Diário da viagem Austrália 360° por Miguel Rodrigues

O motociclista aventureiro português Miguel Rodrigues está a percorrer as magníficas paisagens da Austrália numa viagem que a MotoJornal acompanha neste diário do Austrália 360°.

Austrália

As viagens de moto de longa duração são momentos de verdadeira introspeção para o motociclista aventureiro que se “faz à estrada”. E isso torna-se ainda mais verdadeiro no caso de Miguel Rodrigues, que aos 57 anos e aos comandos da sua Honda Africa Twin, com a qual já percorreu mais de 150.000 km, decidiu explorar as magníficas paisagens da Austrália para celebrar os 500 anos da chegada de Cristóvão de Mendonça ao continente do Hemisfério Sul.

Nesta viagem Austrália 360°, que teve início no passado mês de abril, o motociclista luso descreve os seus dias em cima da sua Africa Twin em formato de diário de bordo, de forma a salientar que esta é uma aventura solitária, tendo apenas a sua consciência como companhia.

Aqui ficam os primeiros dias de Miguel Rodrigues na viagem Austrália 360°

Austrália14 de abril, 5ª feira

Miguel, chegaste às 16:00 (9:00 em Portugal) e gravas de imediato para não esqueceres as notas para o teu “diário de estrada fora”: feito mais de metade percurso até Sidney, onde chegarás na 6ª, pela hora do almoço.

Ocorrência com impacto: vários cangurus mortos ao longo da estrada, porte superior ao de um cão grande. Também alguns coalas. Ao que te disse um motard num posto de abastecimento, os animais procuram a estrada no escuro da noite e são colhidos. Encaixas com estranheza: animais que tinhas como exóticos são assim carcaças perdidas na estrada, a par de destroços de carros, pneus de camiões, etc. Isto numa estrada com elevado tráfego ainda que não excessivo.

Um aspeto que te saltou à vista, Miguel: a dimensão dos camiões e mesmo dos carros particulares. Tudo parece beber da escala de um país que é um continente. E tudo se pauta por navegação em autonomia, os jipes de grande porte, caravanas preparadas para qualquer tipo de terreno, atrelados com dois pneus sobresselentes, tudo a sublinhar a opção todo-o-terreno desta gente de cá que parece andar com a casa às costas.

Os camiões, Miguel, os camiões são de tirar o fôlego: cada atrelado do tamanho de um só camião grande e há-os com três atrelados, os chamados “comboios”…

Austrália17 de abril, domingo de Páscoa

Miguel, estás a passar uma Páscoa fora do comum. Não apenas por estares fora da família, mas por estares dentro de uma outra que te convida pare este piquenique juntamente com mais duas famílias de portugueses. Curiosamente, são portugueses de várias diásporas, pois já estiveram na África do Sul de onde vieram em busca de melhores condições de vida.

E como conseguem ser amáveis e acolhedores, sendo tão genuínos! Não podias ter melhor integração, numa altura em que a família mais vem à memória e que as notícias da minha “metrópole” te deixam mais melancólico, Miguel…

Amanhã vais partir em direção a Norte, a Brisbane, também esse troço de viagem dividido por dois dias, numa estrada que antecipas ser muito bonita porque é sempre a bordejar a costa. Mas não esquecerás nunca esta cidade de Sidney: grandiosa, muito bonita e (há que dizê-lo) também muito cara.

Impressiona pelo nível de vida e pelo custo que este tem. Sidney justifica qualquer desvio (ainda que de muitas horas!…) para ser descoberta.

Austrália18 de abril, 2ª feira

Não podias ter tido melhor despedida de Sidney, Miguel!  Quase acordado para beber uma garrafa de champanhe na hora de te fazeres novamente à estrada. Um momento de grande proximidade que te tocou e que foi a nota constante no acompanhamento que te deram. Até para saber, já depois, se tinhas comprado o aparelho. Ah! Não te esqueças de contar aquela situação do espanta-cangurus!

Do conselho que o Carlos, um dos teus anfitriões de Sidney, dera com bastante insistência: “não deixe de parar num Retail Park e comprar um dispositivo repelente de cangurus!”.

Supostamente, esse aparelho colocado na frente do veículo produz um silvo com a deslocação e afugentaria a bicharada! Oxalá assim seja e que este “Sonic Animal Guards” que acabaste por comprar seja eficaz e evite que mais cangurus vão engrossar a sinistralidade rodoviária desta espécie simbólica da Austrália. Tens que dizer ao Carlos que o aparelho funciona. E também quando chegas, onde chegas, a que horas – esse relato a alguém dentro do país é a forma mais fiável de manteres o teu rasto e prevenires qualquer eventualidade.

E quanto à estrada, Miguel, lembra-te de falar nos limites de velocidade!!! Os limites de velocidade (em autoestrada de 100 km/h) são escrupulosa, rigorosa e sistematicamente respeitados! As ultrapassagens mais parecem corridas de tartarugas! E ainda mais um encargo para te lembrares: até hoje as multas são a dobrar (no valor e pontos em carta), para desincentivar condutas mais radicais dos que se atrevam a andar a 115 km/h!

E fala do tempo, da temperatura: aqui já viste que estão agradáveis, mas para Norte vão subir mais, apesar de não preveres que um máximo de 30º  seja particularmente desconfortável, atendendo que o equipamento é arejado.

Na tua “to do list” já riscaste o espanta-cangurus. Falta comprar uma tenda! Fazeres a travessia da costa leste para a oeste vai implicar longas áreas desprovidas de recursos – não só tenda, como também o jerricã que permita colmatar os longos troços sem pontos de abastecimento. Por muito económica que seja a mota (médias de pouco acima de 4 litros), é crucial ter essa segurança adicional.

Quanto ao dia de amanhã, Miguel, tencionas seguir para Brisbane mas ainda indeciso quanto ao local de pernoita. Pelo que te dizem será mais simpático ficar num ponto da Gold Coast que não propriamente a cidade … A ver vais!!  TPC: estudares bem o mapa!

Fique atento a www.motojornal.pt pois iremos continuar a acompanhar a viagem de Miguel Rodrigues no Austrália 360.