Pablo Quitanilla fala sobre o Dakar 2020

Depois de ter estado no pódio do Dakar, ao terminar em terceiro em 2016, Pablo Quitanilla, piloto Rockstar Energy Husqvarna, fez este ano o seu melhor resultado de sempre, ao terminar em segundo, vencendo duas etapas.  

Para Pablo Quintanilla, a passada edição do Dakar na Arábia Saudita foi a sua oitava participação, e aquele onde obteve o seu melhor resultado até agora, vencendo duas etapas, número que também não tinha conseguido até esta edição. O chileno de 34 anos, bi-campeão mundial de Rally Cross-Country da FIM, foi um dos protagonistas do Dakar 2020, que deixa recordações agri-doces.

O Dakar 2020 foi realizado numa nova localização, como é que o comparas com as edições anteriores em termos de terreno e condições? Foi mais fácil ou difícil que as edições sul-americanas? Este Dakar foi um novo capítulo para toda a gente. É difícil comparar com as outras edições, porque embora tenham coisas em comum, há pormenores que as tornam diferentes. Na Arábia Saudita fiquei impressionado pela enormidade do deserto, nalguns locais há montanhas, vales e zonas rochosas onde parece que estamos noutro planeta.

Fazia muito frio de madrugada e à noite, completamente diferente da América do Sul, e isso também tornou as ligações em estrada mais difíceis antes das especiais. Mas fazer as etapas com menos calor é mais agradável, pelo menos permitiu-me conservar energia até ao final.

Este foi o teu oitavo Dakar e também o teu melhor resultado. Deves sentir-te bem por isso? Competi em diversos Dakar, nalguns não consegui terminar, fiquei duas vezes em quarto lugar, uma vez em terceiro e agora em segundo. Algo que nenhum outro piloto do Chile ou de outro país sul-americano conseguiu. É uma grande sensação e enche-me de orgulho, mas a coisa mais importante é que me dá uma grande motivação para continuar a procurar a vitória.

Os últimos 12 meses foram uma longa e por vezes difícil jornada após a tua lesão no Dakar de 2019. Podes falar-nos desse período entre os dois Dakar? Agora olho para trás e vejo todos os desafios que tive que ultrapassar. No ano passado estava perto de terminar nesta posição quando me magoei. Compreendo que a coisa mais importante é o caminho que percorremos e não o destino em concreto. Aprendi muito nos últimos 12 meses, e isso ensinou-me sobre a vida.

Podes falar-nos sobre a quarta etapa? Em todos os outros dias terminaste entre os 10 primeiros, mas nesse dia foste 14.º. Disseste que «por vezes encontramos algumas dificuldades»… Foi a etapa mais dura que enfrentámos, com navegação complicada e um terreno misto com pedras, rios secos e estradas de montanha. A verdade é que não me sentia muito confortável. Tive um problema com o travão dianteiro e foi difícil manter a concentração. Depois cometi um par de erros com o road book que me custaram ainda mais tempo. Depois disso decidi apenas chegar em segurança e concentrar-me no dia seguinte.

Aprendeste alguma coisa neste Dakar de modo a que possa melhorar no próximo? Tive um Dakar com altos e baixos, mas desfrutei e o estive totalmente empenhado, porque sinto uma grande amor e respeito pelo meu desporto. Dei o meu melhor, como sempre, e venci duas etapas. Temos que tentar e encontrar uma maneira de desfrutar todos os dias, porque de outro modo o Dakar pode ser demasiado cansativo.

Houve alguma etapa em especial em que tenhas desfrutado mais este ano? A nona etapa ficará na minha memória e no meu coração para sempre. Começámos a ligação de 370 km muito cedo pela manhã, muito frio, um pouco escuro, e foi difícil para mim puxar depois da morte do Paulo. Foram muitos sentimentos em pista, mas sou um profissional e sabia como controlar as minhas emoções para conseguir o objectivo. Comecei a sentir-me bem, procurei um ritmo agressivo e quando o alcancei, pressionei o máximo que pude e venci essa etapa em honra do Paulo e de toda a sua família.

O Dakar é um verdadeiro esforço de equipa – o apoio da tua equipa é essencial, mas qual é o segredo para não dar em maluco ao passar tanto tempo juntos durante duas semanas? O Dakar é uma prova tão dura e longa que exige o máximo esforço e paixão de todos os que fazem parte da Rockstar Energy Husqvarna. A maior parte da equipa está junta há muitos anos no campeonato do mundo e no Dakar, por isso conhecemo-nos muito bem e aprendemos a respeitar o espaço uns dos outros. O mais importante é que somos profissionais e colocamos o nosso dever à frente das emoções pessoais.

Olhando para o futuro, quais são os planos para 2020? Manter a forma, ser rápido e ganhar corridas? O meu próximo plano para 2020 é tirar um par de semanas de férias. Preciso de descansar e esquecer a competição por uns tempos e ter que tomar o pequeno-almoço às três da manhã! A 17 de Fevereiro recomeçarei a treinar e então terei todo o gosto em voltar a falar de competição.

Palmarés

2013

– Primeira participação no Dakar (Honda), abandono

– 6.º no Rally da Argentina

– 22.º no Mundial de Rally Cross-Country da FIM

2014

– Abandono no Dakar (KTM) 2015

– 4.º no Dakar (KTM)

– 1.º no Rally do Atacama

– 3.º no Rally dos Emirados Árabes Unidos

– 5.º no Mundial de Rally Cross-Country da FIM

2016

– 3.º no Dakar (Husqvarna)

– 1.º no Rally da Argentina

– 2.º no Rally do Qatar

– 3.º no Rally dos Emirados Árabes Unidos

– 3.º no Rally de Marrocos

– Campeão Mundial de Rally Cross-Country da FIM

2017

– Abandono no Dakar (Husqvarna)

– 1.º no Rally do Atacama

– 2.º no Rally dos Emirados Árabes Unidos

– Campeão Mundial de Rally Cross-Country da FIM

2018

– 8.º no Dakar (Husqvarna)

– 3.º no Rally da Argentina

– 3.º no Rally do Atacama

– 1.º no Rally dos Emirados Árabes Unidos

– 2. no Mundial de Rally Cross-Country da FIM

2019

– 4.º no Dakar (Husqvarna)

– 1.º no Rally do Atacama

– 2.º no Rally de Marrocos

– 7º no Mundial de Rally Cross-Country da FIM

2020

– 2º no Dakar (Husqvarna)