Crónica Ana Lúcia Silva #05

Ana Lúcia Silva, mulher de um apaixonado por motos

Contornar os Imprevistos

Há lá coisa melhor na vida de um apaixonado por motos do que fazer um belo passeio/viagem de moto? Sozinho ou acompanhado, o que interessa é estar a sentir a vibração da moto e a adrenalina de a conduzir. E é para avançar, mesmo que surjam alguns imprevistos, que façam com que o plano inicial seja “ligeiramente” alterado. A questão que aqui se coloca é: com que facilidade o apaixonado por motos cá de casa contorna os imprevistos? Resposta: com muita facilidade!

A determinada altura, eu e o João planeámos uma viagem de moto, a dois, pelo centro de Portugal. O objetivo era aproveitar o facto de os miúdos estarem de férias com os avós, tirar uns dias e fazermo-nos à estrada. O plano era sair numa quarta-feira, ir sem nada marcado, acampar, desfrutar e estar de regresso no Domingo.

Acontece que duas semanas antes da viagem, por motivos profissionais, digo ao João que não vou conseguir tirar os dias de férias e, como tal, não conseguia fazer a viagem. Resposta: “Ok, tudo bem, sem problema! Eu vou sozinho!”. Pumba, toma lá e embrulha! Assim, a sangue frio! Sem pensar duas vezes! Nem pestanejou! Pelo menos podia ter feito uma pequena encenação, ter ficado triste com a notícia e passados uns dias dizer que, se calhar, ia na mesma. Mas não… Foi logo! Não havia tempo a perder, até porque tudo aquilo que tinha encomendado para a viagem começava a chegar a casa…

Confesso que fiquei meia atordoada com a resposta. Fazer a viagem sozinho? Como assim? Então íamos os dois, eu não posso ir e ele vai na mesma? Mas será que sou só eu que não acho isto normal? Não me parecia nada bem. Não lhe disse para não ir, mas que fiquei com muita raiva, fiquei!
E chegavam tendas em formato mini, sacos-cama compactos, almofadas que cabiam num bolso, e sei lá mais o quê de material que só me apetecia mandar fora. E ele, muito entusiasmado com toda a parafernália que por ali se acumulava, consultava mapas, delineava os caminhos, planeava os dias… que nervos! Quase que lhe roguei uma praga! Mas ainda bem que não o fiz… a Mãe Natureza tratou disso por mim!

No fim de semana antes da viagem fomos visitar os miúdos. Os meus sogros têm um terreno onde cultivam legumes, árvores de fruto e, passámos por lá, para trazer alguma fruta para casa. O João estava de calções. A determinada altura sentiu uma pequena picada na parte de baixo da perna, mas não ligou. Regressámos a casa e, à noite, quando o João olha para a perna, nota que está um pouco vermelha. Não deu grande importância, pôs creme e deitou-se. No dia seguinte, quando acorda, a perna não só está vermelha, como está quente, inchada e a doer. Ficou logo à rasca e a pensar que dali a dois dias ia fazer uma viagem de muitos kms e não o podia fazer com a perna naquele estado. Marcou uma consulta para esse mesmo dia e o médico disse-lhe que ele não ia a lado nenhum com a perna naquele estado (he! he! he!), pois estava a fazer uma reação alérgica à picada de um inseto (provavelmente de uma aranha). Tinha de fazer antibiótico e anti-inflamatório e nem pensar que dali a dois dias estava em condições para avançar com a viagem. O médico quis vê-lo passados dois dias, para avaliar a situação, e acabou por sugerir que a viagem ficasse para outra altura, pois mesmo que fosse, ia ter algumas limitações. E o João assim fez. Muito contrariado com a vida, lá se resignou e cancelou a viagem.

O que posso dizer sobre isto? Bem, para além de caricata, esta situação serviu para mostrar ao João que, se calhar, para a próxima é bom que pense duas vezes antes de contornar com tanta facilidade os imprevistos… nunca se sabe o que a Mãe Natureza anda a tramar!

Até à próxima e Boas Voltas!