“Alô, tudo bem, Bruno? O que pensas de ser piloto no CNV Moto na ronda Estoril III? Tenho aqui uma CB750 Hornet preparada para competir à tua espera! Só precisas de aparecer no circuito e tens tudo pronto para ti. É só chegar e pilotar, sem pressão. Quero que te divirtas”.
Basicamente este foi o início de uma conversa telefónica de muitos minutos que tive há vários meses, ainda a primavera de 2025 estava a começar, com Carlos Cerqueira, responsável máximo da Honda Portugal Motos, pessoa há muitos anos ligada ao motociclismo e à marca japonesa, que esta temporada decidiu colocar a Hornet bicilíndrica ‘sete e meio’ nas mãos de jornalistas convidados a competir nas Naked Bikes do CNV Moto, integrando a categoria NB3, para motos até 105 cv de potência.
Perante um convite tão surpreendente como entusiasmante, a minha reação imediata foi responder “Sim, claro! Vamos a isso!”. Mais tarde viria a repensar se tinha dado a resposta certa. Mas já lá vamos a essa parte do arrependimento.
O convite surgiu muitos meses antes da ronda Estoril III do calendário do CNV Moto, disputada no início de setembro no icónico traçado que tem a Serra de Sintra como cenário de fundo. O ‘timing’ iria dar-me algum tempo para preparar tudo – assim pensava eu –, mas, principalmente, iria dar-me tempo para analisar o que a CB750 Hornet conseguiria fazer nas mãos de outros jornalistas que a pilotaram nas duas primeiras rondas da temporada.

Nestas coisas de corridas de motos, o tempo é crucial. É crucial porque é o tempo que define as nossas prestações em pista, mas também é crucial porque o tempo ‘de sobra’ que temos antes do fim de semana de competição serve para preparar tudo o que precisamos, inclusive o físico e a parte mental.
Este stress de competir não é novo para mim.
Felizmente tive o meu batismo como piloto ‘profissional’ do CNV Moto há alguns anos, em 2013, na temporada de estreia do Troféu Séc. XX – Taça Luís Carreira, em homenagem ao nosso malogrado campeão.
E, curiosamente, competi nesse ano também no Estoril e aos comandos de uma Hornet 600 cc, a original de 1998, uma réplica da moto que o próprio Carreira usou quando competiu no Troféu Hornet nos últimos anos do século passado e primeiros anos do novo milénio.
Um troféu impulsionado também por Carlos Cerqueira, que agora está focado em mostrar que a nova CB750 Hornet, embora não sendo a icónica quatro cilindros em linha que tantos milhares de motociclistas conquistou, é também uma moto bem capaz de nos dar prazer de competir, de forma fácil e relativamente acessível em termos de custos.

Esse meu batismo de competição com a Hornet tetracilíndrica há mais de uma década deu-me também a noção clara que o tempo que julgamos ter de sobra para nos prepararmos, afinal não é assim tanto.
Há sempre coisas a fazer à última hora, e no meu caso os trabalhos diários aqui para a Revista Motojornal deram cabo dos meus planos de preparação física. A minha excelente forma física (redonda, diga-se!) seria talvez o maior adversário da Hornet.
Felizmente, a Honda Portugal Motos, em combinação com o Rodrigo Amaral da Wingmotor, um dos grandes e mais alucinados pilotos do off-road nacional e agora um destemido piloto das Naked Bikes aos comandos da CB1000 Hornet SP, e com a preciosa ajuda do mecânico António ‘Garfos’, deixou-me livre de todo o trabalho de preparação da moto e todas as burocracias. Fui tratado praticamente como um piloto de fábrica do HRC!
Os meses entre o primeiro telefonema e a decisão de competir e a data da ronda Estoril III foram passando. Aproveitei ao máximo para treinar o regresso ao Estoril com inúmeras e valiosas sessões de treino no simulador profissional MT Dynamic, que me deixaram fisicamente de rastos, mas mentalmente mais preparado.
Até que um novo telefonema, desta feita do meu amigo Pedro Cardoso do concessionário Apex Store, voltou a elevar os meus níveis de stress: “Olha, ouvi dizer que vais competir nas Naked Bikes no Estoril. O que achas de teres um adversário na tua classe? Vou inscrever-me com uma CFMoto 650NK que estou aqui a preparar. Vou dar tudo para ganhar”.
Recordo que a minha participação na corrida era para me divertir, mas assim que passei a saber que iria ter adversário nas NB3, o que não aconteceu com os outros convidados que competiram com a Hornet antes de mim, a missão mudou de objetivos.
Claro que divertir-me ainda era o principal, mas passei a sentir a pressão de ter de batalhar com alguém da classe NB3 e ter de mostrar resultados a sério. Afinal, não queria ficar em segundo e não queria deixar ficar mal a Honda que me convidou para esta prova.

