Texto Domingos Janeiro • Fotos Rogério Sarzedo
Luzes, câmara, acção!
Confesso que desconhecia este modelo, até receber a chamada do João Guedes da 833 motos a disponibilizar um para teste. Nessa altura, e sem saber bem de que modelo estaríamos a falar, o João fez o favor de nos enviar um mail com as fotos e características da Scrambler. Dei uma espreitadela às fotos e lembro-me de pensar que era “engraçadinha” e mais um banal modelo a juntar à ampla oferta asiática no nosso mercado. Eis que chega o dia de levantar a Scrambler e assim que lhe deito o primeiro olhar fico surpreendido.
Surpreendido porque através das imagens não consegui ter a real percepção do encanto desta pequena oitavo-de-litro. Uma imagem simples, mas cuidada, elegante, moderna e com especial atenção no que a acabamentos diz respeito. Uma pura citadina que faz do estilo a sua principal característica. O conceito scrambler está na moda, mas a Mitt foi mais além e conseguiu trazer para este modelo alguns traços característicos das flat trackers que começam agora a ditar as tendências.
Desta “mescla” resultou a DS Scrambler, que nos brinda com grande polivalência. Já se imaginaram nos estradões a caminho da praia com a miúda mais gira da escola à pendura?
Motor simpático
É impossível passarmos desapercebidos, estamos em constante observação, sentimos os olhares, os sorrisos e a curiosidade alheia. E nós, vestidos a rigor, com “pinta” lá vamos desfilando por entre becos e calçadas, ruas e avenidas, numa toada despreocupada com o tempo e as grandes velocidades, a desfrutar do momento, do aqui, do agora, da liberdade! Depois de rendidos à estética, tocamos no botão mágico e colocamos o pequeno monocilindro, a 4T, refrigerado a ar em funcionamento. O som não impressiona, ao contrário do escape, cónico, de estilo desportivo, bem enquadrado no conjunto. Arrancamos e ficamos agradados.
O motor está dentro do que é comum no segmento, com 12,7 cv de potência, mas é divertido na cidade, cenário para onde a caixa foi escalonada, apresentando assim uma primeira velocidade rápida, cheia mas muito curta, fazendo-nos passar para segunda mais depressa do que estamos habituados. Segunda puxada, passamos para terceira e a partir daí, em cidade já temos que começar a recorrer mais à caixa para a conseguirmos levar na rotação certa. À semelhança dos seus pares, o bloco não lida bem com os médios regimes, principalmente no que toca às recuperações.
A caixa de seis velocidades está bem escalonada e apenas notámos alguma dificuldade em “achar” o neutro, certamente por ainda ter pouco mais de 200 quilómetros rodados. Nas viagens de média distância já notamos o motor um pouco “curto”, com velocidades médias a rondar os 90 km/h , mas a descer podemos chegar aos 120 km/h. No entanto, qualquer subida é suficiente para nos fazer reduzir até aos 80 km/h. O que acaba também por surpreender são as vibrações muito ligeiras, sentidas apenas ao nível das mãos, retrovisores e depósito de combustível. O consumo fixou-se nos 3,5 litros, numa utilização mista, cidade, estrada aberta e até fora de estrada.
Fomos surpreendidos por uma ciclística, que embora se faça sentir algo frágil quando somos exigentes, cumpre com equilíbrio no cenário para o qual foi concebida, a cidade e sem perdermos de vista outro dos objectivos que é o baixo custo! É neste sentido que passamos a estar mais abertos à descoberta e mais tolerantes às fragilidades do conjunto, como as suspensões, algo limitadas, mas perfeitamente capazes de desempenhar a sua função na cidade.
Apresenta- se muito leve e ágil, com uma postura de condução direita e descontraída e com um guiador que embora esteja colocado numa posição baixa, é largo levando-nos adoptar uma postura mais envolvente, mais confiante. O assento, além de bem desenhado, é confortável para o condutor mas para dois ocupantes já se torna um pouco pequeno, mas dá perfeitamente para uns belos passeios a dois. A travagem combinada é requisito obrigatório e funciona bem, embora não prime pela potência nem pelo tacto e se forem mais ousados, num estilo de condução mais desportivo e agressivo, no final de um par de travagens mais fortes, simplesmente deixa de travar, pois não lida da melhor forma com o aquecimento!
