Que dizia o pai de Miguel Oliveira há seis meses?

A Motojornal na sua edição nº 1478, de 13 de Março de 2020, publicava uma entrevista com Paulo Oliveira, o pai do homem do momento no MotoGP. Há seis meses, contava-nos com orgulho o percurso desportivo de Miguel Oliveira, mas ainda com o objectivo da consagração do filho na classe rainha por alcançar. Este fim-de-semana, o sonho passou a realidade.

Texto Domingos Janeiro • Fotos Bruno Ribeiro/KTM

O Circo do MotoGP

Paulo Oliveira é uma das caras bem conhecidas do Paddock do MotoGP, pois além de ser pai do Miguel Oliveira é o seu agente. Discreto, mas determinado, tem conseguido ajudar o filho a concretizar os sonhos e mais que isso, ajudou a tornar o Miguel num dos pilotos mais cobiçados do momento.

É a cara que todos nos habituámos a ver sempre ao lado do Miguel, tanto nas horas boas, mas principalmente, nas horas más. Um coração que bate tanto alegria, como determinação, amor incondicional pelo filho e a procura incessante pelo melhor caminho a seguir, pelo seu piloto. O seu caminho, nas motos, começou a ser traçado há muitos anos, ainda em criança, mas só aos 23 anos reuniu condições para se estrear na competição. Começou por fazer o campeonato de resistência, no qual se sagrou campeão nacional, com passagem pelo mundial de resistência em 2003, nas 12h00 de Albacete. Embora curta (correu apenas três anos, entre 2001 e 2004), a carreira desportiva de Paulo Oliveira ficou marcada por um título e muita competitividade em pista. Em 2004 decidiu retirar-se da competição para passar a acompanhar a carreira do seu filho Miguel. Nesta segunda parte da entrevista, focamo-nos na sua carreira de Agente e na carreira desportiva do Miguel.

Foi o teu passado que motivou a chegada do Miguel à competição? Sim, sem dúvida que foi um incentivo para a estreia do Miguel na competição. Nessa altura acompanhava muito as concentrações e o Miguel, que teria na altura uns dois anos, levava a moto4 e por lá andava. Eram momentos muito bons em que nos divertíamos muito. Inevitavelmente, com as corridas, o Miguel começou a gostar muito de tudo o que envolvia a competição.

Da paixão à competição, sempre foste o incentivo?Não! Foi exactamente o contrário! O meu filho foi muito desejado e agradeço o facto de o ter, todos os dias. O que eu procurei com o Miguel foi divertir-me com ele o máximo em todos os momentos, desfrutar ao máximo da relação pai/filho. O que aconteceu depois, foi uma consequência. Quando começou a correr em 2004 e a destacar- se divertia-me mais a vê-lo andar do que eu competir. Parei de correr e comecei a focar-me em acompanhá-lo porque nos divertíamos mais. Em 2005 foi um ano de muitos quilómetros, muitas corridas, muitos campeonatos e divertimo-nos mesmo muito. Não posso comparar com os outros pais, mas conheço poucos que se consigam divertir tanto quanto nós nos divertíamos quando o Miguel tinha 10 anos de idade.

Há medida que foram entrando em equipas e campeonatos mais competitivos foste notando que o meio era mais cruel do que pensavas? Há uma coisa que é inevitável quando tens sucesso: tens muitas pessoas que se querem aproveitar de ti, associar-se ao teu sucesso para terem notoriedade. Ainda hoje existem. Faz parte da vida. Acaba por ser normal e cabe a ti decidir até onde as deixas entrar…

