Andrea Dovizioso vai deixar a Ducati. E agora?

A Ducati devia fazer um anuncio dentro de pouco mais de uma semana, mas o manager de Andrea Dovizioso adiantou-se: o italiano vai deixar a Ducati.

A Ducati está prestes a perder um dos seus mais importantes ducatisti. As conversações entre Andrea Dovizioso e a equipa italiana de MotoGP chegaram a um impasse. Após uma reunião esta manhã com Paolo Ciabatti, Simone Battistella, o manager do piloto italiano, anunciou a separação no final da temporada. Ontem, Davide Tardozzi tinha dado como data para um anúncio sobre o assunto, os dias seguintes ao GP da Estíria.

Paolo Ciabatti, director desportivo da Ducati, confirmou a reunião e a separação: «Reunimos com Simone esta manhã aqui no Red Bull Ring e precebemos que, infelizmente, não há condições para continuar a nossa relação com o Dovi para além do actual contrato. A Ducati e o Andrea vão agora concentrar-se em pleno no que resta da temporada de 2020, começando amanhã com o GP da Áustria, com o objectivo comum de somar mais vitórias aos 13 primeiros lugares já conseguidos e lutar pelo título até ao final do campeonato», disse Ciabatti num tweet oficial da marca italiana.

Desfecho inesperado

Este era um desfecho que poucos acreditavam que viesse a acontecer, mas era um dos possíveis. Tal como Dovizioso disse à imprensa italiana «Esta não foi uma decisão que tomei numa noite. Em oito anos aconteceram certas coisas, era chegado o momento de decidir. Agora posso pensar apenas no campeonato», diz o italiano citado pelo jornal La Gazzetta dello Sport.

Esta foi uma decisão pessoal de Andrea Doviziso, e pelos vistos muito ponderada, já que o assunto do contrato se arrasta há meses. Por isso é de estranhar que Dovi afirme peremptoriamente que «neste momento não tenho plano B. Mas no desporto motorizado tudo pode acontecer. Esta decisão era importante ser tomada agora, à parte de um futuro plano». Aos 34 anos, e pai de família não seria uma má altura para se ‘reformar’.

Porque referimos Dovi como um dos mais importantes ducatisti? Porque desde que chegou à Ducati em 2013, o italiano vestiu a camisola vermelha e embora as vitórias só tenham surgido ao quarto ano com a marca, em 2016, nunca baixou os braços. Em oito anos, no campeonato só foi batido por um dos cinco companheiros de equipa (que incluiram dois campeão do mundo); foi por Andrea Iannnone, em 2015. Dovi foi 7.º no final desse ano e Iannone foi 5.º. Mas Dovi subiu cinco vezes ao pódio, contra três vezes do ‘Maniac’.

Os resultados de Dovizioso face aos companheiros de equipa na Ducati Team
2013 Andrea Dovizioso 8.º
Nicky Hayden 9.º
2014 Andrea Dovizioso 5.º
Cal Crutchlow 13.º
2015 Andrea Iannone 5.º
Andrea Dovizioso 7.º
2016 Andrea Dovizioso 5.º
Andrea Iannone 9.º
2017 Andrea Dovizioso 2.º
Jorge Lorenzo 7.º
2018 Andrea Dovizioso 2.º
Jorge Lorenzo 9.º
2019 Andrea Dovizioso 2.º
Danilo Petrucci 6.º

 

Depois do único título da Ducati, conquistado em 2007 por Casey Stoner, DesmoDovi – que vai deixar de ser desmo… – foi o piloto italiano quem mais perto teve de conseguir igualar esse feito. Nos últimos três Dovizioso foi vice-campeão, sendo o maior opositor de Marc Marquez.

Andrea Dovizioso sentiu que a sua dedicação e esforço não eram reconhecidos – nem recompensados – pela Ducati, e consta que quase sempre ganhou menos do que os seus companheiros de equipa.

Vários candidatos

Será o abandono? Se os rumores já lavravam no paddock como fogo de Verão, intensificaram-se ainda mais após o anúncio. Para onde vai Dovi? E quem vai para o seu lugar?

Para o seu lugar surgem nomes como Johann Zarco e Francesco Bagnaia, que já estão na ‘família’ Ducati. Zarco tem mais experiência, mas tem já 30 anos, e Pecco tem apenas 23. Mas fala-se também de um regresso de Jorge Lorenzo, embora Ciabatti afaste essa possibilidade, mas sem a veemência de anteriormente «pode estar ainda em cima da mesa», dizia hoje o director desportivo da Ducati. O problema é que o único fã confesso de Lorenzo na alta esfera da Ducati é Gigi Dall’Igna, e a decisão não lhe pertence.

Os fãs adorariam ver Scott Redding de volta…

Até Casey Stoner, o único a conseguir domar a Ducati a caminho do único título de MotoGP de Borgo Panigale, não entende como a marca deixa sair o piloto italiano. O australiano foi até bastante crítico:

«É apenas a minha opinião, mas não acredito que a Ducati se possa permitir perder alguém como Andrea Dovizioso. Acham que eles a dada altura precisam perceber que é o piloto, e não os túneis de vento, que conseguem os resultados, por isso oiçam-nos», diz o australiano no Twitter.

A Ducati já tem no seu historial algumas deficiências na gestão dos recursos humanos da equipa de MotoGP, nomeadamente no que diz respeito aos pilotos, e esta parece ser mais uma delas.