22º Portugal de Lés-a-Lés termina com chave de ouro

A edição Lés-a-Lés deste ano termina com chave de ouro, naquela que foi, provavelmente, a prova mais difícil de organizar e a mais desejada de participar. Tudo por causa da pandemia.

Nunca, em 22 edições, foi tão genuíno e esclarecedor o sorriso dos participantes na chegada ao final do Portugal de Lés-a-Lés. As caras de satisfação e os comentários de todos os aventureiros foram, sem dúvida, o prémio mais saboroso para uma organização que, contra ventos e marés, teimou e conseguiu dar um sinal positivo aos motociclistas, criando as condições para que todos voltassem aos grandes passeios. Um evento bem diferente de todos os anteriores, com limitações e cuidados redobrados, mil cautelas e o respeito absoluto pelas normas em tempo de pandemia, mas que se saldou por um êxito tremendo.

Uma resposta positiva à coragem de Federação de Motociclismo de Portugal em colocar na estrada a grande maratona mototurística, traduzida não só na adesão como, mais importante, no cumprimento das regras sanitárias e de todas as indicações dadas ao longo do evento. Foram pouco mais de mil, cerca de metade de anos anteriores, mas divertiram-se por dez mil e nem a chuva, o vento, o nevoeiro ou todas as incertezas minimizaram o prazer, há tanto adiado, de passear de moto.

Da Lacóbriga a Aquae Flaviae, passando por Ebora Cerealis e Lancia Oppidana do tempo dos romanos, os bravos lusitanos (e alguns estrangeiros) resistiram e lutaram contra os elementos ao longo de 1111 quilómetros de descoberta, honrando os feitos do mítico Viriato frente à ocupação do Império Romano. E nem a chuva, o vento e o frio conseguiram beliscar o entusiasmo de todos os que se apresentaram nas Verificações Técnicas e Documentais, mesmo ao lado das muralhas de Lagos. Processo ainda mais expedito – que não menos rigoroso! – graças à revisão de processos, mas também do empenho de todos os elementos de uma organização obrigada a adaptar-se aos novos tempos. Lés-a-Lés que já teve duração de 24 horas ‘non-stop’, já teve duas etapas de 12 horas, teve também prólogo e 2 etapas antes de chegar ao modelo atual com Passeio de Abertura e 3 etapas para cumprir a ligação entre dois extremos de Portugal Continental.

Mas que, pela primeira vez, não teve controlos de passagem, evitando assim grandes aglomerados de participantes e o contacto com elementos dos moto clubes que, tradicionalmente, dão um colorido ímpar a estes pontos. E que mostrou também um novo modelo nas refeições, obrigada a abdicar do convívio da grande caravana em prol dos mais acolhedores restaurantes locais, proporcionando que os grupos estivessem juntos, mas com respeito das limitações gerais, ao mesmo tempo que contribuía para animar o carente comércio local.

Para Manuel Marinheiro este «foi o mais sofrido de todos os já realizados, saindo de Chaves com a sensação de dever cumprido e com uma enorme alegria por toda a magnífica equipa que conseguiu levar avante este Lés-a-Lés em toda a segurança». Para o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal «só a entrega, a abnegação e o sentido de responsabilidade permitiram enfrentar uma situação tão complicada, permitindo aos motociclistas recuperar alguma normalidade nestes tempos tão estranhos». Pelo mesmo diapasão afinou António Manuel Francisco, considerando que este evento «foi muito importante para a alma dos mototuristas, representando uma conquista significativa perante todas as incertezas que rodeiam a sociedade, e foi, sem dúvida, o Lés-a-Lés mais difícil de organizar, saindo de Lagos sem a certeza absoluta de poder chegar a Chaves».

Naquele que apelida de «Lés-a-Lés da resiliência», o responsável da Comissão de Mototurismo da FMP recorda que, «a qualquer momento, o evento podia ser parado e só com muita teimosia foi possível voltar à estrada numa festa mais pequena, mas nem por isso menos intensa e gratificantes para todos». Agora, é tempo de preparar o futuro pensando na próxima edição com a crença de uma boa notícia: É que só já faltam 9 meses para o Portugal de Lés-a-Lés 2021.

Fotos: FMP