Nunca sentiste que seres pai e agente poderia condicionar a carreira dele? É algo bastante interessante. Até podia ser assim como referes, mas vou-te contar um episódio que aconteceu no final de 2005, início de 2006. Fui abordado por um senhor espanhol, que me ofereceu um milhão de euros para gerir a carreira do meu filho, assegurando-me que garantia a progressão do Miguel até ao MotoGP. Obviamente nessa altura, um milhão de euros era muito dinheiro e eu fiquei a pensar… Mas sempre encarámos o motociclismo e o que fazíamos como diversão, onde o que mais interessava era tirar o maior prazer possível dessa diversão. O meu filho não estava à venda e não era um milhão de euros que pagava o que eu acho que ele valia, e vale. O objectivo até determinada altura não era ganhar dinheiro, o objectivo era o quanto nos divertiamos e qual o sonho a seguir. Imagina o trajecto como uma escada da vida, em que vais subindo degraus, atingindo objectivos e conquistando os teus sonhos, degrau após degrau. Foi o que nós acabámos por fazer de forma muito coerente e nos esforçámos ao máximo por partilhar com as outras pessoas.

Como te preparaste para ser gestor de carreiras? Digamos que acabou por ser um caminho autodidacta. Acima de tudo, para seres agente desportivo, o atleta deve identificar-se totalmente contigo, para que esteja o mais à vontade possível para o representares. Esta relação que sempre existiu entre mim e o Miguel deu-me a oportunidade dele me eleger para falar por ele. Outra coisa que temos é uma total transparência e isso significa que o que faço é procurar soluções e apresentar ao Miguel. Sempre foi o que fiz. Apresentei diversas opções, dei a minha opinião, mas a decisão final foi sempre do Miguel. No fundo, sempre foi ele que fez o seu caminho. Tive que estudar marketing e comunicação, fui interagindo com outras pessoas do meio e agora conto com alguma experiência na área, que é fundamental. Há muito trabalho para fazer, mas creio que sempre estivemos à altura.

Tiveste alguma divergência grave com alguma equipa? Não, sinceramente não. Em 2011, quando o Miguel entrou para o campeonato do mundo, a equipa a dada altura teve dificuldades económicas. Embora nos tenham acusado da falta de pagamento, o que é certo, é que não havia nenhuma cláusula no contrato que obrigasse a qualquer pagamento, era esse o acordo. No entanto, somos nós que ainda estamos em crédito face aos adiantamentos das viagens e que eram da responsabilidade da equipa. Na altura, contrataram o Brad Binder porque ele podia pagar e permitir à equipa continuar em pista e fazer a ronda asiática. Esta equipa era o Team Machado e foi o único percalço que tivemos até agora na carreira do Miguel.

Oliveira, Moto2, Austrian MotoGP 2018

Foi então que chegou o negócio com a KTM? O valor do Miguel enquanto piloto era bem conhecido desde os tempos do campeonato de Espanha onde no primeiro ano de corridas foi 3º classificado num campeonato super-competitivo. O Miguel destacou-se com o Maverick Viñales, que era seu companheiro de equipa. No segundo ano, acabou o campeonato a lutar pelo título com o Maverick, acabando por ser segundo, devido a uma queda em Albacete quando dobrava um piloto atrasado. Isto são resultados importantes para os chefes das equipas, como o Aki Ajo ou o Emílio Alzamora, que estão sempre muito atentos. Quando aconteceu este desaire de não terminar o primeiro ano de entrada no mundial, o Emílio Alzamora já tinha manifestado o interesse no Miguel e o Aki Ajo também. O Aki chegou primeiro e assinamos um pré-contrato para corrermos em 2012 em Moto3. Entretanto, consegui com o Emílio Alzamora que o Miguel fizesse as últimas provas do CEV. Foram as primeiras corridas disputadas em Moto3 na Europa com uma moto que a Monlau ajudou a desenvolver, a Honda NSF 250. Fizemos um teste em Albacete, as corridas em Jerez e Valência, que o Miguel venceu frente às 125 cc 2T, algo que ninguém pensava ser possível acontecer. Nessa altura, já sabíamos que o Marc Márquez iria correr em Moto2 em 2012 e em 2013 ia mudar o regulamento para que os rookies pudessem entrar nas equipas de fábrica em MotoGP. O que se previu acontecer era o Miguel herdar a estrutura de Moto2 do Marc Márquez e fazer um percurso de Moto3, Moto2 e veríamos se no futuro chegaria ou não ao MotoGP. Naturalmente que sendo o Emílio o Manager reconhecido que é, não duvidamos da situação. Mas havia o pré-contrato com a KTM… Optámos por seguir com a Monlau e fazer cair o pré-contrato com a KTM! Foi um balde de água fria para o Aki Ajo, até porque aparentemente a KTM nesse ano colocava as fichas no Sandro Cortese e desistiram em benefício do Miguel…