Finalmente na pista!
Tudo o que se passou antes, toda a antecipação e preparação possíveis, finalmente deu lugar às emoções de poder entrar em pista numa ronda das Naked Bikes do CNV Moto em 2025. O circuito do Estoril não é um desconhecido para mim, mas há já vários anos que não rodava ali. Gosto do traçado, uma mistura de zonas mais técnicas com uma longa reta da meta.
A primeira vez que me sentei na Hornet foi para os primeiros treinos livres realizados à sexta-feira. Com condições climatéricas perfeitas e até com o vento de Norte a ajudar a ganhar alguma velocidade na reta da meta, a primeira sessão de 20 minutos serviu apenas para desentorpecer e começar a entender os limites.
Para ser sincero, antes de regressar à box onde estão todas as Naked Bikes, convivendo num ambiente fantástico de companheirismo e entreajuda constante, porque ali mais do que pilotos são todos amigos, estava bastante satisfeito comigo.
Até que o meu adversário direto nas NB3 diz que tinha conseguido fazer tempos por volta significativamente mais rápidos que eu. Ele e a CFMoto a rodarem em 1m57s e eu sem conseguir baixar dos 2m06s. A isso juntaram-se os tempos obtidos por Luis Ferreira numa KTM 1390 Super Duke R, da classe NB1, a rodar já no 1m47s.

Comecei a pensar se tinha feito bem em aceitar o convite, o tal momento de arrependimento de que falei anteriormente. Afinal, não só não conseguiria batalhar diretamente com a outra NB3 em pista, como nem estava dentro do limite dos 115% do tempo mais rápido para poder qualificar-me para as corridas do fim de semana. Um desastre completo, pensava eu…
O dia de treinos foi progredindo, tal como os meus tempos por volta. Aproveitei cada momento em pista para procurar trajetórias mais eficazes. A Hornet ia mostrando os seus limites.
Esta naked não é concebida de origem para esta utilização mais extrema, mas graças à preparação realizada por Paulo Vicente, o fomentador das Naked Bikes com os seus diversos troféus monomarca, mas também pela FMB Racing de Frederic Bottoglieri, os limites da Hornet não são atingidos tão rapidamente.
Ágil, sente-se leve e com a direção a fazer exatamente o que o piloto quer. O motor bastante generoso na entrega de potência e binário nos baixos e médios regimes sente, naturalmente, alguma falta de ‘pulmão’, situação particularmente notada na longa reta deste circuito onde o máximo que consegui atingir foi 235 km/h, aproveitando a ajuda inesperada do vento pelas costas.

A cada sessão os meus tempos foram melhorando, mas ainda longe do que eu considerava ser o mínimo exigido para mim para esta experiência em pista.
Fechei a sexta-feira com um melhor tempo de 2m04s, o que já era um tempo ligeiramente melhor do que aquilo que tinha feito com a Hornet em 2013, mas ainda longe do que me permitiria qualificar para as corridas e longe dos tempos do Pedro na CFMoto.
Mas os tempos nos treinos de sexta-feira são cronometrados manualmente, não havia transponders. Pelo que o meu mecânico ‘Garfos’, apercebendo-se da minha ‘aflição’, fez questão de me tranquilizar e dizer que no sábado com transponders é que tudo se iria confirmar e que eu ia conseguir.
Nunca me tinha dado conta de como a parte mental é tão importante e algumas palavras de apoio na box fazem muita diferença.
No fim da sexta-feira a viagem de pouco mais de 20 km até casa foi longa. Fui a pensar no que podia fazer para ganhar tempo, nas trocas de caixa que falhei porque o quickshift da Hornet precisa de ser acionado de forma mais ‘bruta’ e não apenas acariciado como uma moto de estrada, na forma de aproveitar a agilidade da moto na chicane e como minimizar os estragos da falta de proteção aerodinâmica na longa reta do Estoril.
Uma boa noite de descanso certamente iria ajudar… tal como o Fisiocreme para minimizar as dores musculares nas pernas!
Sábado de manhã estava de regresso ao Estoril, ainda o Sol não espreitava por cima da bancada principal. O briefing obrigatório para estreantes no CNV Moto foi o início de um dia repleto de emoções, desta feita já com o transponder na Hornet. Em conversa com o Paulo Vicente acabei por ter direito a algumas dicas ‘à borla’ e, principalmente, um aviso: atenção ao arranque, que a 1ª relação da Hornet é muito curta! Fiquei com este aviso na memória.

