Mais uma vez sob condições de temperatura verdadeiramente escaldantes que levaram os pilotos à exaustão física, disputou-se este domingo de manhã a corrida principal do Grande Prémio da Indonésia de MotoGP, com apenas 19 pilotos a ocuparem as suas posições na grelha de partida depois de Maverick Viñales (Red Bull KTM Factory) ter optado, na verdade já tinha feito isso no sábado, por desistir de competir em Mandalika devido a lesão no ombro direito.
Com 27 voltas previstas para esta corrida da categoria rainha no traçado indonésio, muitos antecipavam que Marco Bezzecchi (Aprilia Racing) conseguisse uma vitória ‘tranquila’, pois até agora tinha mostrado estar num patamar superior a todos os outros pilotos.
Já para alguns pilotos, a corrida de hoje foi a oportunidade para arriscar em algo diferente. Nomeadamente com os pneus. Um desses pilotos a arriscar foi Miguel Oliveira (Prima Pramac Yamaha), que, tal como tinha antecipado já nas suas declarações após a corrida Sprint, decidiu montar um pneu traseiro macio na esperança de que isso pudesse superar as dificuldades da YZR-M1 neste circuito.
Foi assim que tudo se preparou para uma longa corrida do Grande Prémio da Indonésia de MotoGP. Uma corrida que foi tudo menos aquilo que se esperava…
Assim que os semáforos se apagaram, Marco Bezzecchi voltou a falhar por completo o arranque, tal como na Sprint, e a Aprilia #72 afundou-se na classificação. Com o italiano da marca de Noale a não aproveitar a sua “pole position”, quem rapidamente surgiu no topo da classificação foi Pedro Acosta (Red Bull KTM Factory) que arrancou de 5º e num instante estava então em 1º.
Mas atrás do espanhol da KTM ficaram posicionados diversos pilotos com bom ritmo em Mandalika. Luca Marini (Honda HRC Castrol), Fermín Aldeguer (BK8 Gresini Racing), Alex Rins (Monster Energy Yamaha), ou ainda Raul Fernández (Trackhouse Racing). Tudo isto levou Acosta a não poder descansar.
Quem não esteve na discussão pela vitória neste Grande Prémio da Indonésia foram dois dos grandes destaques da atual temporada.
Marco Bezzecchi, na sua tentativa inicial de tentar recuperar rapidamente posições que tinha perdido, posicionou-se atrás de Marc Márquez (Ducati Lenovo Team) e procurou logo na primeira volta uma trajetória interior numa curva rápida à direita. O novo campeão de MotoGP não tinha deixado ‘porta aberta’ para o italiano vencedor da Sprint tentar ali uma ultrapassagem, e quando Bezzecchi percebeu o erro cometido, já era tarde.
Ainda tentou travar no limite para evitar o contacto na traseira da Ducati de Marc Márquez, mas o contacto foi mesmo inevitável. No seguimento do contacto, Márquez imediatamente caiu e foi a deslizar a alta velocidade pelo asfalto até entrar na gravilha (muito alta!) na escapatória da curva, enquanto Bezzecchi ainda entrou na gravilha com a sua moto direita, mas viria a cair logo a seguir.
Bezzecchi foi levado ao Centro Médico do circuito de Mandalika, mas não se sabe se tem alguma lesão.
Já Marc Márquez, que saiu da escapatória agarrado ao braço direito, foi levado ao Centro Médico onde foi diagnosticada uma possível fratura na clavícula direita. O agora campeão de MotoGP de 2025 vai viajar para Espanha onde será submetido a mais exames, mas tudo indica que falhará as próximas rondas de MotoGP tendo em conta que o título está garantido e não valerá a pena arriscar num regresso antecipado, podendo recuperar tranquilamente desta lesão.
Sem estes dois protagonistas em pista, outros protagonistas assumiram o papel principal.
Pedro Acosta foi-se mantendo na liderança na frente de um grupo de quatro pilotos que incluiu Luca Marini, Raul Fernández e ainda Fermín Aldeguer. E seria mesmo Aldeguer que surpreendeu tudo e todos ao aproveitar alguns ataques e contra-ataques para subir inicialmente a 2º na quinta volta do GP da Indonésia, e duas voltas depois lançou um ataque à liderança de Acosta.
A partir do momento em que apanhou ‘caminho livre’ à sua frente, o “rookie” aos comandos da Ducati Desmosedici GP24 #54 da BK8 Gresini Racing não teve qualquer adversário à sua altura!
Aldeguer foi abrindo uma boa margem de segurança para os seus perseguidores, primeiro por ser muito rápido e consistente volta após volta, mas também porque beneficiou muito dos ataques que foram acontecendo entre o trio que o perseguia.
Com naturalidade, a diferença entre o líder e os perseguidores subiu de forma assinalável. Sensivelmente a meio das 27 voltas a cumprir neste Grande Prémio da Indonésia já estavam separados por 5 segundos, e a diferença continuou a aumentar até aos mais de 9 segundos.
Por essa altura, Fermín Aldeguer passou a gerir os riscos e abrandou um pouco, mas ainda assim viria a cruzar a meta e receber a bandeira de xadrez com quase 7 segundos de vantagem para o segundo classificado.
