Teste Indian Challenger Dark Horse

Quando a Indian Challenger foi apresentada no Salão de Milão em 2019, trouxe com ela um novo propulsor da marca americana, o PowerPlus.

Tivemos oportunidade de fazer um teste a Indian Challenger Dark Horse, num trabalho assinado por Vitor Martins para a edição nº 1502 da Motojornal, em fevereiro de 2021. A Indian Challenger foi apresentada no Salão de Milão em 2019 com a estreia do novo bloco PowerPlus, uma motorização que lhe deu uma pujança extra e do qual já aqui lhe falámos. Conheça agora as nossas impressões sobre este modelo da Indian Motorcycle.

Power Bagger

Neste segmento, apesar da dimensão dos motores, a potência, e prestações de um modo geral, não estão no topo da prioridade dos potenciais clientes. Mas isso não impediu a Indian de criar o seu mais potente motor de sempre e que foi montado na Challenger, apresentada no EICMA de 2020, e chegada ao mercado durante o ano passado.

O motor é o PowerPlus, uma unidade de dois cilindros em V a 60° de 1769 cc, uma árvore de cames a cada cabeça e quatro válvulas por cilindro, refrigerado por líquido. O nome PowerPlus não surgiu por acaso. É o nome do primeiro motor ‘flathead’ (de válvulas laterais) produzido pela Indian a partir de 1916, primeiro com 1000 cc, crescendo depois para 1189 cc. Chamaram-lhe Powerplus porque era o mais potente até então, com cerca de 16 cavalos.

Mais de 100 anos depois, a Indian volta a dar o nome ao seu mais potente motor feito até agora, desta vez com 121 cavalos de potência máxima e 178 Nm de binário. O Power Plus de 1769 cc teve como ponto de partida o motor de 1133 cc da Scout, adotando algumas das suas características, como as árvores de cames à cabeça, a refrigeração por líquido e as quatro válvulas por cilindro, mas com maior cilindrada, em busca de melhores prestações. O resultado foi extensamente testado, com mais de um 1,6 milhões de quilómetros realizados – 400 000 dos quais em estrada, os restantes em banco de ensaio – antes da aprovação para produção.

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Este generoso motor foi montado num quadro de alumínio fundido à volta do qual foi desenhada uma bagger, com uma volumosa carenagem dianteira que, porém, está fixa, em vez de rodar com todo o trem dianteiro. Depois, a Challenger parece que vai adelga- çando, a caminho do guarda-lamas traseiro; por isso, apesar de ser uma moto grande, tem uma forma bem fluída e até bastante elegante, e nesta versão Dark Horse, sem cromados e com o negro a contrastar com o ‘bronze fumado’, é bastante sóbria e distinta.

Com o amplo assento a apenas 672 mm do solo, é fácil subir a bordo da Challenger; o guiador é alto e largo, e à nossa frente o posto de comando é dominado pelo painel TFT de sete polegadas, que é a parte mais visível do sistema Ride Command; apesar de sensível ao toque, possui cinco botões físicos por baixo, como atalhos para funções específicas. Por cima, dois mostradores analógicos redondos estão reservados ao velocímetro e ao conta-rotações, e a todas as luzes avisadoras. O Ride Command, para além de funções como navegação, música e várias informações da moto, por exemplo, permite ainda o emparelhamento com o telefone, via Bluetooth ou USB. Os utilizadores de iPhone beneficiam do sistema Apple Carplay.

Graças à chave sem contacto, esta pode permanecer no bolso. O botão para ligar/ desligar a Challenger está do lado direito da consola dianteira, por baixo de uma das massivas colunas de som. O botão de arranque está no sítio do costume. E faz acordar para a vida o V2, que desde logo demonstra ter voz grossa! Baixa, comprida… e pesada.