Depois vem a Mahindra … Sim, curiosamente, alguém da Dorna, que por altura do GP de Mugello me aborda e me aconselha a falar com o Aspar porque iria sair um piloto da estrutura deles e iriam precisar de um piloto. Em causa estava a questão do Emílio querer três lugares na grelha em 2013 mas não os conseguir e o Miguel iria ficar fora da equipa Monlau, porque por contrato o Emílio parecia estar obrigado a subir o Alex Marquez e o contrato que tinha com a Repsol obrigava-o a ficar com o Alex Rins. Como o Emílio não ia conseguir ter os três pilotos, chegámos à conclusão que o Miguel seria dispensado. De repente vejo-me sem KTM, sem Honda e, mesmo sem saber nada da parte do Emílio, dei crédito ao que me contaram e decidi fazer uma proposta ao Eskil Suter oferecendo os serviços do Miguel à Mahindra. Foi então que montei toda a estrutura da Mahindra, com as pessoas que nós achávamos serem as correctas, com as motos e motores que a Suter estava a desenvolver. Propus então o projecto ao Mufaddal Choonia, foi muito bem aceite e entretanto entrou o Efrén Vásquez que deu ainda mais valor ao projecto. Assinámos um contrato com uma moto que só existia no papel, mas com um dado muito curioso. Consegui contratualmente um lugar para o Ivo Lopes ser piloto de testes, que nunca aceitou…

Em 2015 o Miguel assina com a KTM. Foste bem recebido? Em 2014, quando o Jack Miller assinou o contrato com a KTM, era o Miguel que era para o ter feito… A abertura não foi propriamente fácil. Estava com o Miguel reunido com a Mahindra quando recebo um telefonema do Aki Ajo. Saí para atender e quando cheguei dentro do camião, o Miguel tinha assinado a extensão do contrato com a Mahindra. Tentei ao máximo romper a extensão do contrato, mas não foi possível e teve mesmo que correr em 2014 com a Mahindra… Mas deixei o caminho preparado e em 2015 o Miguel assina pela KTM e é vice-campeão do mundo. Teoricamente íamos para uma moto muito competitiva, mas a Honda deu um grande passo face à KTM que, chegou à primeira corrida sem a competitividade prevista. Na primeira ronda no Qatar, o Bagnaia colocou o Miguel para fora da pista na primeira curva, regressando em último destacado. O Miguel recuperou 16 segundos para o primeiro e acabou a meio do pelotão, fazendo uma corrida estrondosa, embora o resultado não o espelhasse, com uma moto que estava aquém do que era esperado. Não foi um ano fácil com a KTM, até que em Setembro, em San Marino experimentaram novas soluções e encontraram a fórmula mágica, levando o Miguel a vencer todas as corridas até ao final e a sagrar-se vice-campeão a poucos pontos do vencedor.

Oliveira, Moto2 race, Valencia MotoGP 2018

Em 2016 sobem de categoria. Ponderaste fazer mais uma temporada em Moto3? Sim. A KTM queria que o Miguel fizesse mais uma temporada de Moto3 e apontar ao título mundial, mas o Miguel queria dar o salto para Moto2. Assim, em 2016 surge, entre outras, a oportunidade de correr pela Leopard. O Engenheiro Christian Lundberg, apresentou-nos um projecto muito ambicioso onde não tive dúvidas que o Miguel terminasse no top 3, sobretudo pela forma como o projecto, teoricamente, estaria organizado. Isso não se verificou e houve diversos problemas durante a temporada, ao ponto do Miguel perder a confiança na equipa. Era uma equipa de gestão difícil porque era uma equipa familiar gerida pelos irmãos Kiefer.