Isto significa que Fermín Aldeguer consegue, para além da sua primeira vitória de sempre em MotoGP, tornar-se no primeiro “rookie” a vencer um GP desde Jorge Martín em 2021 e torna-se ainda no segundo piloto mais jovem de sempre a vencer na categoria rainha. Esta era a sua última oportunidade para alcançar esse feito, e não a desperdiçou! Aldeguer está apenas atrás de Marc Márquez nessa lista: o mais jovem dos espanhóis vence uma corrida com 20 anos e 183 dias de idade, enquanto o mais velho dos dois espanhóis venceu com 20 anos e 63 dias de idade.
Atrás do vencedor, o grupo de pilotos animou-se e muito quando aos três que lutavam pelas duas posições do pódio se juntaram muitos outros pilotos vindos de trás, que estavam também prontos a discutir então as posições de pódio. Formou-se um grupo interessante e muito ativo na discussão de posições.
Nessas batalhas que foram alterando a classificação quase a cada volta, e mesmo sofrendo muito para manter os rivais atrás de si, foi Pedro Acosta a conseguir levar a melhor e a garantir então um saboroso 2º lugar neste domingo, enquanto Alex Márquez (BK8 Gresini Racing), ‘calmamente’, foi subindo na classificação e quase sem ninguém dar por isso recebeu a bandeira de xadrez em 3º, um resultado que lhe garante já o título de Melhor Piloto Independente de 2025 em MotoGP.
Nesta corrida onde vários pilotos estiveram em posição de discutir os lugares de pódio no que foi uma das melhores corridas da temporada a esse nível, se não mesmo a melhor, podemos também destacar o desempenho de Brad Binder (Red Bull KTM Factory). O sul-africano da KTM arrancou de 15º na grelha de partida e fechou a corrida num fantástico 4º lugar! Uma recuperação de nada menos do que 11 posições.
Em sentido contrário, destacamos a prestação de Francesco Bagnaia. O italiano que dominou no Japão como quis, não esteve nunca verdadeiramente ‘em pista’. O #63 da Ducati Lenovo Team rodou sempre no último lugar a um ritmo muito longe dos demais, e para piorar a sua situação viria a sofrer uma queda que levou ao abandono.
Quanto à corrida de Miguel Oliveira, o português arriscou na performance mais imediata do pneu macio traseiro para garantir que posicionava a sua Yamaha YZR-M1 #88 nas posições que lhe dessem mais pontos. Um risco calculado, mas que dependeria, claro, de conseguir ultrapassar vários pilotos logo nas primeiras voltas antes do pneu macio se desgastar na segunda metade do Grande Prémio da Indonésia.
Durante a primeira metade da corrida vimos Miguel Oliveira a pressionar o seu companheiro de equipa Jack Miller, enquanto os dois pilotos da Prima Pramac Yamaha procuravam manter-se ‘colados’ à batalha pelos lugares de Top 5 integrando então o grande grupo de pilotos que animou muito esta corrida em Mandalika.
Na 17ª volta, Miguel Oliveira, que estava mais rápido do que Miller, mas não o tinha conseguido ultrapassar até então, arriscou, travou mais tarde e procurou tapar o caminho ao australiano que, no entanto, encontrou forma de recuperar o 9º lugar. Nesse ataque, Miguel Oliveira perdeu muita velocidade e ficou então à mercê dos dois pilotos da Pertamina Enduro VR46.
Franco Morbidelli foi o primeiro e depois foi a vez de Fabio di Giannantonio. E isto fez com que Miguel Oliveira descesse até 12º, numa altura em que claramente a sua performance por volta baixou consideravelmente – aguardamos as explicações do #88, mas tudo indica que tenha sido devido ao pneu traseiro macio desgastado –, sendo que o piloto português viria ainda a ganhar uma posição devido à queda de Jack Miller nas voltas finais (o australiano viria a regressar à prova e não desistiu).
Isto significa que Miguel Oliveira adicionou 5 pontos à sua conta pessoal no campeonato, e se a isso lhe juntarmos o ponto conquistado na Sprint, faz com que este Grande Prémio da Indonésia tenha sido um dos seus melhores do ano, não apenas pelos pontos que somou, mas também pela qualificação e pelo ritmo ao longo do fim de semana.
Resultados do GP da Indonésia de MotoGP
1 – Fermín Aldeguer (BK8 Gresini Racing)
2 – Pedro Acosta (Red Bull KTM Factory)
3 – Alex Márquez (BK8 Gresini Racing)
4 – Brad Binder (Red Bull KTM Factory)
5 – Luca Marini (Honda HRC Castrol)
6 – Raul Fernández (Trackhouse Racing)
7 – Fabio Quartararo (Monster Energy Yamaha)
8 – Franco Morbidelli (Pertamina Enduro VR46)
9 – Fabio di Giannantonio (Pertamina Enduro VR46)
10 – Alex Rins (Monster Energy Yamaha)
11 – Miguel Oliveira (Prima Pramac Yamaha)
Classificação de MotoGP
1 – Marc Márquez – 545 pontos
2 – Alex Márquez – 362 pontos
3 – Francesco Bagnaia – 274 pontos
4 – Marco Bezzecchi – 254 pontos
5 – Pedro Acosta – 215 pontos
6 – Franco Morbidelli – 207 pontos
7 – Fabio di Giannantonio – 191 pontos
8 – Fermín Aldeguer – 181 pontos
9 – Fabio Quartararo – 158 pontos
10 – Johann Zarco – 128 pontos
21 – Miguel Oliveira – 32 pontos
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