Livro – Speed, The One Genuinely Modern Pleasure

Alan Cathcart leu o livro Speed, The One Genuinely Modern Pleasure do seu compatriota Mat Oxley, e ficou impressionado pela pesquisa e pela escrita do conhecido jornalista britânico.

Mat Oxley não precisa de apresentações aos atuais fãs dos grandes prémios, como o escritor com vida dedicada a tudo o que faz este desporto mexer-se, tratando por tu os seus principais protagonistas, de hoje e de antigamente, dos pilotos aos chefes de equipa, passando pelos engenheiros. E como antigo vencedor do TT da Ilha de Man e estrela da resistência, o Mat também sabe pilotar rápido. Mas daí até produzir o derradeiro livro sobre como se ia rápido nos dias de outrora em duas rodas, há um século ou mais, é um olhar para trás no tempo que é igualmente confiável – pois é isso que ‘Speed, The One Genuinely Modern Pleasure’, de Mat Oxley é.

O livro de capa dura de fácil leitura (ndr.: em inglês) tem 14 capítulos cheios de factos pouco conhecidos e fascinantes, cada um deles com um episódio específico da obsessão do Homem em ir cada vez mais rápido nos primórdios do desporto – e cada um deles parece o guião de um filme bem escrito, completo com notas do diretor para o agente de elenco.

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Cada capítulo pinta o retrato de uma personalidade notável à volta da qual a história é contada. Homens como o imperturbável fanático da velocidade T. E. Lawrence (‘da Arábia’), que teve uma sucessão de sete Brough Superior SS100, cada uma delas garantida pelo construtor George Brough que passou os 160 km/h antes de ser entregue – uma velocidade considerável nas estradas estreitas e irregulares de 1920. Ou o calmo e calculista detentor de multiplos recordes de velocidade, Ernst Henne, que levou a sua mulher em lua de mel para França de modo a poder deitar- -se na relva ao lado da Route Nationale Paris-Orleans em Arpajon enquanto observava o seu rival britânico Owen Baldwin de perto, que se tornaria no primeiro homem a quebrar a barreira dos 200 km/h com a sua Zenith-JAP perante milhares de franceses entusiasmados que tinham pago para desfrutar este festival de velocidade. Mais tarde nesse mesmo ano Henne pilotou a BMW R63 sobre- -alimentada a um novo recorde de 216,6 km/h na Alemanha, o primeiro de vários marcos que este ‘homem inteligente e diligente’ conseguiria para o construtor alemão, tudo contando em fascinante detalhe por Oxley.

Speed, The One Genuinely Modern Pleasure
AUTOR: Mat Oxley

www.matoxley.bigcartel.com

Capa dura, 180 páginas, 44 fotos
Todos os livros são assinados por Mat Oxley.
PREÇO: £33 (cerca de 37€, incluindo envio para Portugal)

Mat também nos conta sobre o franco- -canadiano Jake de Rosier, que usava ‘apertadas collants de teatro para enganar o vento, sapatos de lona e uma camisola de lã’ – os capacetes apareceram mais tarde, e eram originalmente opcionais – para vencer corridas com a Indian na segunda década do século XX nas ‘Murderdrome’ de madeira americanas (as pistas de board track, que tantas vítimas fizeram), mas que também terminou em segundo atrás do companheiro de equipa britânico Oliver Godfrey no Senior TT da Ilha de Man em 1911, a primeira vez que se correu no atual circuito de montanha de 60 km.

Imaginem Jared Mees a ser batido por pouco por Marc Marquez no GP de Itália em Mugello, para algo equivalente nos tempos modernos! E depois havia o britânico Joe Wright, o primeiro homem a quebrar a barreira dos 240 km/h, o que aconteceu na então remota Irlanda do Sul aos comandos da sua Zenith-JAP de treinos, porque a OEC para a qual lhe pagavam para bater o recorde tinha partido o motor. Mas o seu proprietário depois exibiu a OEC a dezenas de milhares de visitantes do London Show um mês mais tarde como a moto que bateu o recorde, tudo para receber o bónus monetário acordado! Mat Oxley conta as várias histórias de um modo arrebatador, colocando-nos no local dos acontecimentos históricos.

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Graças à impressionantemente pormenorizada pesquisa sobre o que é atualmente uma era pouco conhecida e tão diferente da nossa, há um impressionante detalhe gráfico em cada um desses capítulos. Como o facto de que os treinos para cada um daqueles eventos decorrerem em estrada aberta, resultando na necessidade de passar a mais de 190 km/h por uma carroça puxada por um burro numa estrada estreita, ou a revelação de que John Alfred Prestwich, criador dos recordistas motores JAP, fez o seu nome como fabricante de câmaras de cinema; foi uma câmara Prestwich 35mm manual que filmou a tentativa gorada do Capitão Scott em chegar ao Pólo Sul em 1913. Ou como o exército privado do Rei Leopoldo da Bélgica lhe assegurou uma imensurável fortuna – e a morte de cerca de 10 milhões de congoleses – nos anos anteriores a 1908 ao encurralar na antiga colónia belga o fornecimento da única borracha indicada para fazer os novos pneus desenvolvidos por John Boyd Dunlop. E há mais, muito mais.

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Num passo pouco usual, e que certamente será apreciado pelos leitores que queiram aprender mais sobre os dias ancestrais da velocidade, Mat publica uma lista de 58 livros diferentes que ele usou na pesquisa das suas histórias, e há também um conjunto de fotos desse período, que acrescentam muito às histórias. Estranhamente, porém, Daytona Beach mal é mencionada no livro, e Glenn H. Curtiss – que essencialmente inventou a moto V-twin antes de se tornar ele próprio num conquistador de recordes, merece apenas uma curta menção pelo feito de ter conseguido chegar aos 217 km/h em 1907 aos comandos da V8 por si construída, mais veloz do que qualquer automóvel tinha conseguido ser até então.

Mas de qualquer modo, este livro coloca Mat Oxley no topo dos historiadores motociclísticos, e o melhor elogio que lhe posso fazer é quem me dera poder dizer que fui eu a escrever este livro. Mas não fui, foi o Mat Oxley. Respeito!

Texto: Alan Cathcart

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