Eis que surge em 2017 a KTM… Sim, em 2017 surge um projecto novo com a KTM. Recomeçar tudo do zero na Moto2. O chassis de conceito tubular, motores iguais, suspensões WP… Era ir de novo à descoberta e o Miguel não queria. No final do GP da Alemanha reuni com o Gresini e acordamos assinar para 2017. Apertámos a mão ao Gresini, mas durante o GP da Áustria, tudo mudou. Senti que o Miguel não estava feliz com a solução e convenci-o que o projecto KTM era a melhor solução para ele. É claro que tive a difícil tarefa de comunicar ao Gresini a intenção de ir para a KTM. Assim foi e assinamos com a KTM, um contrato onde previmos a entrada em MotoGP.

O que achas que faltou ao Miguel para ser campeão do mundo em Moto3 e Moto2? Nunca sabemos tudo e aprendemos diariamente. Mesmo agora, em MotoGP cada vez que se sai para a pista, aprendem-se coisas novas. O Miguel foi crescendo, desde o início da sua carreira e embora ele seja uma pessoa muito avançada tem-lhe faltado alguma sorte. Nós também nunca tivemos a melhor moto da grelha. O Miguel sempre foi o melhor piloto em Moto3 e Moto2, raramente foi segundo na KTM. Também houve, em determinadas ocasiões, falta de um trabalho de equipa mais eficaz para ajudar a alcançar os objectivos.

Mudavas alguma coisa no percurso do Miguel? Não, acho que faria tudo igual. Talvez o episódio da extensão do contrato com a Mahindra não se voltasse a repetir. De qualquer forma não há uma fórmula perfeita para ser. Este ano tens uma grande equipa, mas no ano já não vai ser a mesma coisa porque tudo muda, as pessoas mudam. O grupo de trabalho nem sempre se mantém igual.

Queres-nos esclarecer a questão com a KTM oficial no final de 2019? Devo-te dizer que não ficou nada por resolver! Existiu talvez uma falta de comunicação. Isto é um tema sensível, estamos a falar em MotoGP. Existem dois pilotos de topo na KTM, um é o Pol Espargaró e o outro é o Miguel Oliveira! Os outros chegaram agora. O Miguel e o Pol têm provas dadas. Efectivamente foi colocada a possibilidade ao Miguel de subir à equipa de fábrica. Nessa altura, subentendemos que o piloto que estava em cima da mesa para substituir o Zarco seria o Mika Kallio e pensámos que, atendendo ser o Mika Kallio, não seria um piloto que iria causar problemas ao futuro do Miguel. E estamos confortáveis com o grupo de trabalho que temos na Tech3, não fazia sentido mudar, até porque seria como mudar apenas para a porta ao lado. Não fazia sentido porque o Miguel teria de se adaptar a uma nova equipa de pessoas, aprender a forma de trabalho delas e tudo o resto que implica uma mudança. Obviamente que quando muda a regra do jogo e deixa de ser o Mika Kallio para passar a ser o Brad Binder, causa desconforto.

Havia vantagem passar para a equipa oficial? Sinceramente, acho que não! Da parte da Tech3, o Poncharal ficou satisfeito porque não perdeu o melhor piloto da estrutura e que pode fazer brilhar a Tech3. É sempre difícil para um piloto novo chegar, ver e vencer! Tens o caso do Quartararo que faz pole positions e ao fim da primeira curva está em décimo. É muito complexo. Por muito talento que o piloto tenha, se não houver um equilíbrio entre a moto e o piloto é difícil conseguir terminar uma corrida entre os pontos. Não consegues passar o teu oponente em aceleração, não é a potência que faz a diferença é a forma como colocas a potência no chão e a forma como a moto anda para a frente, ou seja, se a equipa não te conseguir dar isso, não consegues passar o teu oponente. É muito importante sair na frente da corrida.

