MotoGP 2022 – Aprilia RS-GP de indesejada à mais desejada!

A moto italiana tornou-se na moto que muitos consideram a mais equilibrada de MotoGP. Veja aqui os detalhes que transformaram a Aprilia RS-GP numa candidata ao título!

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Quando em meados de fevereiro, portanto, em plena pré-temporada de MotoGP 2022, a revista MotoJornal publicou aqui o Guia Completo da atual temporada do Mundial de Velocidade, poucos eram os fãs, e até mesmo aqueles que torcem pela Aprilia Racing, que acreditavam que a equipa de Noale seria capaz de estar a lutar pelo título de pilotos por Aleix Espargaró, e com Maverick Viñales a subir de nível de tal forma que a Aprilia Racing lidera a classificação de equipas de MotoGP no final da primeira metade do ano.

O desdém pela moto italiana era de tal forma elevado antes do começo da temporada, que até mesmo jovens pilotos que pretendiam passar de Moto2 para MotoGP recusaram assinar contrato com a Aprilia Racing.

Pior ainda, o departamento de competição em Noale passou a ter aos seus “ombros” todo o esforço de liderar o projeto de MotoGP da marca. Recordamos que a Gresini Racing decidiu deixar a Aprilia no final de 2021 e passou a ser equipa satélite da Ducati. Com a Aprilia Racing “sozinha” em MotoGP, muitos previam o pior.

Mas a verdade é que a estrutura liderada por Massimo Rivola, CEO da Aprilia Racing, sob a batuta de Romano Albesiano, diretor técnico da Aprilia Racing, deu a volta por completo às expectativas. A Aprilia RS-GP de indesejada passou a ser a moto mais desejada do paddock de MotoGP!

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Aprilia RS-GP de 2021

E como é que isso aconteceu?

À primeira vista, o protótipo Aprilia RS-GP de 2022 não parece ser uma versão demasiado diferente do que tínhamos visto no ano passado. Claro que ficam bem patentes as diferenças quando olhamos para o sistema de escape redesenhado e da autoria da SC Project em vez da Akrapovic, o pacote aerodinâmico e ainda toda a traseira da moto. Mas de uma forma geral, a moto italiana não parece ser tão diferente.

Mas quando começamos a olhar em maior detalhe, percebemos que as diferenças são na realidade muitas.

Novo motor V4, novo quadro, nova entrada de ar central, novas carenagens, aerodinâmica otimizada, novo braço oscilante, e até mesmo uma nova cobertura do depósito de combustível. Afinal a Aprilia RS-GP recebeu novidades em quase todos os departamentos. Podemos até dizer que depois de vários anos a revolucionar a moto de ano para ano, a Aprilia Racing finalmente encontrou uma base de trabalho sólida, e agora está focada em “limar as arestas” do projeto para ganhar competitividade… e corridas. O título já é mais do que apenas um sonho inalcançável!

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Aprilia RS-GP de 2022

Talvez a maior diferença do protótipo RS-GP de 2021 para 2022 seja o seu renovado pacote aerodinâmico.

A marca italiana, tal como as rivais em MotoGP, trabalhou arduamente para otimizar a aerodinâmica das motos utilizadas por Aleix Espargaró e Maverick Viñales. A grande diferença está nas asas dianteiras, mais afiladas, mas que, por um lado, garantem o mesmo nível de força descendente do que as asas antigas, e por outro lado permitem aos pilotos sentir uma moto mais ágil. Um compromisso que não é fácil de conseguir encontrar, pois a carga aerodinâmica proveniente das asas anteriores tornava a moto mais lenta nas trocas de direção.

Os dois pilotos comentaram já por diversas vezes que as novas asas permitem manter o “downforce” anterior, mas a moto deixou de ser tão física. O pacote aerodinâmico da RS-GP permite anular o levantar da roda dianteira em aceleração, evitando o funcionamento da eletrónica, nomeadamente do sistema “anti wheelie”. Por outro lado, os engenheiros da Aprilia Racing redesenharam a entrada de ar central, garantindo assim um fluxo de ar otimizado que entra mais rapidamente para o motor V4. Na realidade, todo o desenho da carenagem dianteira foi alterado de forma subtil.

Mas a grande melhoria no comportamento da Aprilia RS-GP deverá ser creditada ao motor e ao quadro.

Tanto Aleix como Maverick queixaram-se em 2021 que a moto era demasiado rígida no seu todo. Para responder aos seus desejos, a Aprilia Racing redefiniu os parâmetros de rigidez estrutural do quadro dupla trave em alumínio, aumentando a flexibilidade do conjunto. Desta forma os pilotos espanhóis conseguem levar a RS-GP de 2022 mais ao limite, usufruindo de maior margem de segurança, o que os leva a cair menos na tentativa de ganhar aqueles décimos de segundo vitais para ganhar uma posição ou qualificar melhor em MotoGP.

ApriliaAs novidades introduzidas ao nível do quadro, mas também a utilização de um novo braço oscilante, reforçado com fibra de carbono, permitiram por outro lado reduzir o desgaste do pneu traseiro Michelin. Relembramos que por diversas vezes em 2021, num sinal que a Aprilia RS-GP estava em crescendo de forma, já Aleix Espargaró entrava várias vezes em Q2, e nos momentos iniciais das corridas da categoria rainha ameaçava os lugares de “top 5”. Porém, o desgaste prematuro do pneu traseiro limitava os resultados.

