Crónica João Pais #24

João Pais, Cronista

É o que há!

Marc Marquez, Bagnaia, Petrucci, Savadori, Miguel Oliveira, Alex Marquez, Rabat, Rins, Quartararo, Viñales e Lecuona.
Somados dão onze.
Meia grelha, não é mau.
A emoção é no cadeirão, no caso deles, no sofá para nós, espectadores.
Tem locução animada, ali por entre o ‘caiu mas já se levantou’ e o ‘isto está renhido‘, buscando os trejeitos de cada um, ora rindo ora mais sérios, protestando mas sorridentes, a salvo de arranhadelas no fato ou coisa pior, a queda não arrasta comissários de pista nem faz disparar os airbag.
Rossi não esteve, não é a praia dele, confessa.
Iannone também não, seria da suspensão?
Dele, não da moto…
E nós estivemos?
Estivemos sim, torcendo pelo nosso Falcão, mas sem aquele condimento essencial, fundamental, fulcral, primordial, indispensável e outras coisas que tais.
Faltou a adrenalina, de temer uma queda, um atraso na tabela, faltou aquele voo picado do nosso menino quando entra em mode atack, faltou o som, o cheiro, o caleidoscópio de sensações.
Rossi não esteve.
Estará ainda este ano? E se, e se, e se?
Faz um ano, mais coisa menos coisa, Jerez fervilhava de gente do mundo inteiro, no caminho de ida e no do regresso era um fartote de portugas por ali fora na estrada, garbosos em suas lindíssimas motos, como se que lhes oferecendo desfile de rebelde juventude, animando-as com a visão de tantas e tantas como elas, lindas de morrer, isso é que é, lindas de morrer é o que elas são.
E agora?
De todo o lado chegam negas, cancelamentos, a Dorna a braços com o mais estranho puzzle da sua vida, patrocinadores, pilotos, equipas, espectadores, saúde pública, calamidade financeira, televisões, contratos, autódromos a querer e a não poder, encaixar todas estas peças é tarefa hercúlea.
E não há Hércules no pelotão.
E Rossi, haverá para o ano?
Dor de cabeça, edição dois, a mancha amarela traz muita gente de todo o lado, de todos os cantos do mundo, e isso significa toneladas de dinheiro gasto em rios infinitos de merchandising, de bilhetes, de alimento aos patrocinadores.
Este era o ano em que Rossi iria decidir, perceber se veria Marc mais ao perto ou lá longe, e quem diz Marc diz Fabio, Maverick, Andrea, Rins, todos eles a cobiçar a cadeira de Rei do Pedaço e das Velocidades Bem Curvadas.
Aqui na terra entretanto vamos sonhando em tê-los já em Portimão, sonho lindo, coisa que vai acontecer … mas este ano, seria coisa de tino?
Portimão vazio?
Carregadinho de distanciamento social?
Fazem-se contas ao mínimo que terá de ser corrido para que se aclame rei digno, por entre regulamentos e a realidade logo se vê o que irá dar, a verdade, verdadinha é que, confinados e mascarados já estamos por tudo, corram sozinhos, um de cada vez, de pijama, no quintal, corram em avenidas ou becos sem saída mas corram lá por favor, que já nem nos vamos lembrando de como é bom torcer pelo nosso de Almada, suster o fôlego com os saves impossíveis de um pequeno catalão, já é ténue o amarelo da mancha que voa nas bancadas, até perdoamos a Zarco e o queremos de volta, Deus Nosso Senhor por onde andam aquelas horas por nós cronometradas, que vão dos treinos à warm-up e depois às corridas?… E nós, sozinhos ou acompanhados, em petiscos ou baldes de café consoante os fusos, meu Deus olha lá por isto, nós já falamos sozinhos, já aceleramos na torradeira e a torrada salta ainda fria, tu já viste em que estado lastimoso nos encontramos?
Passeamos o cão e ultrapassamos o vizinho por dentro, estamos na fila para o supermercado e aproveitamos para trocar de pneus, chegamos a casa e sentamo-nos na cadeira da sala a explicar ao nosso filho por onde escorrega o cão a curvar e como vibra o carrinho das compras se lhe acrescentamos uma saca de batatas com 3 kgs, e esperamos que ele saiba afinar tudo e tudo colocar nos ‘trinques’, ai Jesus que já falamos brasileiro, logo nós que nunca fomos grande espingarda em Línguas estrangeiras, ai ai!
Queres a verdade, ó Deus dos vírus? E u também, Ó das corridas?
A malta está que nem pode, isto mais uma volta assim e saímos de frente na curva ou saltamos da janela, não há box que nos salve.
E perante isto tudo, vemos o quê?

A Dorna aflita.

E o Rossi ainda sem saber.