A Tech3 tem acesso a tudo a que a equipa oficial tem? Em primeiro lugar tenho que te dizer que a Tech3 destaca-se por dois motivos: porque tem o Miguel Oliveira e porque as cores das motos foram e são muito felizes, pelo que logo aí se destacam na grelha. Em termos técnicos tenho que dizer que o Miguel está com um dos melhores técnicos do mundo, o Guy Coulon, que tem muita experiência com rookies, tem uma personalidade muito particular, é muito divertido. Trabalha-se em família e em termos técnicos há muita partilha, nós temos acesso aos dados do Pol Espargaro, eles têm acesso aos nossos. O Miguel tem testado algum material que o Pol Espargaro vai utilizar a seguir. O Miguel é muito bom a testar material. A mais-valia das equipas satélite é terem mais possibilidades de testar soluções e quanto mais motos tiverem em pista, mais hipóteses têm de ser bem-sucedidas. O esforço que a KTM está a fazer para 2020 em ter quatro motos na grelha é notável porque de facto consegue-se chegar muito mais longe e a prova disso foram os testes na Malásia que permitiram ter vários pilotos no segundo 58, o Pedrosa, o Miguel e o Pol.

Há quem diga que o Pedrosa depende mais da Tech3 do que da equipa oficial. É assim? Não é assim. O Pedrosa continua a ser um piloto de testes da KTM oficial, mas o Pedrosa identifica-se muito com o Miguel e têm estilos de condução semelhantes o que acaba por ter um fio condutor no desenvolvimento da moto. O Pol Espargaro é um piloto brusco, inconstante que tanto consegue fazer a “pole”, como depois não tem consistência que lhe permita manter o ritmo a corrida toda. O Miguel pode não conseguir voltas muito rápidas na qualificação, mas o que é facto é que depois em termos de ritmo na corrida é muito mais constante que o Pol.

Que podemos esperar em termos de resultado para o Miguel este ano? Este ano está muito competitivo, mas a resposta só posso dar depois da primeira corrida. A moto é 100% nova, desde o motor ao chassis, suspensões. Não tem um único parafuso da moto de 2019. O nosso objectivo é sempre vencer. Vamos trabalhar sempre nesse sentido.

2020 vai ser um ano muito importante para o Miguel… Sim, claro! Depois do que vimos na Malásia e no Qatar, o Miguel vai estar muito competitivo. Além disso, no plano pessoal, vai-se casar! No plano profissional, a KTM não entra em nada a brincar e o que eu vi na Malásia foi mesmo muito positivo, mas só em corrida nos vai ser possível perceber com maior exactidão onde está realmente a KTM.

2019 foi um ano de aprendizagem em MotoGP, com uma lesão. Achas que o Miguel vai estar recuperado na primeira corrida? Sim, foi um ano de boa aprendizagem. Acredito que o Miguel terá o ombro recuperado na primeira corrida do ano, pelo menos que possa ficar ainda mais consolidado do que está, ou do que esteve nos últimos testes, onde o ombro ainda incomodou. Mas creio que na primeira corrida, esse aspecto estará ultrapassado.

O Miguel tem contrato com a KTM até quando? Os resultados podem condicionar o futuro? Tem contrato até 31 de Dezembro de 2020. Sendo uma figura de destaque no paddock do MotoGP, coloca o Miguel não só na KTM mas em qualquer outra marca. Para já, a única equipa fechada para 2021é a Yamaha, as outras, estão todas em aberto. Ninguém tem contratos fechados para 2021. Obviamen- te que será prioridade das marcas fechar contrato com os pilotos que têm. Fala-se muito da possibilidade do Dovizioso poder terminar a carreira este ano, fala-se sobre o Petrucci não ser o piloto que a Ducati pensava que era…Há muitos jogos de bastidores entre equipas, pilotos, agentes e imprensa. Houve meios italianos que colocaram o Rins como tendo assinado contrato com a Suzuki para 2021, o que ainda não é verdade, assim como também não é verdade que tenham assinado com o Mir. Não é um problema para o Miguel continuar no MotoGP em 2021 ou em 2022, pode não ser na equipa que ele poderia desejar, eventualmente… Mas provavelmente a equipa que ele deseja é a equipa onde está agora. Os resultados não serão condicionantes porque o Miguel é uma das figuras do MotoGP, dos mais rápidos e toda a gente sabe que se tiver uma moto melhor do que a que teve em 2019 é piloto para disputar os pódios. Mas isso só vamos ver depois da primeira corrida. Como piloto, não tenho dúvidas que o Miguel é um candidato à vitória.

