Contacto Nika 250

Um grupo de estudantes de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro criou um protótipo para participar no concurso Motostudent. Assim nasceu a Nika 250.

Texto Alberto Pires • Fotos Rogério Sarzedo • Colaboração André Sousa•

Da teoria à prática!

O projeto surgiu em 2015 com um grupo de colegas de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, que previamente trabalharam na organização do Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Mecânica. Após o conhecimento da existência da competição Motostudent, decidiram criar uma equipa para representar a Universidade nesse mesmo evento.

O protótipo foi fortemente inspirado na Beon Prémoto3, um modelo bastante utilizado por equipas no CNV e que dá provas todos os anos da sua competitividade. Apesar da configuração ser diferente, as medidas gerais foram inspiradas nesse modelo. Com a inscrição na Motostudent receberam logo um kit para competir, composto por um motor KTM RC250R, pinças JJuan, jantes OZ Racing e pneus Dunlop, de obrigatória utilização.

As equipas acabam por se focar sempre na parte estrutural do protótipo. Sempre existiu o dilema entre utilizar um quadro em treliça de aço ou um berço de alumínio e nas duas primeiras participações inclinaram-se sempre para o uso de treliça, não só pela maior confiança na rigidez do conjunto, como também pela maior facilidade de construção. Já na escora optaram por uma Pro-link Uni-T inspirada no sistema da Honda, e na segunda vez por uma ligação tradicional direta entre escora e quadro, em ambos os casos em alumínio.

Ainda antes de seguirem para Espanha, tinham planeado participar em algumas provas com o protótipo para o testar antes da fase final do Motostudent. Infelizmente a sua construção atrasou-se e só o finalizaram dias antes de fazerem a viagem, o que impossibilitou os testes prévios. Ainda assim, já no Motorland, tiveram a possibilidade nos primeiros dias de andar no kartódromo do circuito. Mas a possibilidade de entrarem no CNV antes de ir a Espanha e não o terem conseguido fazer ainda lhes está “atravessada”.

A equipa está associada ao Clube Motorizado do Troço e propuseram ao André Sousa correr com a moto, que imediatamente aceitou, mesmo sabendo que seria apenas 2 semanas depois de regressar da volta à América do Sul numa 125cc. Os testes a que sujeitaram o protótipo foram maioritariamente estruturais. A moto era colocada dentro de uma máquina com duas prensas que iram exercer uma força entre a duas rodas de 300kg e outra por cima do assento de 250kg, simultaneamente.

Depois as verificações normais visíveis em qualquer prova dos campeonatos de velocidade: teste de ruído, verificação visual, etc. Nem tudo foram facilidades. O André rapidamente percebeu que a traseira estava demasiado alta porque o amortecedor estava colocado numa posição que a levantava imenso, e com isso a roda traseira perdia aderência. Tentou-se consertar, com umas soldas, ficou numa posição mais horizontal, mas mesmo na posição mais baixa ainda ficou demasiado alta, com muito peso na frente. Com isto os patins ficaram agora demasiado baixos e as botas tocavam no asfalto com facilidade, limitando a inclinação e velocidade em curva.

O motor estava original, a caixa também, e estava boa para a pista, mas com a ignição a cortar faziam apenas 157km/h, cerca de 40 km/h a menos que as melhores.  Apesar de tudo isto o piloto achou que a moto estava bem concebida pois conseguiam recuperar na zona sinuosa o que perdiam nas retas. Com ligeiras melhorias na aerodinâmica e menos peso a satisfação teria sido ainda maior já que o ponto alto foram mesmo os resultados obtidos. Conseguiram terminar a corrida no 14° lugar das 23 equipas que a realizaram, o que já foi um atestado de qualidade pois no total eram 45 as equipas participantes na competição, sendo que 22 ficaram de fora por não obterem a aprovação da organização para participar na corrida.

Uma aventura na universidade!

Às 3 da manhã do dia 3 de outubro, uma equipa de nove alunos da Universidade de Aveiro liderada por Rodrigo Franco, com elementos das mais variadíssimas áreas de especialização – mecânica, gestão industrial, design, economia, e eletrotécnica – carregaram o seu protótipo, as suas malas e as suas ferramentas para as carrinhas de viagem, tendo como destino a fase final da competição MotoStudent na província de Aragão, em Espanha.

Durante os 5 dias que se seguiram, a equipa Motochanics UA – Fundação do Desporto – teve que por à prova todo o trabalho de projecto, otimização, construção, gestão e marketing realizado nos últimos dois anos, que culminaram num protótipo de um motociclo de competição, enquadrado na categoria de Moto3.

A Universidade disponibilizou-lhes um espaço para poderem trabalhar, mas todos os meios ou foram comprados ou angariados por eles. Significa isto que todas as ferramentas, quer para desenvolvimento (software) como para a construção do protótipo (ferramentas de oficina) tiveram que ser adquiridos pela equipa. O projeto foi bastante enriquecedor para os estudantes pois obrigou-os a enfrentar problemas em várias vertentes, desde a Engenharia, pois estamos a falar de uma moto, como também nas áreas Financeira, Logística, Gestão e Relações Empresariais.

Profissionalmente, abriu-lhes bastantes portas para empresas que, de outra forma, seria mais difícil conseguir mostrar o seu trabalho. Juntamente com a Motochanics estiveram mais de 40 equipas na categoria de Petrol, provenientes de variadíssimos países, tais como Espanha, Itália, Alemanha, Suíça, Croácia, India, Grécia, Canadá e Brasil, com os quais partilharam a Box. Nos 10 anos em que a competição existe, a Motochanics foi a primeira equipa portuguesa a terminar a prova, mas mais prestigioso ainda é o facto de terem conseguido com que Portugal fosse o 4º melhor país da corrida na categoria de Petrol, apenas atrás de Itália, Espanha e Grécia, sendo os últimos vencedores de 2 de 4 prémios desta categoria.

Tal como em qualquer projeto universitário, no início tiveram que lutar contra a descrença por parte dos docentes e serviços administrativos da Universidade. Felizmente conseguiram dar provas ao longo destes anos que este projeto podia dar frutos no futuro, de forma que a atenção para os ouvir e os apoios concedidos começaram a surgir cada vez com mais regularidade, podendo mesmo dizer-se que já são reconhecidos praticamente por toda a universidade. Parabéns!