Superar objetivos
A primeira qualificação não correu mal. Pese embora algumas trocas de caixa falhadas por não ser decidido a pressionar o seletor e mesmo sem vento a ajudar a atingir os 235 km/h do dia anterior, passando a atingir, com dificuldade, os 220 km/h na reta do Estoril, o meu tempo baixou em 2 segundos.
O meu adversário direto nas NB3 teve pior sorte, com uma queda a impedir que estivesse em melhor plano. Mas não foi o suficiente para o Pedro desistir, pelo que fiquei satisfeito por poder continuar a batalhar com ele pela supremacia na classe, visto que tanto as NB2 como as NB1 estavam noutro planeta.
A qualificação 2 correu bem, melhorando novamente, ainda que por pouco, o tempo anterior. Estava, ainda assim, ansioso para perceber se me tinha conseguido manter no limite dos 115% relativamente à “pole position”. Consegui, e com alguma margem. O mesmo não aconteceu ao Pedro Cardoso, o que me deixou sozinho entre as NB3 nas duas corridas.
Primeiro objetivo superado, estava agora a poucos minutos da Corrida 1. Soam os avisos na box, os pneus Dunlop SportSmart TT (sem mantas!) aquecem rapidamente na volta de formação da grelha de partida e ocupo a minha posição. Não tinha ilusões de discutir posições com as NB2 e NB1, mas queria tentar acompanhar alguém.

Os semáforos apagam, falho o arranque devido a deixar a 1ª ir ao limitador e logo após a chegada à VIP dou por mim entretido com uma BMW S 1000 R mais lenta, que me ‘prendeu’ na cauda do pelotão ao conseguir levar a melhor nas zonas de aceleração e fechando bem as trajetórias por onde eu poderia passar com a Hornet nas zonas de travagem e em curva.
Naturalmente que ao levar a moto até à bandeira de xadrez ao fim das 10 voltas consegui vencer a classe NB3, mas o melhor foi chegar ao parque fechado e ter amigos e família para me receberem com aplausos e abraços. A subida ao pódio foi naturalmente celebrada com champanhe – obrigado, Fred Bottoglieri!
Dica: se algum dia sujarem equipamento de moto com champanhe, tenham uma toalha molhada com água para limpar de imediato! Ou arriscam ficar com o equipamento num estado pegajoso.
E tinha ainda a boa notícia de ter feito na última volta da corrida a minha melhor volta em 2m00s! Seria capaz de conseguir baixar mais alguma coisa e atingir o que era o recorde oficial da Hornet de 1m58s altos que se mantinha desde a ronda Estoril I?

Mais uma noite de descanso merecido… e mais uma vez o Fisiocreme obrigatório para ajudar a minimizar as dores musculares!
Domingo de manhã, a chuva decidiu aparecer para criar dúvidas. Por regulamento, as NB3 não usam pneus de chuva e os SportSmart TT não são bons para piso molhado. Se não parasse de chover e a pista ficasse seca, a minha participação estava terminada. Mas o Sol apareceu, as nuvens cinzentas afastaram-se e deram lugar a um grande domingo de corridas neste CNV Moto.
Por entre cheiros intensos de produtos farmacêuticos como o Fisiocreme (e outros mais caseiros…) a preencherem a box das Naked Bikes, o que levou alguém a exclamar bem alto para risada geral que “Isto mais parece um lar de 3ª idade!”, chegou então o momento de arrancar para a Corrida 2.
Antes, reunião de pilotos no pit lane para um cumprimento geral, mais uma prova do excelente ambiente que se vive nas Naked Bikes.

Mais uma vez falhei o meu arranque. As palavras do Paulo Vicente ecoaram na minha mente: “A primeira é só mesmo para movimentar a moto, tens de trocar logo para segunda!”.
Bom conselho, que parece que eu decidi não seguir. Ainda assim, cheguei à travagem da curva 3 logo atrás da S 1000 R que tanto trabalho me deu na Corrida 1. Desta feita a porta ficou um pouco aberta, eu decidi arriscar na travagem e com uma trajetória interior passei-o.
Procurei ganhar margem para me defender na reta interior desenhando o que, na minha opinião, foi uma trajetória perfeita na longa esquerda seguinte, a VIP. Mas a S 1000 R já tinha ficado para trás e não mais me incomodou.
Foquei-me então numa Triumph Street Triple 765 das NB2 que estava à minha frente. Bem pilotada pelo Emanuel Arrais, eu sabia que ele naturalmente tinha vantagem nas retas e por isso tentei ganhar ao máximo nas travagens e na velocidade em curva.
Com a frente da Hornet a protestar por diversas vezes e a querer fechar no limite, principalmente na curva 1, e a quilha e poisa-pés a rasparem no asfalto do Estoril já muito mais frequentemente, o que denunciava que eu estava mesmo no limite dos limites, consegui manter-me colado à Triumph do Emanuel ao longo de toda a corrida.

