Entrevista: Jorge Viegas fala sobre o cancelamento de vários eventos

Jorge Viegas faça sobre os adiamentos e cancelamentos devido ao surto de corona virus.

Jorge Viegas, Presidente da FIM

Todos os dias tem havido adiamento ou cancelamento de eventos desportivos devido ao surto do SARS-CoV-2, que já elevou a COVID-19 a estatuto de pandemia. Com todas as restrições às viagens daí inerentes, o calendário das diversas modalidades mundiais sob a alçada da FIM têm sido constantemente actualizados. Campeonatos como os mundiais de Motocross, Superbike ou MotoGP já viram os repectivos calendários várias vezes alterados na última semana.

Jorge Viegas, Presidente da Federação Internacional de Motociclismo, fala do assunto numa entrevista divulgada pela própria FIM.

O corona virus, imaginamos, é pior para um presidente de uma federação desportiva internacional?
Acho que sim, mas recuso-me a dramatizar. Não sou virologista; não me cabe a mim dizer o que pode acontecer ou o que acontecerá. Chefio uma federação desportiva, que também gere outras actividades motociclistas, como o turismo ou a mobilidade. O nosso objectivo é seguir todas as nossas actividades.

A par dos promotores das várias modalidades, são actores. Mas neste caso, não são meramente espectadores das decisões políticas?
Sim. Nós seguimos sempre as indicações dos governos e da Organização Mundial de Saúde. Reconhecemos que a propagação da doença tem que ser travada. Infelizmente, instalou-se um estado geral de pânico. E o pior perigo é este: a histeria colectiva.

Corridas até ao Natal?

Na passada semana, a cada dia foram adiados mais eventos. No entanto, existem apenas 52 fins-de-semana num ano. Podemos pensar que um campeonato vai terminar no Natal?
Sim, se necessário. Imaginem que vários eventos terão que ser ainda cancelados, e que as competições só poderão ser retomadas muito mais tarde, bom, iremos até ao mais tarde que for possível para que os campeonatos possam ser dignos do seu nome. Se for necessário, iremos até Janeiro de de 2021. Para nós isso não será um tabu.

Economicamente vão existir danos colaterais. Todos estes cancelamentos e adiamentos, a temporada que se pode prolongar, tudo isto terá um custo?
Claro, e se sairmos por momentos do nosso pequeno mundo motociclista, temos que nos preocupar com as consequências globais. Fábricas param, escolas fecham, toda a actividade económica abranda. Haverá consequências, mas ainda é difícil quatificá-las.

MotoGP é o porta-estandarte das actividades desportivas da FIM. Mas há outras modalidades, como Superbike, Motocross, Trial, Enduro, etc. Se for necessário haverá prioridades, como ‘primeiros asseguraremos o máximo de grandes prémios de MotoGP, e depois veremos o que fazer com o resto’?
Não, de todo. Não existem conflitos entre os nossos diferentes campeonatos, que representam a grande diversidade do nosso desporto.

Jorge Viegas

Repercussões económicas

Em termos de cobertura mediática, dos pontos de vista do interesse transversal e económico, esta multiplicidade não se torna numa desvantagem?
Em todas as actividades humanas há hierarquias criadas pelo público, e esse é o nosso caso. O grande sucesso da F1? Simples, no mundo representa o topo do desporto motorizado. Enquanto que existem também ralis, turismo, resistência. Connosco, é um pouco a mesma coisa com MotoGP, embora a popularidade do Mundial de Motocross esteja a aumentar, o que é muito gratificante.

Mas o grande público pode perder-se, não deveríamos restringir a oferta?
Pelo contrário, e actualmente estamos a trabalhar numa nova modalidade, as e-bikes, reservada às bicicletas eléctricas. As primeiras corridas aconteceram no ano passado, foi criada uma comissão interna, pois está planeada uma primeira Taça FIM, com eventos na Europa e na Ásia; acabvei de saber que os Estados Unidos estão também muito interessados. Por isso não, não há demasiadas modalidades, há um desporto de moto para cada todos, em todas as formas. Uma corrida no gelo não é como uma corrida em circuito, mas venham ver uma, ficarão impressionados!

Doping

Avancemos. Antes de a corrente crise inrromper, tinha um dossier quente na sua secretária: o teste positivo para nandrolona (um esteróide anabolizante) do piloto italiano de MotoGP Andrea Iannone. No entanto, ainda esperamos uma decisão…
O presidente da FIM não tem nada a ver com o julgamento. Foi examinado pelos advogados de ambas as partes, que enviaram os vários documentos julgados necessários e um comité de três juízes, todos muito experientes, em breve tomarão uma decisão. Depois há a possibilidade de apelo para o Tribunal Arbitral do Desporto (CAS), quer por parte de Iannone e do seu empregador, a Aprilia, se a sanção for considerada demasiado severa; ou por parte da Agência Mundial Anti-Doping (WADA) se considerar que a sanção é insuficiente.

O desporto motociclístico está sempre a par e passo com a lista de produtos proibidos pela WADA?
Para nós, habilidade, psique e coragem são mais importantes que a força física bruta. Para não falar no problema dos analgésicos. Tenho planeado um encontro com o presidente da WADA, Witold Banka, para ver se é possível ter uma lista mais adequada ao nosso desporto.