Os pneus de piso misto são asiáticos e ao estilo flat track. Surpreendem pela eficácia, pelo menos em piso seco, capazes de nos transmitir muita confiança a curvar até atingirmos os seus limites. A frente da Scrambler é simples, mas ostenta uma forquilha invertida robusta e um farol em LED, muito moderno mas que peca pela ineficácia.
Acabamentos
O aspecto é robusto muito por culpa do quadro, uma treliça em tubos de aço, mas também pela utilização dos vários elementos em alumínio como é o caso dos pára-lamas, tampas por baixo do assento e guia da corrente. Os pousa-pés, de alumínio maquinado não têm borracha mas não transmitem vibrações. São de estilo off road.
Por fim, uma palavra para os apliques em borracha nas laterais do depósito, fazendo lembrar outros tempos e para as pegas de segurança para os passageiros. Tudo isto, por 3100€ já com documentos incluídos!
Embora o fora de estrada não seja a sua principal vocação, está perfeitamente preparada para ir àquela praia secreta, onde é necessário fazer uns quilómetros em terra. Sem grandes abusos, dá para umas boas aventuras fora de estrada.
Para melhorar
Não há dúvidas que ficamos muito surpreendidos com este modelo, mas para ficar ainda mais atractivo, deixamos aqui umas sugestões a melhorar, quer por parte da própria Mitt, como pelos concessionários, visto que muitas destas sugestões podem ser facilmente revistas antes de entregar a moto ao cliente.
Comecemos pelo farol LED, que pode funcionar muito bem em termos estéticos mas a iluminação é ineficaz e a regulação é muito limitada. Ainda a ver com a iluminação, o comutador que nos permite optar por acender ou apagar a luz diurna (DRL) apresenta três posições: um ponto, a luz diurna e a luz normal.
A luz dianteira nunca apaga, podemos é optar por rodar com a luz diurna (DRL) acesa ou apagada, o problema é quando colocamos na posição do ponto, apaga-se a luz traseira, o que não faz nenhum sentido. É abrir o comutador e tentar bloquear este modo “ponto”. Os elementos em alumínio escovado fazem denotar falta de acabamento, pois foram cortados e não foram polidos o que significa que podemos mesmo cortar as mãos em algumas destas superfícies. Um “toque” com uma lixa ou lima apropriadas tornam este num “não” problema.
A corrente bate no para-lamas traseiro, por isso, é outro dos pontos a melhorar! Se pretenderem dar uns passeios frequentes fora de estrada, não se esqueçam que o colector passa, desprotegido, por baixo da protecção do cárter e que facilmente pode sofrer danos, até a subir ou descer um passeio mais alto. Já disponível nos concessionários em duas cores diferentes, cinza ou verde.
Ficha Técnica
MITT 125 DS SCRAMBLER | |
PREÇO | 3100€ (chave na mão) |
MOTOR TIPO | um cilindro, 4T, refrigerado por ar |
DISTRIBUIÇÃO | árvore de cames à cabeça |
DIÂMETRO X CURSO | 69 x 62,2 mm |
CILINDRADA | 125 cc |
ALIMENTAÇÃO | injecção electrónica |
IGNIÇÃO | electrónica digital |
ARRANQUE | eléctrico |
CAIXA | 6 velocidades |
FINAL | por corrente |
POTÊNCIA MÁXIMA | 12,7 cv/9500 rpm |
BINÁRIO MÁXIMO | n.d. |
QUADRO | treliça em tubos de aço |
DIMENSÕES (C/L/A) | 2010/820/1120 mm |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1350 mm |
ALTURA DO ASSENTO | n.d. |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha invertida |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortecedor |
PNEU DIANTEIRO | 110/90-17” |
PNEU TRASEIRO | 130/80-17” |
TRAVÃO DIANTEIRO | disco de dois êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco, combinado |
DEP. DE COMBUSTÍVEL | n.d. |
PESO (A SECO) | 147 kg |
CORES | cinzenta e verde |
GARANTIA | 2 anos |
IMPORTADOR | Puretech Moto |