Algumas vezes na saída da Parabólica estivemos lado a lado, o que me deu mais motivação para continuar a puxar pela minha Hornet enquanto esquecia o cansaço.
Não o consegui ultrapassar por mais que tentasse, voltei a vencer nas NB3, mas o melhor seria mesmo saber em pleno parque fechado que ao aproveitar a ‘boleia’ e a disputa por posição com um piloto mais rápido consegui bater o meu melhor tempo ao parar o cronómetro em 1m58.020s, quase a passar ao segundo 57!
Isto significa ainda que também passo a ser o detentor do novo recorde absoluto desta Honda CB750 Hornet e das NB3 no circuito do Estoril. Para um jornalista que apenas se queria divertir, penso que não é nada mau.
Foi, por tudo isto, um fim de semana divertido, stressante, mas altamente recompensador para quem, como eu, não é piloto do CNV Moto e gosta de corridas, tendo podido participar numa ronda desta temporada. Um agradecimento a todos os que me ajudaram é também merecido, quer à Honda pelo convite, quer depois ao Rodrigo Amaral e ao António ‘Garfos’ ao longo do fim de semana na box.

Pronta a correr por menos de 10.000€!
Esta CB750 Hornet na sua versão de série não nasceu a pensar numa utilização em pista. A versão de competição resulta de um longo processo de desenvolvimento realizado por Paulo Vicente em parceria com a FMB Racing.
Em comparação com a moto de estrada, esta Hornet de competição conta com fibras realizadas pela Techno Carbon, sendo que a maior dificuldade foi criar do nada um frontal para esta moto. Foram precisos 3 moldes para chegar à versão definitiva, sendo que depois foi instalado um pequeno para-brisas escurecido da Puig. O assento em espuma é modificado de acordo com o piloto, porque os poisa-pés elevados da Bonamici são problemáticos para pilotos mais altos.
Para além das diversas proteções da GB Racing ou cogumelos da LSL, Paulo Vicente criou peças únicas, em alumínio maquinado em CNC, como os afinadores de corrente com suportes de cavalete incluídos, posteriormente anodizados pela ADOS NOD.
Com o motor bicilíndrico a manter-se praticamente inalterado, destacamos a deslimitação da velocidade máxima através da eletrónica, inclui-se na preparação um filtro de ar Sprint Filter que ajuda a potenciar os ganhos obtidos pela instalação do sistema de escape completo da Ixil, com coletores desenvolvidos em exclusivo para esta Hornet. A potência em banco de ensaio atinge os 95,5 cv à roda, um valor superior à potência de série anunciada pela Honda e medida à cambota.
A isto juntamos cartuchos inseridos na forquilha original que trabalham em conjunto com um amortecedor traseiro protótipo EMC S2X. A travagem é alterada com recurso a pastilhas de competição e malha de aço, sendo que as jantes de série passam a estar cobertas pelos Dunlop SportSmart TT. A decoração final ficou a cargo da AQD Graphics, tendo sido uma escolha da Honda Portugal Motos.
Este pacote completo leva a um investimento ligeiramente abaixo dos 10.000€, incluindo aquisição da Hornet, sendo que Carlos Cerqueira refere que os interessados em competir com esta moto nas Naked Bikes terão uma atenção especial no PVP por parte da Honda Portugal Motos.
O preço do par de pneus ronda os 300€ e duram dois fins de semana à vontade. Fazendo contas à gasolina e às inscrições e até alguma manutenção, podemos dizer que uma temporada com a Hornet no CNV Moto ficará a rondar os 12.000 a 13.000€. Um valor interessante e bastante acessível para um ano inteiro a competir.
Vídeo Honda Hornet no CNV Moto Estoril III
Neste trabalho utilizámos os seguintes equipamentos
Capacete – Nolan X-804 RS Ultra Carbon
Fato – Dainese Misano 2 D-air
Luvas – REV’IT! Jerez Pro 3
Botas – Dainese Axial D1
Galeria de fotos Honda CB750 Hornet no CNV Moto Estoril III
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