Teste Harley-Davidson Pan America 1250 Special

A nova big/maxi-trail da Harley-Davidson surgiu com uma estética controversa, num segmento fora dos pergaminhos da marca e, antes de chegar ao mercado, foi ampla e injustamente criticada com todo o tipo de blasfémias. Perceba porquê!

Há muito tempo que não víamos uma moto ser alvo de tanta crítica. Palavras como aborto, trambolho, sucata, patinho feio, chanato, cangalho, horrível, sem sentido e tiro no pé, eram dirigidas à Pan America cada vez que alguma informação ou foto era divulgada. A todos esses donos das injúrias, quando tiverem a oportunidade de se sentar na nova trail da Harley-Davidson, vão engolir cada uma dessas blasfémias!

A primeira maxi-trail desenvolvida sob alçada da HD tem a clara ambição de se tornar numa das principais “players” num segmento onde nomes como BMW GS 1250, Honda Africa Twin, Ducati Multistrada V4, KTM 1290 Super Adventure, entre outros, deixam qualquer “outsider” em sentido.

Este contacto com a Harley-Davidson Pan America 1250 Special encontra-se na edição Nº 1507 (Maio de 2021) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1507/

 

Será que uma marca com tantos pergaminhos como a de Milwaukee entraria num combate para perder? Claramente que não e estão equivocados, aqueles que pensam o contrário. O que traz de novo a Pan America, que seja capaz de rivalizar com os grandes nomes do segmento? Pormenores, prestações, novas soluções, polivalência, um design distinto e um preço muito competitivo.

Fora da caixa

A situação económica pela qual as empresas atravessam é grave, e a Harley não era excepção, encontrando-se numa periclitante situação. Assim, urgia dar uma resposta que fosse contundente e assertiva. Depois, foi meter mãos à obra e criar uma solução para figurar num dos segmentos de maior expressão em todo o planeta, as trails. Ousadia? Claramente que sim, mas também um enorme desafio, numa inequívoca mensagem de que “nós somos capazes de fazer o que quisermos”! E assim foi. No entanto, desenganem-se aqueles que pensam que a HD é nova nestas andanças do fora de estrada, pois há muitos anos atrás era comum ver-se a marca participar em corridas fora de estrada, subidas impossíveis ou nas pistas de flat track. E muitos lembrar-se -ão da particular Buell Ulysses, quando esta marca estava sob a alçada da HD.

Pan America é o nome do modelo que pretende deixar marca e história, uma trail disponível em duas versões, a base e a Special, esta última carregada de toda a tecnologia que é possível oferecer neste momento. E foi na Special que tivemos a oportunidade de rolar na apresentação Ibérica à imprensa, na qual pudemos explorar as belas estradas reviradas da região, bem como enfrentar um troço de alguns quilómetros fora de estrada no Enduropark, também perto de Valência. Para a Harley, este é um modelo pensado para ir até ao fim do mundo e voltar, uma ferramenta multiusos para explorar o mundo, numa vertente mais polivalente e de forma aventureira, tecnologicamente preparada para enfrentar tudo.

Além do conceito que a coloca, só por si, fora da caixa, a estética dá também forte contributo a esse intento. O que traz de novo para o segmento é a diferença, uma imagem distinta de tudo o que há, mantendo bem vincada as suas origens, a visão americana das linhas, um pouco diferente da europeia e também, o centro da discórdia. Mas asseguro-vos que ao vivo, vão ficar com uma ideia bastante diferente relativamente a este tema. Sem grandes ângulos, as linhas fluem de forma simples e harmoniosa, com o motor de dois cilindros em V a funcionar como peça central. Mas se olharmos bem para ela conseguimos ver fortes semelhanças com outros modelos da gama como a Fat Bob, através do farol dianteiro ou até com a Road Glide devido à forma da carenagem frontal.

Motor Revolution Max 1250

O dois cilindros em V Revolution Max de 1250 cc foi configurado especificamente para oferecer a potencia ideal para uma trail, daí os 150 cv com 125 Nm de binário. Deu-se prioridade à entrega de binário nas baixas rotações e ao controlo do acelerador a baixa velocidade, com vista à utilização off road. O foco nas prestações e na redução de peso deu o mote à arquitetura da moto e do motor, bem como à escolha de materiais nobres para a sua construção.