O novo quadro é também mais esguio. E isso permite aos pilotos assumirem uma posição de condução mais dominadora sobre a moto. Ainda não estará tudo de acordo com as preferências dos pilotos, principalmente Maverick Viñales, pois o espanhol continua à procura da melhor afinação para componentes como poisa-pés, mas a verdade é que as coisas estão bastante mais “alegres” na box italiana.

Outro ponto que ajuda a Aprilia RS-GP a ser a moto mais desejada do paddock de MotoGP será o seu motor. Ao melhor estilo da casa de Noale, a unidade motriz é um V4, bastante poderoso. A Aprilia Racing deu bom uso às benesses das concessões – que já não terá em 2023 devido aos pódios e vitórias dos seus pilotos este ano – e encontrou forma de refinar o motor italiano que se mantém potente, mas é ainda suave na forma como entrega a potência.

Ao contrário dos motores V4 de MotoGP, os pilotos da Aprilia não parecem sofrer dos mesmos problemas em circuitos de curvas de média ou baixa velocidade, onde os motores quatro em linha levam, habitualmente, a vantagem ao permitirem velocidades de passagem em curva mais elevadas. Um motor que permite alcançar velocidades máximas das mais elevadas de MotoGP, e um quadro que garante um “feedback” ideal, são dois pontos em destaque na mais recente geração da Aprilia RS-GP.

E da ciclística e motor entramos no campo da aerodinâmica.

Já anteriormente referimos as melhorias encontradas ao redesenhar as asas dianteiras. Mas a peça mais intrigante do “pack” aerodinâmico da Aprilia RS-GP é a sua mais recente carenagem lateral com “barriga”. A ideia que levou os engenheiros da Aprilia Racing a desenvolver e usar esta carenagem foi usar o denominado “efeito solo”.

Esta carenagem atualizada já durante a temporada 2022 de MotoGP é mais larga. Forma uma espécie de “barriga”. A forma da carenagem em si apresenta-se bastante plana. Quando o piloto inclina a moto em curva, a mesma fica bastante próxima do solo, quase paralela ao solo. Isso ajuda a criar uma zona de baixa pressão de ar, o que por sua vez cria o chamado “efeito solo”.

Em consequência disso, os pneus da Aprilia RS-GP são quase como que puxados / empurrados pela carga aerodinâmica contra o asfalto, ajudando a encontrar mais aderência. E isso traduz-se numa maior confiança para o piloto, que assim sente a moto mais agarrada ao solo, e aumenta a velocidade de passagem em curva.

apriliaMaverick Viñales sempre se queixou desde que chegou à Aprilia em meados do ano passado, que nas primeiras voltas de uma corrida sentia muitas dificuldades em extrair o potencial da moto com pneus novos e depósito cheio. Precisava que os pneus entrassem na temperatura ideal de funcionamento e o depósito ficasse mais vazio para começar a rodar rápido. Por isso o espanhol, que se estreou no pódio aos comandos da Aprilia RS-GP em Assen, está a ser o mais beneficiado pela introdução desta nova carenagem com “barriga”. Aliás, desde que a experimentou, nunca mais o “Top Gun” a deixou de usar!

Mas as novidades aerodinâmicas continuam… mais atrás!

Tal como a Ducati surpreendeu há uns anos com uma carenagem dianteira que ficou conhecida como “Hammerhead”, por lembrar a cabeça de um tubarão martelo, a Aprilia surpreendeu tudo e todos quando já em 2022 se apresentou em pista com uma asa traseira!

Talvez esta seja a solução mais radical que vimos chegar ao MotoGP nos últimos tempos. Mas ainda não foi usada em situação de corrida, pelo menos para já, o que demonstra que nem mesmo Aleix Espargaró ou Maverick Viñales estão prontos para arriscar. Porém, o segundo classificado do mundial, Aleix, já referiu que sente diferenças no comportamento da moto quando a mesma está a usar a radical asa traseira. Mas não especificou que tipo de diferenças sente… afinal, o segredo ainda é a alma do negócio!

Sendo uma asa de dimensões tão contidas, podemos pensar que a mesma apenas tem efeitos realmente notórios a alta velocidade. O objetivo será criar força descendente na traseira da moto, aumentando a aderência. Mas também podemos imaginar que a asa traseira poderá ajudar a manter a roda traseira mais perto do solo nas travagens a alta velocidade.

Se esta solução aerodinâmica de facto faz mais sentido a alta velocidade, não é difícil imaginar que no momento em que o piloto inicia a travagem a mais de 300 km/h, o efeito de força descendente provocado pela asa traseira estará no seu apogeu. O pneu traseiro Michelin ficará mais tempo em contacto com o asfalto, e ajudará os pilotos da Aprilia RS-GP a curvarem de uma forma mais “natural”, sem serem obrigados a um esforço físico tão elevado.

Por tudo isto, e muito mais, a Aprilia RS-GP deixou de ser a moto indesejada pela grande maioria dos pilotos, desde os mais experientes até aos “rookies”. Hoje em dia, e quando iniciamos uma fase decisiva da temporada de MotoGP, a moto italiana está a permitir a Aleix Espargaró lutar pelo título com Fabio Quartararo (estão separados por 21 pontos com vantagem para o francês da Yamaha), enquanto Maverick Viñales voltou a sorrir… o que já não acontecia há muito tempo!

Fique atento a www.motojornal.pt pois iremos continuar a acompanhar de perto todas as novidades sobre MotoGP, com especial destaque para tudo o que respeita ao futuro de Miguel Oliveira. A não perder!