Crónica João Pais #12

João Pais, Cronista

Antevisão de coisa nenhuma

Pode o título parecer-vos estranho mas é apenas justo e simultaneamente a confissão da inaptidão do escriba para se alcandorar a tão arriscada tarefa como seja a de prever algo de relevante no MotoGP que está a chegar.
Assim, aquilo de que irão tratar os parágrafos seguintes não mais é do que conversa de café, no caso um monólogo, como quem pensa alto enquanto imagina o que para aí vem.

Comecemos então pelo que interessa, salvo seja, afinal quem sou eu para decidir importâncias e prioridades, mas ainda assim vamos lá ao palavreado iniciando a dissertação em torno daquilo que será esta época de 2020 para o nosso Falcão.
E para este leigo, que como milhares de leigos opina em função de um misto entre a realidade e a emoção, a época será de consolidação, cravando uma estaca mais no pilar sólido que vem construindo desde que há uns anos chegou a este mundo com que milhões sonham, a que apenas algumas centenas chegam, onde poucas dezenas sobrevivem e deixam assunto e poucos, mas poucos mesmo, cravam seu logótipo.

Pois é isso mesmo, este ano, às asas já desenhadas de um Falcão certeiro cremos que serão acrescentadas as garras inerentes a todo e qualquer inato predador, que sabe fazer da paciência, da análise do momento certo, aliados à sua estratégia de encurralar a presa e dominá-la, o momento ideal para um voo picado e uma subida ao altar dos eleitos, ao pódio que venera os vencedores.

Leio muito ultimamente, nos mais diversos canais de informação disponíveis, nos mais variados canais de debate, leio certezas e considerações acerca do Miguel, como se de facto o mais informado, o mais ciente, o mais convicto opinante pudesse saber o que efetiva e realmente vai na alma do 88 mais admirado em Portugal.
Não sabe.

Lamentavelmente, para ele opinante, e felizmente para todos nós, por mais conversa de cátedra e certeza de tribuno que escutemos a encartados frequentadores deste espaço, seria redutor imaginar que Miguel Oliveira não soubesse as linhas com se cose e consequentemente andasse ao sabor da maré e de palpites.
Afirmar que este ano é decisivo parece-me meio La Palissiano, pois a este nível de competição quase todos o são, decisivos.

Certo e sabido é que temos de volta o nosso favorito, quase apto após complicada cirurgia, consequência de complicada manobra que não esquecemos e que de repente foi pequeno grão de areia em engrenagem que se retificou e de novo oleou.
O Falcão está de volta e vai atacar o TOP 10, depois o TOP9, o 8, o 7, e por aí fora até onde lhe permitam a arte e o engenho e outras nuances e incidências de um corrida destas.

Apostamos?
E que mais teremos então?
Pelos vistos Quartararo não só ganhou o gosto pela P1 em certas situações, treinos e testes, como parece apostado em levar o gosto pela coisa até ao fim de vinte e tal voltas de corrida. Sabe que terá em Marc Marquez um obstáculo do tamanho de um muro quase intransponível mas, senhores e senhoras, MM parece ter ali uma coisinha para resolver, e essa dá pelo nome de segunda cirurgia, o que poderá levar a que no início da peça, quando se erguer o pano e entrarem os artistas, seja o grande momento para que Fabio se atire àquele degrau mais alto do pódio.
Terá Viñales, Rins, Valentino, Dovi, Morbidelli, Petrucci, Miller e outros a cobiçarem semelhante pedaço, terá então o ex-rookie francês de meter a faca nos dentes e seguir em busca.

Época fora cada qual descobrirá e batalhará com seus moinhos de vento, levando a bom porto suas intenções e ao patrão dando fé do caso.
E não podendo por aqui abordar caso a caso, certo é que enorme curiosidade nos leva a assentar o olhar num Valentino Rossi, o GOAT sem Yamaha oficial para 2021, num Alex Marquez que tantos acusam de ter conseguido a cadeirinha japonesa por via familiar e que terá de provar que é menino para o monstrengo quando tantos outros já o tentaram e esbarraram numa parede incontornável, veremos o que fazem Brad, a quem caiu na sopa uma moto de fábrica e Iker, que saltou do meio da 2ª divisão para os palcos cheios de luz.
Que farão Mir, com uma Suzuki cada vez mais moto, Morbidelli, que olhando para o lado vê o parceiro de cores sacar coelhos da cartola uns atrás dos outros, Bagnaia, que chegou ao circo bufando chamas e que as viu extinguirem-se leves levezinhas.

Petrucci, Miller e Dovi, a quem o despertador diz estar na hora de estarem na frente, mas para quem as curvas parecem tornar-se mais largas que aos outros na maior parte das vezes.
E Zarco? Esse mesmo que era para ser o ‘enfant terrible’ mas que de ‘terrible ‘apenas lhe vimos uma trajetória desastrada que atirou Miguel fora e uma trajetória de malas feitas que o levaram a saltimbanco quase sem destino… Não fosse uma conjugação salvadora ali para os lados da Avintia com a bênção e apadrinhamento da Ducati, não fosse isso e ai, ai!

O que irá fazer Zarco?
E Cal? Manterá ele o ‘ agora é que vai ser’ para depois ponderar se vai mesmo, se valerá o esforço a pena, se isto e mais aquilo, logo este Cal capaz de ameaçar trazer o melhor e apresentar depois o meio meio… ?, o que trará Nakagami, também ele saído da marquesa do cirurgião que trata ombros? Onde chegará Pol, há tanto tempo dando cartas na box da KTM, será dele a ida ao pódio com a laranja este ano? Levará ele Miguel atrás e então quem sabe… Será do Falcão o poiso final?

Pois é meus senhores, como vêem, como bem concluem, tudo o acima descrito não passa de conjecturas em torno de nada de especial, trazidas por alguém que há meia dúzia de anos por aqui nem punha os pés, ou seja, por gente que está a chegar e a entusiasmar-se, por gente que convosco aprende esta paixão.
É de ficar por cá, não acham??