O bloco apresenta-se como a peça central e estrutural do quadro, contribuindo para reduzir o peso, ao mesmo tempo que consegue um baixo centro de gravidade. É um bloco V2 a 60°, refrigerado por líquido totalmente novo. Adota soluções como duplas árvore de cames à cabeça, que comandam quatro válvulas por cilindro. Para além disso, a distribuição é variável, com um controlador a atuar nas árvores de cames quer de admissão quer de escape, maximizando os mapas de abertura e fecho das válvulas, para benefício das prestações, consumos e emissões. O novo sistema de ajuste hidráulico das válvulas elimina a necessidade de regulação das válvulas, poupando tempo e dinheiro aos proprietários.

A pensar nas viagens de aventura por países onde os combustíveis são de pior qualidade, os engenheiros optaram por montar duas velas por cilindro, que torna a queima do combustível mais eficaz.

Qualidade ciclística

Ter um bom motor sem uma boa ciclística não funciona, por isso, foi posto grande cuidado na geometria, na escolha criteriosa do equipamento e materiais, bem como no facto de pretender ser uma moto polivalente, tão capaz a solo como a dois, sem bagagem ou carregada dela. O V2 é usado como elemento esforçado da ciclística. O quadro é composto por três elementos distintos, de aço e alumínio, aparafusados ao motor.

Já a suspensão, está a cargo de uma forquilha invertida Showa BFF de 47 mm, totalmente ajustável, com 190 mm de curso na dianteira e um amortecedor Showa BFRC com reservatório separado, também totalmente ajustável e com o mesmo curso, 190 mm atrás.

O conjunto de suspensões é precisamente igual nas duas versões, com as mesmas possibilidades de ajuste, a única diferença é que na versão base essas alterações têm que ser feitas manualmente, enquanto que na Special, são feitas de forma electrónica e oferece-nos a possibilidade de optarmos por um dos cinco modos pré-definidos: Comfort (mais permissivas para beneficiar a absorção das irregularidades do terreno); Balanced (maior equilíbrio entre conforto e prestações para utilização generalizada); Sport (mais firmes para um estilo de condução mais agressivo e desportivo); Off Road Soft (redução do amortecimento inicial para aumentar a absorção dos impactos maiores e reduzir a recuperação, ideal para os caminhos mais pedregosos) e Off Road Firm (máximo amortecimento inicial para uma condução mais desportiva).

Graças à presença de uma unidade de medição inercial (IMU) é possível termos Cornering ABS, controlo de tração, sistema de travão motor, assistência de arranque em inclinações e nível de entrega de potência, tudo isto disponível através dos cinco modos de condução pré-definidos (Rain, Road, Sport, Off Road e Off Road Plus) em conjunto com mais três modos personalizáveis (User A e User B na versão base, à qual acresce outro modo personalizável para off road na Special, o Off Road Plus). Como dissemos, a Pan America não se limita a seguir o caminho já traçado por outros modelos e por isso acrescenta qualquer coisa mais ao mercado, como por exemplo o sistema eletrónico ARH, que se refere à altura do assento adaptativa, um sistema de suspensão eletrónica que faz com que a moto passe automaticamente de uma posição baixa quando parada, para uma posição ótima quando em andamento.

Através deste sistema, até os utilizadores mais baixos conseguem chegar sem dificuldade com ambos os pés ao chão, baixando entre 25 a 50 mm, dependendo da pré-carga da mola definida. Uma vez em movimento, as características das suspensões não são afetadas. Este sistema pode ser regulado em três modos distintos: Modo Auto (determina a rapidez com que baixa a suspensão, consoante a força da travagem); Reação Rápida ou Lenta (o sistema atrasa a entrada em função até que a moto pare) e Modo Bloqueado (mantém a altura normal sem baixar). Tudo isto controlado num ecrã TFT de 6,8” tátil, com toda a informação disponível, ângulo ajustável e também personalizável.

Através da app Harley-Davidson, os utilizadores de telefones com sistema operativo iOS ou Android podem beneficiar de várias funcionalidades e passam a receber as notificações do telemóvel no ecrã. Montam ainda sistema de cruise control, altura do assento ajustável e na, S, punhos aquecidos. Ainda na versão S, contamos com proteção de cárter, barras de proteção laterais, descanso central, amortecedor de direção, pedal do travão traseiro ajustável sem ferramentas, e suspensões semi-ativas.

Estranha-se mas depois entranha-se

Não foram poucas as vezes que parámos a olhar para a Pan America… é que estar num ambiente mais aventureiro, fora de estrada, não “casa” com a marca americana… ou melhor, não casava! O estilo é realmente distinto de tudo o que há no mercado e as linhas acabam por se mostrar agradáveis à vista, fluidas e com dimensões compactas. Ficamos surpreendidos assim que arrancamos, com o equilíbrio, conforto, facilidade, qualidade e, acima de tudo, a polivalência, facilidade de utilização e prestações. Quer em asfalto como fora dele! A polivalência fica refletida nas possibilidades de ajuste para os utilizadores, que podem alterar desde a posição do guiador, manetes, altura do assento, retirar as borrachas dos pousa pés sem ferramentas, pedal do travão (na versão S), até ao para brisas.

