Com algumas alterações face ao modelo de 2016, a Sherco 300 a quatro tempos mantém a sua filosofia: uma moto fácil, ligeira e eficaz, que se destaca ainda mais quando as condições são mais exigentes.
Texto: Tomás Salgado Fotos: Rogério Sarzedo MOTOJORNAL_1397
Mas apesar de manter a filosofia no comportamento, a Sherco SE-F 300, que alinha na classe E2 no Enduro, conta com algumas novidades e melhorias que se fazem sentir na ciclística e na qualidade de construção e acabamentos. No contacto com a gama de 2017 que publicámos no número 1390 da Motojornal (o qual foi efectuado por Francisco Beja da Costa, e não por mim), descrevemos essas mesmas melhorias, começando pelo novo quadro com um ângulo de coluna de direcção mais fechado, um tubo superior mais resistente e reforços em vários outros pontos, como apoios de motor, de amortecedor e zona inferior onde apoiam os links da suspensão traseira para melhorar a tracção e as sensações da dianteira. Os próprios links são novos, com veios mais grossos e rolamentos e vedantes mais eficazes, para maior durabilidade. A roda traseira recebeu um veio mais forte, e a roda dianteira raios mais leves e mais resistentes para uma maior precisão de trajectórias, mas as suspensões continuam a ser as WP de cartucho aberto (e com afinação de pré-carga das molas com recurso a uma chave de 24mm) que equipavam as KTM antes mesmo das 4CS. O amortecedor é o mesmo WP, mas com uma nova porca da mola que torna mais fácil ajustar a pré-carga. O depósito de combustível ‘cresceu’ mais de um litro em capacidade (mais 1,2 lts), mas a largura na zona dos joelhos também aumentou ligeiramente e os plásticos – agora fornecidos pela Polisport e com tecnologia InMold – são diferentes nesta versão de 2017, com o volume interno da caixa de filtro-de-ar a aumentar também. O assento continua a ser fácil de retirar para aceder ao filtro, ainda através de um parafuso de ‘meia-volta’ no topo do mesmo. Os travões são os Brembo idênticos aos das KTM/Husqvarna, com diferença ‘apenas’ nos discos e pastilhas. Tubos e cabos têm melhor disposição e estão mais ‘arrumados’, tal como a instalação eléctrica, que é mais simplificada, tem novos terminais e um relé do motor de arranque mais fiável. No campo das protecções vem pronta para a ‘luta’, com uma envolvente protecção de cárter, protecções de mãos e protecções laterais de quadro.
O motor da trezentos tem a mesma base da 250cc de quatro válvulas, e ambos receberam melhorias para 2017: os carretos da caixa são novos, forjados e posteriormente maquinados com algumas diferenças baseadas na tecnologia utilizada no Dakar, o que aumenta a vida útil em 20%, e a lubrificação dos rolamentos foi também melhorada. O piston é novo e forjado, com novo um desenho que o torna 20% mais resistente sem aumentar o peso. A alimentação continua a cargo de um sistema de injecção da Synerject que continua a ser uma excelente aposta. Com apenas arranque eléctrico, a Sherco pega sempre bem, mesmo a frio, e tem uma ‘carburação’ sempre ‘limpa’ e precisa, seja quais forem as condições do clima e a rotação do motor.
Forte e fácil
A resposta ao acelerador, além de ‘limpa’, é também ‘cheia’ e disponível, especialmente nos baixos e médios regimes e, se pensarmos que pouca cilindrada a mais tem que a 250 cc, a disponibilidade do 300 cc ainda impressiona mais. No reverso da medalha, é um motor que acaba um pouco mais cedo que alguns dos rivais (se bem que a maioria tem mais cc), mas raramente acabamos por sentir a falta dessa potência ‘lá em cima’, porque os regimes abaixo são excelentes. A inércia do motor é q.b., o suficiente para termos boa tracção e controle da potência mesmo nas zonas mais técnicas e/ou escorregadias (mesmo em mudanças baixas e zonas lentas), mas mantendo uma resposta muito viva cada vez que queremos ou precisamos. Como dissémos, a injecção Synerject funciona de forma excelente e, além de uma resposta sempre limpa e linear ao acelerador, ajuda a contrariar o efeito travão-motor nas desacelerações, descidas, etc., contribuindo para que toda a moto tenha um comportamento mais neutro e previsível.