Temos outras equipas a namorar o Miguel? Porque continuar na KTM? Sempre tivemos outras equipas a namorar o Miguel. No entanto, houve a vontade por parte da KTM em prolongar o contrato por mais um ano, o que demonstra o valor do Miguel. O contrato era de um ano com possibilidade de extensão por mais um ano, algo que aconteceu logo em Austin, antes da corrida. O Miguel ficou automaticamente blindado. As marcas sabem que o Miguel está disponível no mercado, que tem contrato até ao final de 2020 mas também sabem que a nossa prioridade é renovar com a KTM. Não obstante disso, há equipas com vontade de ter o Miguel com eles, é uma vontade transversal ao paddock. Como agente considero que os pilotos que têm mais sucesso são aqueles que mais anos estão ligados à mesma marca. A KTM vai, dentro em breve, demonstrar todo o seu valor em MotoGP e precisa, naturalmente, de ter um piloto como o Miguel.

Quais são as principais características do Miguel? É um piloto muito trabalhador, e muitas vezes chega mesmo antes da equipa aos circuitos e essa é uma característica das mais fortes dele. Empenha-se muito em tudo o que faz. Depois tem uma forma racional acima da média, a forma como junta e analisa os dados é muito vantajoso para as equipas, a precisão com que ele revela cada detalhe é muito grande e muito apreciada por todos os engenheiros. Naturalmente que os técnicos falam muito entre eles e cobiçam o Miguel. Além da faceta enquanto piloto, enquanto pessoa é extraordinário.

O Miguel vai casar, achas que alguma coisa pode mudar? Sinceramente, acho que só há uma coisa que pode mudar, é eu ser avô (risos). Eles têm bem definido o projecto de vida e isso deixa-me muito orgulhoso. Para já, não têm previsto serem pais nos próximos três anos, o que significa que o Miguel irá continuar focado na sua carreira desportiva. Eles já vivem juntos há muito tempo.

Até quando pensas acompanhar o Miguel? Até ao final da sua carreira? Acho que o Miguel não precisa de ter manager. É suficientemente inteligente para gerir a sua própria carreira, como o Rossi ou os pilotos de F1. Continuarei sempre disponível para o que ele necessitar, para aquilo que ele achar que eu devo gerir, para o ajudar a tomar as decisões quando for necessário. Sou amigo dele, também pai, ajudo-o a tomar algumas decisões e procuro as melhores soluções para ele. As decisões finais sempre foi ele quem as tomou. Estou cansado de andar pelo mundo fora, fazer tantas horas de avião, tantas horas em aeroportos, hotéis… Gostava de aproveitar mais a família e abrandar o ritmo.

Em 2020 poderá ser o teu último ano enquanto agente? Sinceramente, não creio. Tenho tido a oportunidade de ser manager de outros pilotos, inclusivamente dentro do paddock de MotoGP e por coerência e por respeito ao Miguel temos chegado sempre ao mesmo consenso de ser manager exclusivo do Miguel e quando deixar de ser manager dele ele não irá ter outro…

Tens ordenado enquanto manager? Curiosamente já falámos muitas vezes sobre isso, inclusive este ano. Todos os agentes ganham uma percentagem sobre os contratos e este ano, como sabes, temos aqui o Fan Club, e todo o “incoming” do Merchandising é para investir na Oliveira Cup. Obviamente que, até por lei, sou obrigado a ter ordenado na empresa, assim como na outra empresa que temos de gestão de carreiras. No entanto, não tenho um ordenado fixo.