Com mais de 360 kg de peso a seco, Challenger não é exactamente fácil de manobrar; ainda por cima, a embraiagem parece caprichosa, pouco progressiva, e torna os arranques algo titubeantes; mas isso aparentemente só sucede a frio. Nos arranques seguintes, depois de rolar, isso já não acontece, e as passagens de caixa não apresentam problemas. Assim que a colocamos em movimento, ela prepara-se para aquilo que foi pensada: fazer quilómetros no maior conforto. Mas mais do que isso. Viram a corrida King of Baggers realizada em Laguna Seca em outubro? Foi uma Challenger que ganhou, e embora não fosse bem uma moto de origem, mas sim uma cuidadosa preparação da S&S Cycle, ficou a curiosidade sobre o comportamento dinâmico desta bagger. E na estrada, no mundo real, não desiludiu.

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A volumosa carenagem dianteira oferece uma excelente proteção aerodinâmica, mesmo com o vidro dianteiro, que possui ajuste elétrico, na posição mais baixa. O assento é envolvente e confortável, e as plataformas para os pés permitem alguma liberdade na posição dos pés. Mas o mais impressionante é a resposta do motor a cada solicitação da mão direita. Temos tido algum azar com as condições climatéricas nas últimas semanas, e praticamente nunca apanhámos a estrada seca coma Challenger. Mas graças ao Smart Lean Technology, o nome que a Indian dá ao conjunto das ajudas eletrónicas à condução, rapidamente ganhamos confiança em qualquer condição do piso. Tirando partido da implementação duma unidade de medição inercial (IMU), a Challenger otimiza não só o funcionamento do cornering ABS mas também do controlo de tração, a que chama Drag Torque Control.

Para além disso, o condutor tem três modos de condução à sua escolha – chuva, padrão e desportivo – podendo assim adaptar a resposta ao acelerador e o comportamento tendo em conta as condições da estrada. As suspensões fazem um excelente trabalho, beneficiando o conforto, mas também garantindo um bom comportamento dinâmico em curva; ao contrário da forquilha invertida dianteira, o amortecedor traseiro é ajustável.

O sistema de travagem é Brembo, com pinças de montagem radial à frente, garantindo uma prestação impecável para uma moto tão pesada. A Challenger tem jante de 16 polegadas na traseira e de 19 na dianteira, e está calçada com pneus Metzeler Cruisetech, que foram desenvolvidos em parceria com a Indian para esta moto, tendo em conta o seu peso e prestações, naquela que foi a primeira colaboração entre ambas as marcas.

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Agora, dois anos depois, a Indian anunciou que a Metzeler passará a equipar em exclusividade outros modelos da marca americana. No caso da Challenger, quer no pouco que rodámos a seco, quer em molhado ou meio húmido, os Cruisetech demonstraram um bom comportamento, transmitindo uma boa dose de confiança. Tudo isto faz com que a Challenger seja um autêntico sofá com rodas, mas com atitude, pois graças ao carácter do seu motor, e ao seu comportamento dinâmico, podemos adotar uma condução mais viva quando estamos fartos de contemplar a paisagem… ou estamos atrasados para o pôr-do-sol. E se lá chegarmos já no lusco-fusco, a ‘puddle light’ – uma luz colocada atrás do radiador, sob o motor, apontada para o chão – permite-nos confirmar que o solo é firme para colocar o descanso. Para além disso pisca quando trancamos e destrancamos as malas. Liga-se apenas à noite, e fica 30 segundos ligada, enquanto nos afastamos a pé. Este acessório opcional é uma boa ideia!

As malas – tal como o tampão da gasolina – têm fecho elétrico, e apesar dos quase 70 litros de capacidade em conjunto, são estreitas, e por isso limitam um pouco aquilo que podemos transportar. Por exemplo, não cabe um capacete integral. A Indian Challenger é uma moto cuja atitude é mais rebelde do que o seu estilo pode fazer crer, graças a um motor vigoroso, linear e isento de vibrações. A Indian Challenger Dark Horse é comercializada em Portugal por 31 940 € (PVP 2022).

Texto Vitor Martins • Fotos Manuel Portugal

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