A ciclística também tem uma base muito neutra e equilibrada, começando pela posição de condução. Não é das mais baixas da classe, mas o formato do assento permite que nos movimentemos facilmente de um lado para o outro para chegar com os pés ao chão, mesmo em zonas de pedras irregulares, e a zona dos joelhos, apesar de ligeiramente mais larga que no ano passado, é boa. A posição dos braços, pernas e tronco é neutra, tanto sentados como de pé, e apenas a curvatura do guiador (tem as pontas um pouco ‘arrebitadas’) não favorece a entrada em curvas ao género de especial cronometrada, e a capa do assento poderia ter mais aderência.
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Pilotar esta Sherco, cedida pela Celcru Motos de Santo André, nos trilhos é agradável e fácil. O conjunto é ligeiro e sente-se pouco o peso, graças também a um baixo centro de gravidade, o que favorece as mudanças de direcção e a passagem por zonas técnicas. A ciclística é boa e estável e a suspensão cumpre, mas, especialmente o conjunto traseiro, poderia ter um ‘setting’ mais bem conseguido e confortável. Ainda assim são firmes e permitem um ritmo mais forte sem esgotar o curso por tudo e por nada. Quando queremos ir mais rápido o conjunto motor/ciclística corresponde, oferecendo resposta e comportamento bem vivos mas que pouco exigem de nós, pilotos. Mesmo em trialeiras difíceis raramente ficamos ‘presos’, e mesmo se ficarmos, acaba por não ser difícil conseguir retomar caminho. O tacto da embreagem é bom e o do acelerador também, mas ao travão dianteiro falta-lhe um pouco de potência.
Boa aposta
A Sherco tem vindo a crescer a cada ano, e as motos de 2017 voltaram a melhorar. São, cada vez mais, uma escolha a ter em conta, e esta 300 a quatro tempos deve ser mesmo a mais equilibrada da gama, oferecendo potência e binário que chega para tudo mas com um conjunto ligeiro e bom para ritmos calmos ou cronometrados.
No mercado de usados também já são vistas de outra forma (em relação a anos anteriores), e o preço é competitivo, pelo que os argumentos são fortes na moto francesa!
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Sherco SE-F 300_9 460€
MOTOR Tipo: Monocilindrico a 4T, refrigerado por líquido
Distribuição: Duas árvores de cames, 4 válvulas
Diâmetro x Curso: 84 x 54,8 mm
Cilindrada: 303 cc
Taxa de compressão: n.d.
Potência Máxima: n.d.
Binário Máximo: n.d.
Alimentação: Injecção electrónica Synerject
Ignição: Electrónica
Arranque: Eléctrico
Transmissão Primária: Por engrenagens
Embraiagem: Multidisco em banho de óleo
Caixa: Seis velocidades
Final: Por corrente
Quadro: Duplo berço desdobrado, em aço
Suspensão Dianteira: Forquilha invertida, Ø 48 mm, curso de 300 mm
Suspensão Traseira: Mono-amortecedor de acção progressiva, curso de 330 mm
Travão Dianteiro: Disco Ø260 mm, pinça de 2 êmbolos
Travão Traseiro: Disco Ø220 mm, pinça de um êmbolo
Pneu Dianteiro: 90/90-21”
Pneu Traseiro: 140/80-18”
Comprimento Máximo: n.d.
Altura ao solo: 355 mm
Largura Máxima: n.d.
Altura do Assento: 950 mm
Distância entre Eixos: 1480 mm
Trail: n.d.
Ângulo da coluna de direcção: n.d.
Capacidade do depósito: 9,7 litros
Peso: 101,6 kg
Cores: Azul
Garantia: n.a.
Importador: Sherco Portugal