O Miguel já tem ordenado de jogador de futebol? Oxalá que sim. Ao contrário do que é divulgado na imprensa, relativamente a salários dos pilotos, e eu acho que tudo o que vem escrito não corresponde à realidade e não tens salários de jogador de futebol. Podemos falar de três ou quatro pilotos que tenham um ordenado mais elevado, na ordem dos três ou quatro milhões, mas a maioria dos pilotos, nem lá próximo.

O Fan Club tem instalações novas. O que está previsto passar aqui a acontecer? Este espaço foi uma ambição do Miguel e a consequência daquilo que é a Oliveira Cup. É um espaço que ainda não está concluído, com 780 m2 distribuídos por quatro pisos, entre os quais o espaço acessível ao público onde temos em exposição o espólio do Miguel e o Merchandising. Aí prevemos ter também acessórios para motos e motociclistas para venda, das marcas que apoiam o Miguel. Estamos também a construir um estúdio neste mesmo espaço para reunir alguns fãs do Miguel e debater as corridas em directo, numa eventual parceria com a Sport TV. Queremos criar condições diferentes para os fãs do Miguel e estamos a estudar diversas acções como cartões de desconto de combustível, descontos e vantagens em mais de 3000 associados do Chash Back, entre outros. O sócio e fã do Miguel tem que ser diferenciado e por isso tem que ter vantagens e condições diferentes dos demais. Temos previsto fazer diversos live streaming e podcasts com convidados à conversa com o Miguel. Isto tudo para que possamos aproximar ainda mais o Miguel dos fãs e vice-versa.

Qual o retorno da imagem Miguel Oliveira em 2019? Foi de 42 milhões de euros. As parcerias, quando envolvem um valor económico são sempre interessantes. Os atletas vivem dos acordos económicos que fazem com as marcas e as marcas vêm nos atletas os valores que promovem. O facto de teres muitas parcerias, significa que tens que disponibilizar muito tempo pessoal para responder a todas elas. O que fazemos é ter parcerias estratégicas que possam gerar muito retorno e que ambos os valores estejam em sintonia. São parcerias que ajudam de alguma forma a crescer como imagem, que fique mais perto dos fãs. As parcerias são muito importantes e permitem levar os atletas mais longe. Os patrocinadores querem continuar connosco o que significa que temos feito bem o nosso trabalho.

Há possibilidade de te vermos algum dia a candidatares-te a presidente da FMP? Jamais me candidataria à FMP porque considero que a FMP é como o Governo, por muita vontade que tenhas de ir para lá para mudar as coisas, o sistema está montado e és tu que tens que te adaptar ao sistema. Não consegues mudar o sistema. A única coisa que vais fazer é comprar guerras, passar por difamações e isso não vale a pena. O que poderia fazer sentido seria criar uma federação de iniciação na velocidade…

Por falar em política, como está a tua relação com o Presidente da FIM, Jorge Viegas? A determinada altura, em 2001, incompatibilizamo- nos por diversos motivos. Respeito o Jorge Viegas e dou-lhe mérito por ter alcançado o seu sonho de ser presidente da FIM. Mas esse estatuto não lhe dá direito a que opine sobre mim ou sobre a forma que o percurso do Miguel é gerido, muito menos junto de terceiras pessoas. É o seu jeito e não o faz por mal, é apenas para se enaltecer… Recentemente tive de o chamar à atenção sobre algumas declarações que fez, o que não é agradável.

E o regresso do MotoGP a Portugal, é mérito do Jorge Viegas? A regressar a Portugal e para Portimão, o mérito é inteiramente do Paulo Pinheiro. Embora o Jorge Viegas tenha dito publicamente que passou o processo do GP de Portugal para cima, é algo que até o descredibiliza no cargo que ocupa. A Dorna procura retirar o máximo de rendimento em cada GP e uma vez que o Miguel é tão acarinhado em Portugal, e não só, logo à partida é sucesso garantido, por isso, directa ou indirectamente o Miguel também teve participação nessa decisão.