Entrevista: Sam Lowes – Piloto Mundial Moto2

A chegada do novo motor Triumph ao mundial Moto2 trouxe novos aliciantes e também dificuldades aos pilotos que integram a categoria. Em 2019 tudo é novo, ou quase tudo, desde o motor aos pneus... será que para melhor?   

Texto: Rui Belmonte. Fotos: Marcas e equipas

Quando falamos de Moto2 o nome de Sam Lowes dispensa apresentações. Foi campeão do mundo Supersport em 2013 e daí seguiu para o mundial Moto2 onde esteve primeiro com a Speed Up e depois com a Kalex.

Em 2017 encontrou a estreia na classe rainha com a Aprilia, sem sucesso, e no ano seguinte estava com um chassis KTM novamente em Moto2.

Este ano descobre uma nova Moto2 com a chegada do motor Triumph e a introdução de alguma electrónica e por isso é um dos pilotos com mais capacidade e conhecimento para poder fazer um primeiro balanço a um novo formato da classe.

Primeiro que tudo…como foi regressares a Moto2 depois de um ano na classe maior?

‘Claro que é muito diferente, o estilo de condução, a potência da moto…para mim a grande diferença face às MotoGP é a velocidade, muito mais elevada.

A Moto2 é uma classe muito divertida para estarmos envolvidos, com muitas batalhas e lutas, muito excitante mas claro, MotoGP é o topo.’

Regressaste às Moto2 com algumas diferenças na classe. Novo motor, alguma electrónica… foi fácil a adaptação ou continuas ainda a tentar encontrar essa adaptação e as boas sensações com a moto?

‘Sim… um pouco. Estou ainda a tentar adaptar-me, não por causa da Moto2 mas sim porque a Moto2 é nova com os três cilindros e a estreia da electrónica.

O três cilindros é diferente…o travão-motor na chegada às curvas, um carácter diferente. Mais potência que o antigo motor Honda faz com que se conduza um pouco mais como uma moto de MotoGP, obviamente com a necessidade de manter a velocidade em curva para alcançar um bom tempo por volta.’

És conhecido pelo teu estilo de condução exuberante, por exemplo as conhecidas travagens com direcção ‘trancada’. Isso ainda é possível de se conseguir com este motor?

 ‘Sim, um pouco menos mas ainda é possível. Agora temos a electrónica e também mais ‘travão-motor’ que ajudam a que isso aconteça e em algumas curvas ainda deslizamos muito, o que é sempre divertido para mim, mas estou a tentar reduzir um pouco essa minha forma de conduzir, mesmo se por vezes não o consigo evitar.’

E os pneus? Sente-se a diferença, também eles precisam de se adaptar a esta nova Moto2?

‘A Dunlop está a fazer um bom trabalho este ano mas estão a trazer pneus realmente muito duros. É o primeiro ano nesta configuração, com mais potência e é por isso normal que eles tragam pneus duros, talvez demasiado duros. Isso faz com que neste momento tenhamos que gerir a menor aderência dos pneus e penso que no final desta época ou na próxima, quando os pneus voltarem a ser mais moles, seja uma questão de importância mais reduzida. Mas para já temos que perceber com a electrónica, com as afinações da moto, a forma de sermos suaves e entender também o ‘patinar’. Com este motor de três cilindros temos muito mais potência na saída das curvas e temos que perceber os limites com o pneu duro e por isso vemos muito patinar na saída das curvas. Estivemos recentemente em Barcelona a testar e ‘patinar’ foi palavra de ordem e quase de forma constante. Muito divertido, mas não o melhor para o cronómetro e o que procuramos é naturalmente o equilíbrio.’

Estas novas sensações e o motor…tornam a classe mais acessível para um piloto de Supersport ou existe ainda uma grande diferença?

‘Ainda existe um pouco de diferença comparando com o que tínhamos nas Supersport. Mas para mim está adequado, está na direcção correcta. No primeiro ano não temos muita electrónica mas no próximo ano eles vão trazer aumentar a utilização da mesma e a classe vai evoluir de forma mais rápida. É definitivamente mais divertido conduzir a moto neste momento do que no passado e isso é bom para os pilotos. Para a alteração das regras e a direcção com o motor inglês – eu tinha que dizer isto – está a fazer-se no bom sentido e de forma muito positiva.’

Isso quer dizer que para um ex-piloto de MotoGP será mais fácil adaptar-se à moto no próximo ano?

‘Possivelmente sim. Definitivamente mais perto do que no passado porque então com o motor Honda tínhamos uma grande Moto3 e agora na realidade temos uma pequena MotoGP. Essa é a direcção e sim… será certamente mais fácil.’

Estiveste em todos os lados, a antiga Moto2, MotoGP e agora a ‘nova’ Moto2. Pensas que os novos pilotos de MotoGP estarão mais preparados para a ‘subida’ a partir de agora?

‘Claro. Agora com a electrónica o estilo de condução está um pouco mais próximo e o ‘degrau’ será mais baixo. Isso será bom e mesmo se os estreantes deste ano não estão a fazer um mau trabalho a diferença será cada vez mais curta nos próximos anos.’

Depois do teste de Barcelona encontraste juntamente com a equipa o caminho a seguir?

‘Trabalhámos bastante e testámos muitas coisas. Mas penso que encontrámos um caminho certo e como estamos numa fase ainda inicial da temporada penso que isso é muito positivo e por isso estou muito moralizado para as próximas corridas.’

Este é o momento que têm mesmo que ‘arrancar’?

 ‘O começo da época não foi o melhor para nós mas como disse antes, estamos ainda na fase inicial da época e se conseguirmos agora a viragem e alcançar bons resultados podemos ter um bom ano.’

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