Dakar: maratona complicada

A oitava etapa do Dakar 2021 estava destinada a ser uma das mais complicadas, não só devido ao facto de ser uma etapa maratona na qual os pilotos não podem ser assistidos mas também devido ao facto do próprio percurso ser um desafio para pilotos e máquinas.

Foram diversos os pilotos que chegaram ao início da etapa 8 com problemas nos pneus das suas motos. Um deles era Toby Price que foi obrigado a utilizar algumas técnicas típicas de um McGyver, para solucionar um enorme rasgo na tela do seu pneu traseiro.

Por incrível que pareça não só a solução encontrada resultou como o pneu aguentou mais de 700 kms da etapa de hoje num ritmo diabólico que levaria Price até à segunda posição na etapa a pouco mais de 1s de Ignacio Cornejo da Honda que ganhava hoje a sua primeira etapa no Dakar 2021 e a sexta para a Honda.

Toby Price foi o herói do dia chegando ao final da etapa maratona com um pneu preso por “arames” (Foto Frederic Le Floc’h / DPPI

Se a façanha de Price é digna de ficar na história também a de outro australiano, Daniel Sanders sofria uma queda no dia de ontem tendo que levar pontos na boca. Na queda Sanders danificava a roda da frente da sua moto mas mesmo assim Sanders conseguiu levar a sua KTM até ao final do dia de hoje mas num ritmo mais contido.

Sam Sunderland continua a fazer uma prova isenta de erros e hoje cimentou ainda mais o terceiro lugar na geral do Dakar. Os três primeiros estão separados por apenas 5m57s numa altura em que ainda está por disputar 4 etapas e em que tudo pode mudar.

Sam Sunderland está agora mais perto dos dois primeiros sendo, neste momento, sem dúvida o mais estratega dos pilotos em prova (Foto Eric Vargiolu / DPPI)

O dia não correu nada bem para Xavier de Soultrait que foi obrigado a abandonar o Dakar depois de ter uma sofrido ao km 270 que obrigou à evacuação do piloto francês para o hospital em Tabouk. Dia negro também para Franco Caimi, o piloto chileno da Yamaha era obrigado a desistir com um problema mecânico na sua Yamaha WR 450 Rally.

Sebastian Buhler geriu de forma brilhante o desgaste dos pneus e entrou nos dez primeiros do dia 8 (Foto Horacio Cabilla)

Para os portuguese também foi um dia extremamente complicado, nomeadamente para Joaquim Rodrigues e Joaquim Gonçalves.

“J-Rod” embatia numa pedra escondida na areia, mas ao evitar sofrer uma queda, sofria uma luxação no ombro que o obrigou a refrear o andamento para chegar ao final na 25ª posição já com algum atraso para os seus adversários.

Dia extremamente complicado para Rui Gonçalves que sofria uma queda ao km 190 que deixou a sua moto em muito mau estado. Obrigado a reparar a Sherco, Gonçalves cedia no final do dia 50m para os líderes para vir a terminar na 40ª posição, tendo que fazer quase 300 km de percurso com uma moto muito maltratada.

Salvou-se Sebastian Bühler, que aproveitou para atacar no dia de hoje com o luso-germânico a subir até ao 10º posto na classificativa a apenas 7m58s do líder num dia com correu de feição para o homem da Hero Motorsports.

Joaquim Rodrigues sofreu para chegar ao fim depois do embate com a roda da frente da sua moto numa pedra lhe ter provocado uma luxação no ombro. (Foto Eric Vargiolu / DPP)I

José Ignacio Cornejo (CHI) Honda: “Hoje comecei a etapa em segundo lugar atrás do meu colega de equipa e amigo Ricky e foi difícil alcançá-lo. A ideia não era ganhar, mas foi muito difícil controlar os outros adversários porque estavam muito longe de nós. Agora, tenho uma certa vantagem sobre o segundo classificado na geral, mas os tempos ainda estão muito apertados, por isso temos que continuar a fazer a prova com a mesma concentração. Tentaremos terminar bem o trabalho que estamos a fazer e, amanhã, tentaremos abrir da forma mais limpa que pudermos e perder o mínimo de tempo possível para os nossos adversários.”

Toby Price (AUS) KTM: “Estou feliz por estar hoje no Top 10 e por ter concluído mais uma etapa. Tive que ter muito cuidado ontem para não danificar a moto de forma alguma, pois não tivemos assistência na maratona. Portanto, como a minha moto estava em boas condições hoje, consegui rodar sem tantas restrições e num bom ritmo. ”

Rui Gonçalves teve um dia para esquecer depois de ter sofrido uma queda forte no km 190 que lhe danificou a moto. (Foto Florent Gooden / DPPI)

Joaquim Rodrigues (POR) Hero: “As coisas hoje não correram muito bem esta manhã quando bati numa pedra e, embora não tenha sofrido nenhuma queda, magoei-me no braço e no ombro ao fazer uma curva. A partir daí, sofri muito, pois tive que desacelerar um pouco e de alguma forma consegui trazer a minha moto até ao bivouac sem grandes problemas. Estou contente por estar de volta ao acampamento, reunido com a minha equipa, mas agora preciso fazer um”chekup” ao ombro para garantir que está tudo bem para amanhã ”.

Sebastian Buhler (GER) Hero: “Foram dias realmente difíceis para mim. Ontem tive problemas com meu pneu e claro, não sendo possível trocá-lo, tive que o arranjar da melhor maneira que pude para aguentar a etapa de hoje. Acho que fiz uma boa etapa, tentei ser o mais suave possível – não acelerando muito para o caso do problema piorar Como é normal sabe bem voltar ao bivouac e reunir-me de novo com todos os elementos da minha equipa.”

Rui Gonçalves (POR) Sherco: “Dia complicado hoje, tudo estava a correr bem até ao km 190 onde tive uma queda, ainda assim para além das dificuldades em guiar, consegui fazer os restantes 185km de especial e mais 108km da ligação mas com a moto em mau estado. Estou bastante dorido agora mas, amanhã, tentarei arrancar de novo.”