O nosso centro de comandos são os punhos, principalmente o esquerdo e o painel TFT, através do qual temos acesso a toda a informação, incluindo os modos de funcionamento. O modo Rain oferece uma entrega de potência muito suave, com as suspensões mais permissivas. Nos restantes modos, quer as suspensões como entrega de potência, nível de intervenção do controlo de tração e do efeito travão motor também são alterados. Se por um lado conseguimos desligar por completo o controlo de tração, já o mesmo não podemos dizer do ABS, que mesmo no modo Off Road, não pode ser desligado por completo. Ainda assim, na nossa incursão fora de estrada não notámos em momento algum a necessidade de desligar por completo o ABS.

Já que falamos em “faltas” notámos também a ausência do indicador da média de consumo, a qual os homens da HD justificam considerando que não é essencial, ao contrário da autonomia que essa sim, é realmente a informação que interessa. Partimos para os primeiros quilómetros em Valência debaixo de chuva e por isso, no modo Rain, com suspensões mais moles, onde notámos um pouco mais o peso da Pan, com a frente a acusar alguma resistência a entrar em curva, mas quanto mais descontraída e suave for a nossa condução, melhor funciona.

Com as suspensões no modo Sport e a entrega de potência total, deixámos de sentir qualquer resistência na entrada de curva. É também no modo Sport que sentimos algumas (leves…) vibrações e na faixa de rotação mais elevada (o teto máximo de rotação fixa-se nas 9500). O conjunto de suspensões funciona muito bem, tanto à frente como atrás. A travagem é potente, com bom tacto, com o cornering ABS a mostrar serviço, pois mesmo ao aconchegarmos o travão dianteiro na passagem por curva, a Pan America não se desvia do caminho.

Nova história

Esta é uma moto que quebra por completo o caminho e história da HD. O motor é completamente novo, com um carácter muito forte, cheio e encorpado que pode ser domado através dos modos pré definidos. No modo sport temos os 150 cv totalmente disponíveis, com uma subida de rotação muito forte, encorpada e determinada. Basta rodar punho para a sentir sair de imediato com a frente a querer descolar do chão pois tem uma saída muito enérgica. Aos seus comandos, notámos uma postura de condução direita, natural, descontraída, com boa proteção aerodinâmica graças ao ecrã regulável manualmente em altura. Em estrada apresentou-se uma moto muito sã, assertiva, estável, segura e muito fácil de explorar, ágil, sem qualquer reação estranha, incisiva a curvar e muito estável em todos os cenários.

Outra das grandes vantagens é a grande capacidade de nos transmitir feedback. Esteticamente é muito diferente do que temos disponível e sem dúvida, uma lufada de ar fresco ao que já existe. Resulta muito bem e os traços conseguem-na identificar de imediato com a família HD. Espaçosa e confortável para ambos os passageiros. Para a primeira trail da marca, está muito bem conseguida e vai ser um incómodo para o mercado, não só pelos fortes argumentos que apresenta, mas também pelo preço competitivo com que se estreia no mercado.

Este contacto com a Harley-Davidson Pan America 1250 Special encontra-se na edição Nº 1507 (Maio de 2021) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1507/

No off road sentimos segurança, postura muito boa de pé, nota-se claramente que foi pensada tendo em conta a utilização fora de estrada, oferecendo-nos espaço e liberdade de movimentos. Não notámos a influência do peso, é ágil e divertida quanto baste. O nosso corpo está colocado no centro do conjunto e funcionamos como um todo, gozando ainda de um centro de gravidade baixo. É um modelo muito equilibrado e mesmo sem ser demasiado ágil, apresenta-se-nos como muito divertida. Já nas prestações, mesmo quando rodamos em sexta velocidade, a rotações muito baixas, não notamos o motor a bater, pois recupera rapidamente o fôlego assim que abrimos gás.

Porém, nem tudo são rosas e notámos, mesmo com o frio e chuva que apanhámos, aquecer a perna direita, onde passam os coletores.

Outra solução interessante e particular é o facto de conseguirmos desmontar a corrente sem termos que desmontar a roda, pois basta retirar o pousa-pés esquerdo para efetuar esse procedimento.

A nova Harley-Davidson Pan America já está disponível no mercado nacional, pelo preço de 16.400€ a versão base e 18.750€ a Special.

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