Dakar: o ano da mudança

Depois de uma edição 2020 conturbada e marcada pelo desaparecimento de Paulo Gonçalves, 2021 marca a entrada numa nova era em que a estratégia e a navegação passam a ser as palavras de ordem nesta prova. Para muitos de nós será difícil esquecer o Dakar 2020 e provavelmente todo o ano que se seguiu. A ASO garante que a edição 2021 irá ter um percurso completamente novo com um traçado inédito o que por si só garante um foco de interesse adicional naquela que é a prova rainha do Off Road.

A imposição de mudanças nos regulamentos do Campeonato do Mundo de Cross Country e Rallies por parte da Fim em conjugação com os diversos diretores de prova, diretores de equipa e pilotos levou a que este regulamento fosse revisto com o objetivo de melhorar a segurança numa prova onde velocidade vinha suplantando a técnica e as capacidades de navegação dos pilotos na última década, principalmente desde que o Dakar se deslocou para a América do Sul.

O regresso ao deserto, mas agora no Médio Oriente, provou que conceber uma prova com um registo demasiado automobilístico não era o passo certo.

Assim nas principais novidades em termos de regulamentação o foco foi dado em diversas áreas sedo uma delas a navegação. Neste capítulo a principal alteração prende-se com o facto do “road book” passar a ser entregue apenas 20 minutos antes do início de todas as etapas, ao contrário de 2020 onde isso só aconteceu em metade das etapas. Esta alteração impede que os pilotos façam as suas habituais notas no “road book” assinalando os perigos de forma diferenciada ou mudanças no percurso, mas principalmente impede que os famosos “map man” possam fornecer notas adicionais que foram utilizadas por muitos pilotos ganhando tempo aos seus rivais com menos capacidades em meios. Outro facto prende-se com a necessidade de todos os pilotos, ao verem-se impedidos de marcarem os seus “road book” terem obrigatoriamente que reduzir a velocidade para que dessa forma possam seguir as notas sem se perderem.

A própria ASO garantiu que iria incluir mais “waypoints” nos “roadbook”, uma forma segura de garantir que os pilotos, mesmo os mais rápidos terão obrigatoriamente de reduzir a sua velocidade. Estão também previstos avisos sonoros na aproximação de determinadas zonas e também o aumento de zonas de velocidade reduzida cujo não cumprimento implica a imposição de fortes penalizações graduadas conforme a gravidade do excesso de velocidade recolhido pelo sistema de navegação.

Se as equipas de fábrica com recursos ilimitados nunca iriam ter problemas em fornecer pneus aos seus pilotos, em 2021 será imposta uma limitação de utilização de pneus traseiros num total de 6 pneus por piloto. Os pneus serão nominais todos eles marcados com um selo ou autocolante que identifica o número do pneu e o piloto em causa. Esta alteração irá obrigatoriamente implicar que cada piloto tenha que fazer uma gestão extremamente cuidadosa dos seus pneus considerando que cada pneu terá que ser utilizado em pelo menos dois dias de prova, e que haverá que fazer a gestão dos mesmos na etapa Super Maratona onde não poderá haver qualquer intervenção mecânica nas motos para além de pequenos ajustes.

É claro que sendo os pneus marcados e destinados a um piloto específico não poderão existir trocas de rodas entre pilotos das mesmas equipas ou mesmo outros pilotos que tenham motos iguais. Este será sem dúvida um dos fatores que poderá levar a mudanças drásticas em toda a estratégia do Dakar 2021 e implicar mudanças na forma como pilotos e equipas gerem os 12 dias de corrida.

Sempre com o tema da segurança em mente o novo regulamento do Dakar obriga a utilização de um novo acessório o Airbag, muito em voga nas provas do Campeonato do Mundo de Velocidade mas praticamente desconhecido nas provas de Off Road e que implicou que muitas marca tivessem que estudar a forma mais eficaz de estudar este acessório adaptado à já grande complexidade do vestuário de proteção exigido a um piloto de TT.

O Airbag poderá ser um importante aliado na prevenção de lesões na zona do torso em caso de queda, principalmente a velocidades elevadas.

Passam também a ser impostas limitações às trocas de pistão nas motos. Se anteriormente essas trocas podiam ser feitas sem qualquer tipo de limitação, agora a partir do 2º pistão os pilotos passam a receber uma penalização de 1º minutos, algo que só acontecia na troca de motor ou em intervenções que obrigassem à desmontagem dos cárteres.

Ainda com o objetivo de obrigar todos os pilotos a fazerem uma gestão cuidadosa das suas motos, as zonas de reabastecimento serão exclusivamente dedicadas ao abastecimento de combustível e para descanso, sendo proibido efetuar qualquer tipo de intervenção mecânica nesse local.

Os números do Dakar 2021:

554 participantes

321 veículos no total (129 motos e quads)

144 Rookies (primeira vez no Dakar)

35 Pilotos moto sem assistência

49 Nacionalidades

16 concorrentes femininas

Quilometragem total do percurso: 7,646 km

Especiais cronometradas: 4,767 km

Especial mais longa: 511 km Al-Ula – Yanbu

Etapa mais longa: 813 kms Wadi Al Dawasir – Riyadh

 

As etapas do Dakar 2021

Etapa Data  Início > Fim Total Especial
Prólogo Sábado, 2 Janeiro, 2021 Jeddah > Jeddah 11 km 11 km
1 Domingo, 3 Janeiro, 2021 Jeddah > Bisha 622 km 277 km
2 2ª Feira, 4 Janeiro, 2021 Bisha > Wadi Al Dawasir 685 km 457 km
3 3ª Feira, 5 Janeiro, 2021 Wadi Al Dawasir > Wadi Al Dawasir 630 km 403 km
4 4ª Feira, 6 Janeiro, 2021 Wadi Al Dawasir > Riyadh 813 km 337 km
5 5ª Feira, 7 Janeiro, 2021 Riyadh > Buraydah 625 km 419 km
6 6ª Feira, 8 Janeiro, 2021 Buraydah > Ha’il 655 km 485 km
Dia de descanso Sábado, 9 Janeiro , 2021 Ha’il
7 Domingo, 10Janeiro, 2021 Ha’il > Sakaka 737 km 471 km
8 2ª Feira, 11 Janeiro, 2021 Sakaka > Neom 709 km 375 km
9 3ª Feira, 12 Janeiro, 2021 Neom > Neom 579 km 465 km
10 4ª Feira, 13 Janeiro, 2021 Neom > Al-Ula 583 km 342 km
11 5ª Feira, 14 Janeiro, 2021 Al-Ula > Yanbu 557 km 511 km
12 6ª feira, 15 Janeiro, 2021 Yanbu > Jeddah 452 km 225 km

Total             4,767 km  7,646 km