Entrevista Jorge Viegas Presidente FIM – 2ª Parte

Sabiam que a primeira filiação de Portugal na FIM remonta a 1927 pelo Motoclube de Portugal? Razões mais que de sobra para lerem algo mais sobre os bastidores dos campeonatos mundiais. Para a próxima edição, na terceira e última parte desta entrevista, podem conhecer todos os planos para o futuro, incluindo o regresso do MotoGP a Portugal!

Texto Fernando Pedrinho Martins e Domingos Janeiro • Fotos Hellophoto – Miguel Araújo –

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 A melhor profissão do mundo!

Jorge Viegas é como um livro aberto e a sua eloquência fez com que a mais de hora e meia que passámos com ele mais parecesse uma conversa de poucos minutos. Novidades, revelações, factos históricos, visões e muito mais, bem temperados com a polémica, humor e provocação que o algarvio ‘imigrante’ sabe brindar as suas declarações.

Achas que se pode fazer um paralelismo com a FIA, na transição do Jean-Marie Balestre e do Max Mosley para o Jean Todt, como a que sucede agora na FIM com a passagem de testemunho do Vito Ippolito para ti? Eu sou completamente diferente do Jean Todt! Ele é completamente centralizador, não se faz nada na FIA sem o aval dele. Eu não conheci o Balestre, só pelo que me contava o César Torres, e fica difícil tecer uma comparação. O Vito simplesmente não fazia nada. Com o Jean Todt tenho tido um relacionamento excelente, de tal maneira que me convidaram para estar presente na reunião do Conselho Mundial do Desporto. Tinha o Ross Brawn de um lado e o Patrick Head do outro, mais o representante da Ferrari. Foi uma honra e a primeira vez (risos) que isto sucedeu. Cheguei mesmo a intervir porque me perguntaram porque é que o ‘MotoGP’ tinha tanto sucesso. Disse-lhes que se calhar era porque nas motos dávamos mais importância ao piloto, do que a F1.

Hoje em dia, se quiseres ganhar tens de pilotar um Mercedes. Disse-lhes que nem julgassem que o Marc Marquez tem a melhor motor. Temos que criar regulamentação que dê espaço para os melhores pilotos possam ganhar. Por exemplo, e não fazia ideia nenhuma, os membros do júri não são permanentes, mas nomeados corrida a corrida.

Nas motos acabámos com isso, pois tem de haver uniformidade e consistência nas decisões e a coisa funciona. Havia muita gente a abanar a cabeça a dizer que sim depois de lhes ter explicado isto. Colaboramos com a FIA nas comissões médica e feminina, na homologação de circuitos e capacetes, e sobretudo no campeonato do mundo de todo-o-terreno, onde temos um calendário semelhante com excepção de uma prova, que é só para motos, que é o Rali dos Sertões. Tivemos uma primeira divergência que foi sobre os SSV, que eles dizem que são carros e eu digo que são motos, e ninguém me convence que aquilo não é uma moto, embora tenha quatro rodas e um volante.

Um SSV é uma moto? É uma moto! Tem que ser! Há uma série de países, nomeadamente o Brasil, Portugal e Marrocos – é cerca de metade para cada lado – em que os SSV estão sob alçada das federações de motociclismo dos respectivos países, porque as federações automóveis nunca ligaram nenhuma à classe. Só há três fabricantes: Can Am, Polaris e Yamaha.

Entretanto a FIA e a FIM foram regulamentando a classe. Curiosamente, o meu homólogo do lado da FIA é a Jutta Kleinschmidt, de quem gosto imenso, e quando lhe digo que é óbvio que um SSV é uma moto ela ri-se à gargalhada. Consegui, mas ainda não está concretizado, pois estamos na boa via de ter o primeiro exemplo de sempre de colaboração entre a federação de automóvel e a de motos, e termos um campeonato que é misto: o campeonato FIA / FIM de SSV, na classe Produção. Eu não quero protótipos e sou contra os SVs que são perigosos e caríssimos. Este campeonato vai abranger os ralis e as bajas e no qual os organizadores vão aceitar as licenças desportivas das duas federações. Isto é uma novidade total!

Estamos a fazer um regulamento conjunto, há de haver uma entrega de prémios conjunta e estamos a constituir um júri com as duas federações. É um exemplo de colaboração que nunca aconteceu. Como exemplo de não colaboração, é a minha guerra com a UCI. Nós começamos com as bicicletas eléctricas e a UCI têm-me ameaçado de tudo. Que vai para o Comité Olímpico fazer queixa, para os tribunais, que aquilo é deles… As bicicletas eléctricas apareceram antes do meu mandato e a FIM falou com a UCI a perguntar como era. Eles responderam que, para a UCI, tudo o que tem motor é ‘doping’ técnico. Só que durante o mandato do anterior presidente da FIM levaram tanto tempo para fazer um protocolo que, entretanto, foi eleito um novo presidente da UCI que disse que queria as bicicletas elétricas. Eu mandei avançar e fizemos uma corrida de enduro em França e depois uma de motocrosse. Vendemos os direitos à ‘YouthStream’ para a ‘E-X Bike’, as eléctricas de motocrosse, e estamos a andar para a frente. Vamos formar uma comissão, com um elemento da ‘Dorna’ e outro da ‘YouthStream’ e vamos para a frente. Mas aí ‘comprei uma guerra!’.

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