Coerência, precisa-se…
Pois é.
Ou pois foi.
Antes ainda de abordar a temática que me levou todo o apetite de um almoço e três quartos de uma noite de sono é hora de alinhar com Valentino nas loas ao padroeiro com o encargo dos pilotos, Rafael de seu nome, e que bem justificou a atribuição da pasta, pelo menos neste fim-de-semana.
Depois de uma normalíssima situação de ‘perda da traseira’ com Enea Bastianini, que iria despencar numa quase tragédia na corrida de Moto2, esperava-se que no evento principal em MotoGP as coisas sossegassem.
Errado.
Num toque originado por uma alteração de trajectória e travagem em moldes inesperados por parte de Zarco, Morbidelli viria a cair feio, como aliás o francês, e as suas motos seguiriam dali para fora como se nada fosse, uma rolando sem piloto, a outra já destrambelhando descontrolada, acabando por atravessar a pista na única nesga temporal e espacial entre as Yamahas que por ali passavam, fazendo um ‘rés-vés Campo de Ourique’ ao capacete d’ Il Dottore, coisa difícil de narrar sem arrepiar o teclado.
De uma coisa que parecia quase nada, ali estava a ceifeira vestida e pronta a entrar em acção, não fora Rafael, o santo a quem Tino de imediato creditou sua benesse.
E agora, regressemos à temática que a todos rebentou com o fim-de-semana.
Pol.
Depois de Brad.
E de Johann.
Em comum aos três, são as duas coisas neste caso que escalpelizo, pilotarem para a fábrica mãe, por um lado, e a escancarada desnecessidade de um acto de má pilotagem, egoísmo, irresponsabilidade ou impunidade, podem escolher à vontade.
Quando ontem todos nós desenvolvíamos as nossas mezinhas, tradicionais ou científicas mas ambas de genuína boa vontade, enquanto Oliveira vestia seu equipamento para ‘obturar os adversários’, como certamente narraria Nejaim, eis que do nada e sem a mais pequena ponta de seja lá do que for, Espargaro, o espanhol que vai a caminho de uma Honda que anda para trás sem as mãozinhas de MM, eis que do nada se rebenta uma corrida a alguém que tanto batalhava por ela, esbanjando pontos valiosos a uma equipa que muito se empenhou para chegar a este patamar.
Se em Jerez II foi um Brad Binder em seu entusiasmo juvenil a achar que se encaixaria ‘ à Lagardére’ no ‘funil’ da 1ª curva, coisa que se treina e aprende desde tenra idade nas escolinhas de condução, ali aos seis ou sete anos, imaginando que um piloto se pode comportar como uma criança a entrar num carrossel, se o ano passado foi um francês Zarco com níveis de frustração laboratoriais a estragar uma corrida, ia ela a meio e com tudo para vingar, apenas porque o aborreceu o facto de perceber que o ‘rookie’ já ia andando e ele penando, pois ontem foi uma rapaz que durante a interrupção da corrida, quando não se sabia ainda da extensão da condição de Morbidelli e que consequências poderiam daí advir, se limitou a mostrar-se zangado, por lhe terem interrompido uma passeio que lhe estava a correr bem.
Pouco quis saber de Rafael o Santo, de Valentino o Doutor e de Franco, o acidentado.
Façamos agora um pequeníssimo, mas justo, exercício de imaginação, um daqueles ‘suponhamos’ que tanto gostamos de ir buscar na hora de ilustrar uma ideia.
Suponhamos então que… Quando Zarco abalroou Oliveira, que teria sido ao contrário, que quando Brad rebentou com a ‘lógica funileira da curva um’ o caso tivesse origem em Lecuona, ou por fim, que o regresso abojardado à pista pós trajectória larga, versão II (a primeira argolada assim foi com Zarco a semana passada), quando Pol acabou com a possibilidade de termos o Falcão no pódio, imaginemos que tal coisa teria sido protagonizada em prejuízo de um dos tubarões do pelotão, pois será curioso imaginarmos o quanto não gritariam por ali, quanta investigação não seria de imediato determinada pelos responsáveis, quantas ‘long laps’, ou pior, não brandiriam os justiceiros?
Em boa verdade raras são as vezes que me lembro de ver Miguel cair em corrida sem ser fruto de um empurrão desnecessário, mesmo em treino o nosso piloto busca os limites sem cair varanda abaixo, isto diz-nos a estatística e sabem-nos os responsáveis da KTM.
Não sendo sensato, menos ainda justo ou necessário, pedir ‘batatinhas’ seja para quem for, Oliveira ou quem mais lá vejamos dos nossos, já seria estultícia tentar compreender aquilo que à vista desarmada é incompreensível, escuso e injusto.
Regressemos ao Red Bull Ring e atentemos na chegada de Oliveira à sua box, biqueirando o cacifo sem piedade, aconselhando distância social não de dois mas de vinte metros, tal era, na hora, a ira. Se semelhante entrudo não é nele comum, e não o é, se o sabemos cerebral, metódico e de boa têmpera, chega um momento em que quem não se sente… De boa gente filho não é.
Continuemos por lá, até porque outro remédio não temos já que o próximo GP será no mesmo local, e entremos na ‘rueda de prensa’ de Pol, em que confessa em meio a um sorriso género chuva miudinha de papa-tolos, admitindo que sim e que mais que também, a culpa não era de um nem de outro e um pouco dos dois, certamente porque o próprio patrão o houvera alertado de que por ali, ‘los caramielos no se comían con papel‘ e perdoem-me o espanhol mas eu é mais bolos.
Por fim, trago ainda um assunto que me encasquinou um bocado, qual foi o de não ter podido observar a repetição do incidente entre os pilotos KTM sem ser através de uma câmera de ângulo farrusco e pouco, muito pouco, esclarecedor, quando numa prova destas não há milímetro que não seja coberto e espiolhado por tudo o que seja realização do evento.
Tu queres ver que… Foi no único pedaço de curva sem cobertura de imagem, ao género do recanto da casa que não apanha rede, que a coisa se deu entre o espanhol e português?
Ou será que foi de igual receita à repetição da transmissão das palavras dos comentaristas, onde algumas ideias parecem ter-se evaporado rumo ao além?
Será que alguns dos ‘donos daquilo tudo’ parecem querer vestir a bruxa com roupinhas de fada?
‘No me digas tal cosa’.
O azar, dos Távoras mesmo, é uma tal de telemetria que é como o algodão.
Não engana.
E essa, senhores ouvintes (eu sei que são leitores, mas fica bem a expressão), essa a KTM leu e percebeu na hora.
E pronto, a ver se vou esticar as perninhas e dar um passeio, tento remoer a temática, sei que no próximo domingo há mais, sei que Miguel vai de garras afiadas… E lá vamos estar todos nós.
E mais as nossas mezinhas, tradicionais ou científicas, mas ambas de genuína boa vontade.