRA  amortecedor Ohlins TTX36, compressão e extensão de hidráulico ajustadas com o sistema Ohlins Smart EC 2.0. Monobraço em alumínio
TRAVÃO DIANTEIRO  2 discos de 330 mm, pinças Brembo Monobloco Stylema (M4.30) radiais de 4 pistões com Bosch Cornering ABS EVO
TRAVÃO TRASEIRO  disco de 245 mm, pinça de dois pistões, com Cornering ABS EVO
PNEU DIANTEIRO  120/70 – 17”
PNEU TRASEIRO  200/60 – 17”
ALTURA DO ASSENTO  835 mm
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS  1469 mm
CAPACIDADE DO DEPÓSITO  16 litros
PESO  174 (195 cheio) kg
GARANTIA  2 anos
IMPORTADOR  Ducati Ibérica