MotoGP 2023 – Afinal as equipas podem usar centralinas diferentes?

O regulamento de MotoGP diz que as centralinas de todas as motos têm de ser iguais. Mas a falta de semi-condutores está a impedir que se cumpra o regulamento.

Estamos a poucas semanas do início da temporada 2023 de MotoGP, e antes disso teremos ainda uma derradeira sessão de teste oficial da categoria rainha no Autódromo Internacional do Algarve. Num momento da pré-temporada em que os protótipos de MotoGP estão em fase final de preparação, surgem notícias de que existem dificuldades em cumprir com os regulamentos desta categoria.

Nomeadamente o regulamento que define que todas as motos de MotoGP têm de estar equipadas com a mesma centralina, ou ECU – Engine Control Unit, e que neste caso é fornecida exclusivamente pela Magneti Marelli.

Voltando um pouco atrás no tempo, mais precisamente até 2016, os regulamentos técnicos foram revistos de forma a obrigar todos os fabricantes e respetivas equipas a utilizarem uma centralina única.

Desta forma a Dorna e a Federação Internacional de Motociclismo, tal como sucede com a questão dos pneus Michelin iguais para todos, pretendia reduzir custos no desenvolvimento dos cada vez mais evoluídos pacotes eletrónicos de um protótipo de MotoGP, e ao mesmo tempo equilibrar a competição, dando a possibilidade das equipas satélite ou privadas de usufruírem de uma centralina igual às motos de fábrica.

motogpEssa centralina, fabricada e fornecida exclusivamente pela Magneti Marelli, tem sofrido algumas alterações, e a mais recente evolução estava planeada ser utilizada na temporada 2023 de MotoGP. Porém, a dificuldade no acesso a materiais necessários ao fabrico das centralinas, principalmente os semi-condutores, levou o fabricante a não conseguir disponibilizar a nova ECU 2023 a todas as equipas.

Esta centralina atualizada deveria ter sido usada já no teste oficial de MotoGP em Sepang, mas apenas algumas equipas de fábrica.

Recordamos que cada piloto tem à disposição duas motos na sua box, e sendo que temos 22 pilotos a tempo inteiro no campeonato, isso obriga a Magneti Marelli a fornecer um total de 44 centralinas iguais para todas as equipas.

A questão sobre a impossibilidade de todas as motos utilizarem a mesma centralina, cumprindo assim com os regulamentos há muito definidos, nem teria sido colocada em termos públicos.

Porém, Massimo Rivola, CEO da Aprilia Racing, num momento em que abordou as diferenças entre as motos da equipa de fábrica Aprilia Racing e da equipa satélite CryptoData RNF, onde milita Miguel Oliveira, referiu claramente que as motos iriam utilizar centralinas diferentes.

motogpA partir desse momento o portal francês Paddock-GP decidiu questionar alguns intervenientes sobre o que se estava a passar com as centralinas. E descobriu alguns detalhes mais concretos:

– Durante a temporada 2022, a Magneti Marelli encontrou dificuldades em garantir os componentes necessários a fabricar as novas centralinas 2023, nomeadamente os referidos semi-condutores;

– As pequenas mudanças no hardware da ECU obrigam os fabricantes a utilizar novos conectores e cablagens diferentes adaptadas à versão 2023 deste “cérebro eletrónico”, e isso também se revelou algo problemático, precisamente devido às dificuldades na obtenção dos componentes eletrónicos para adaptar as motos à nova centralina;

– A Ducati, e possivelmente outros fabricantes, como é o caso da Aprilia, pediu uma autorização especial para continuar a utilizar as centralinas de 2022 nas motos satélite;

Entretanto, durante o teste de Sepang, a Magneti Marelli pediu a algumas equipas que testaram a ECU 2023 para confirmarem que o software e os dados recolhidos pelo sistema é igual ao da versão 2022. Essa situação parece ter sido confirmada, apenas alguns problemas que serão facilmente resolvidos, e com os engenheiros de cada equipa que experimentou a ECU nova a referirem que encontraram as mesmas informações de referência que tinham da ECU de 2022.

No seguimento do teste, e segundo reporta o portal italiano GPone, a MSMA – Associação de Fabricantes, já está a tentar solucionar esta questão. Sem centralinas 2023 suficientes para entregar a todas as equipas, a MSMA acredita que existem duas possibilidades: iniciar-se o campeonato com todas as motos equipadas com a ECU 2022, ou, em alternativa, as equipas de fábrica utilizam a ECU 2023 e as satélite mantêm a centralina que já usavam até ao momento em que a Magneti Marelli consiga garantir o fornecimento de todas as centralinas de 2023.

A verdade é que a questão de o regulamento não estar a ser cumprido parece não levantar grande polémica no paddock de MotoGP.

Tudo porque, como explicou a Magneti Marelli, e confirmado depois pelos resultados das análises durante o teste oficial em Sepang, as novidades prendem-se apenas com um hardware mais atual, mais potente, com mais capacidade de processamento, sendo que o software da ECU é igual à versão antiga. Aparentemente o regulamento pretende definir que o software será igual para todos, não impedindo a utilização de diferentes versões do hardware da centralina.

Ou seja, na prática não parece existir ganho de performance ao usar a nova centralina 2023, e por isso deveremos ter motos de fábrica equipadas com a mais recente versão da ECU, enquanto as satélite, pelo menos num momento inicial da temporada, deverão continuar com a versão anterior.

Ficaremos atentos a toda esta situação e aos seus desenvolvimentos, precisamente numa altura em que estamos a muito poucos dias de começar o derradeiro teste oficial de pré-temporada no Autódromo Internacional do Algarve, dias 11 e 12 de março, sendo que o traçado algarvio acolhe também o Grande Prémio de Portugal de 24 a 26 de março.

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