Com uma chinesa de Lés a lés: CF MOTO 650 MT

Fomos ao Lés-a-Lés de CF MOTO 650 MT, uma estreia não só da marca asiática no evento, mas também uma estreia para nós. Uma experiência esclarecedora.

Confesso que sempre tive muita curiosidade em conhecer bem de perto uma chinesa. Das novas, das grandes. Como muitos outros, sou do tempo (não se riam…) em que o símbolo “Made in China” era sinónimo de qualidade, no mínimo, duvidosa. E estou a ser simpático! Mas o poderio industrial da maior nação do Mundo não pode deixar ninguém indiferente e quando decidem meter mãos à obra…

Texto: Paulo Ribeiro
Fotos: Delfina Brochado

Esta é a história da minha primeira vez! E dela também. É que se, em mais de duas décadas de presença contínua, nunca tinha participado numa edição do Portugal de Lés-a-Lés aos comandos de uma moto chinesa, a verdade é que esta foi também a estreia de uma CFMOTO no evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. A curiosidade era imensa, e nada como a ligação entre Lagos e Chaves, via Évora e Guarda, mais as viagens de ida até ao Algarve e de regresso de Trás-os-Montes, para aferir das qualidades da 650 MT. Uma turística de pernas altas ou uma trail de vocação estradista, vocês escolhem, que se mostrou ao mundo sem modéstias ou falsos pruridos, fazendo alarde de componentes de boa qualidade e um nível de acabamentos que faz esquecer o tempo em que as propostas orientais (que não japonesas) não só eram olhadas de lado como, com ainda maior frequência, eliminadas de qualquer hipótese de relação a longo prazo. Safavam-se algumas das mais pequenas scooters, de uma capacidade de atração exclusivamente assente no preço.

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Aventureira sem complexos

Às voltas pelo concelho lacobrigense, no Passeio de Abertura, ou na passagem pela Serra de Monchique, em estradas bem reviradas e caminhos estreitos, a CFMOTO 650 MT confirmou a facilidade de condução a baixa velocidade, contando com importante ajuda da embraiagem de notável suavidade. Menos positivo, alguns ruídos parasitas na parte frontal, de origem facilmente identificada na estrutura de regulação da altura do ecrã, problema já solucionado nos novos modelos com adoção de um sistema mais simples e eficaz.

Passado o Alto da Fóia, com as imponentes paisagens escondidas sob um denso manto de nevoeiro, daqueles que fazem pensar que D. Sebastião pode aparecer a qualquer momento, a descida até à barragem de Santa Clara mostrou uma visão diferente do sistema de travagem. A progressividade, que por vezes pode parecer excessiva, ajuda a manter um ritmo rápido e despreocupado, graças a um controlo muito fácil da manete direita e ao bom ‘feed-back’ que oferece. Cada vez mais à vontade com a simpática chinesa, altura de começar a levar mais longe a relação, apostando em algum atrevimento para conhecer as suas reais intenções. Nada como um bom asfalto e curvas bem desenhadas para uns passos de dança mais ariscos, prontamente respondidos à altura, com ajuda de uns bons sapatos. Calçada com Metzeler Roadtec Z8, mostrou-se muito previsível e fácil de mover entre as curvas que se sucediam de forma rápida.

Mais à frente, nas primeiras retas alentejanas rumo a Évora, oportunidade para confirmar a boa proteção aerodinâmica; um motor que é um primor a velocidades legais (ok, até mesmo um pouquito acima dos 90 km/h que a sinalética vai informando como limite); e uma suspensão que, trabalhando bem com as afinações de origem, pedia mais suavidade. Nada como regular a compressão da forquilha invertida, através de práticos botões em plástico, levando-a até à posição mais ‘macia’ e subindo depois dois ou três ‘clicks’.

Facilidade de ajuste que permite uma rápida adaptação ao tipo de piso, juntamente com uma traseira onde a extensão pode ser regulada com uma simples chave de fendas, enquanto a pré-carga da mola pede uma chave especial, que não surge no kit de ferramentas. A verdade é que foi muito fácil ganhar em conforto, deixando para trás irritantes vibrações em mau piso, sem que o bambolear fosse muito evidente quando a velocidade aumentava. Claro que, quando o ritmo entrou nos mais elevados patamares de animação, a frente mostrou maior tendência a afundar em travagens fortes, mas sem nunca comprometer a estabilidade e absoluta segurança. E ganhou em conforto. O simples facto de permitir esta regulação fácil é bastante positivo, proporcionando a cada condutor encontrar o melhor equilíbrio entre eficácia e bem-estar a bordo.

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