Tal como se temia, Dani Pedrosa anunciou esta quinta-feira que vai terminar a sua carreira no final da temporada.
«Obrigado por terem vindo. Quero apenas anunciar que no próximo não vou estar no campeonato. Isso significa que termino a minha carreira on final desta temporada em MotoGP». Foi assim que Dani Pedrosa iniciou a conferência de imprensa em Sachsenring, na véspera do início do GP da Alemanha.
Tal como já tínhamos referido, o piloto espanhol confirmou que a decisão já tinha sido tomada há muito tempo. Não confirmou a decisão na conferência da Catalunha porque entretanto surgiu a hipótese da equipa Yamaha.
«Foi uma decisão dura, porque este é o desporto que amo. Apesar das oportunidades para continuar a correr, acho que já não vivo a competição com a mesma intensidade de antes e agora tenho prioridades diferentes na minha vida», explicou o piloto espanhol de 32 anos. No final do ano Pedrosa completará 18 temporadas no Mundial de Velocidade.
Das mini-motos para Lenda de MotoGP
Por tudo o que fez no campeonato, pela sua atitude ao longo da carreira, Dai Pedrosa será nomeado Lenda de MotoGP no seu último GP, em Valência.
Dani Pedrosa só perdeu a compostura e não conseguiu evitar algumas lágrimas quando lhe perguntaram que memória mais destaca da sua carreira: «Felizmente muitas», disse coma voz já a tremer. «Mas… claramente, o momento em que comecei a correr em Jarama. Eu era muito pequeno e nunca imaginei que com tantos pilotos ali eu iria ser escolhido. Desse momento até agora, foi espectacular para mim.»
Pedrosa refere-se às provas de selecção da Movistar Activa Junior Cup, e foi um dos seleccionados para o troféu. Eram cerca de 6000 os candidatos nesse ano de 1999! Nessa altura corrida de mini-moto, e era a sua oportunidade de progredir na competição. Caso contrário, por falta de meios, teria que dedicar-se a outra coisa.
Os três primeiros no final do ano seriam promovidos ao CEV. Pedrosa foi quarto, mas mesmo assim Alberto Puig, convencido do potencial do pequeno piloto de Sabadell – que nunca tinha andado numa moto com mudanças, bem chegava com os pés ao chão – escolheu-o para Movistar Junior Team de 125 cc no CEV para a temporada de 2000. Foi quarto no final do ano (Joan Olivé foi campeão, seguido de Raul Jara e Toni Elias) e no ano seguinte começava a sua carreira no Mundial.
A chegada ao Mundial
Tinha apenas 15 anos no seu primeiro ano de Mundial de 125 cc. Subiu duas vezes ao pódio, terminou o ano em oitavo e foi o Rookie do Ano.
No ano seguinte conquistou as primeiras vitórias e foi terceiro no final da temporada. Deplois conquistou três títulos consecutivos: de 125 cc em 2003 e de 250 cc em 2004 e 2005.
Em 2006 subiu à categoria rainha, que já se tinha convertido às quatro tempos. Apesar de uma carreira impressionante e invejável, há algo que Pedrosa nunca conseguiu: um título de MotoGP. Conseguiu vitórias todos os anos e, mesmo assolado pelas lesões, só uma vez terminou o campeonato fora dos cinco primeiros. E em 12 temporadas, em seis ficou em terceiro ou segundo.
Dani Pedrosa passou toda a sua carreira na Honda, e na Repsol Honda de MotoGP apenas um dos seus companheiros de equipa – Andrea Dovizioso – não foi campeão. Nicky Hayden, Casey Stoner e Marc Marquez conseguiram pelo menos um título com a moto japonesa.
Faltou o título de MotoGP
A falta desse título é uma pedra no sapato? «Bom, o importante é que dei o melhor de mim. É isso que levo daqui. Agradeço muito que me reconheçam como Lenda do campeonato e estou ao lado de outros que também admirei. Ao longo da minha carreira fui campeão noutras categorias. Não ter sido campeão de MotoGP foi algo que foi circunstancial. Dei o máximo de mim em muitas situações, muitas delas muito difíceis», diz Dani. O que faltou então para conquistar esse título? «Gostava de ter tido um físico mais robusto para aguentar melhor os impactos e sofrer menos lesões em situações em que tive problemas antes», explica o espanhol.
As lesões foram uma constante na carreira do piloto espanhol, desde o seu tempo das 125 cc e até ao início desta temporada. Praticamente todos os anos Pedrosa tem passado pelo hospital para remendar ossos partidos – clavículas e pulsos foram os mais sacrificados – ou para eliminar o arm pump. Essas lesões contribuiram para a ausência de um título na classe rainha.
Um dos melhores, e mais respeitados
O seu estilo de pilotagem, os seus resultados, a sua serenidade e respeito pelos adversários ajudaram a consolidar a sua posição na equipa japonesa, sendo imensamente respeitado dentro do HRC. Por outro lado, Dani Pedrosa adora o Japão e a cultura japonesa. Por isso tem um bebé samurai pintado no seu capacete e um caracter japonês que significa precisamente samurai. Porque ‘Pequeno Samurai’ é a alcunha de Pedrosa.
É também um piloto muito respeitado pelos rivais, que lamentam a sua saída.
«Dani é um dos pilotos mais importantes da categoria de MotoGP, pela sua carreira. Quero agradecer-lhe, porque foi um dos heróis para nós miúdos que perseguíamos os nossos sonhos. Ele era uma referência. Agora partilhamos a moto e muitos bons momentos. É uma decisão difícil de compreender, mas todos nós chegaremos a esse momento. Obraigado, porque aprendi muito com ele, foi um dos melhores», diz o seu companheiro de equipa, Marc Marquez.
«É uma grande pena para o campeonato, porque o nosso desporto perde um dos melhores pilotos dos últimos anos. É também uma grande pena que o Dani nunca tenha conquistado um título de MotoGP. Ele merecia pelo menos um. Ainda é muito cedo, mas é uma escolha pessoal. Eu não esperava, achava que ele ia continuar com a Yamaha. Mudou de ideias, deve ter pensado muito, mas é uma pena para todos», diz um surpreendido Valentino Rossi.
Uma referência
«Acho que o Dani era uma referência quando éramos miúdos», diz Maverick Viñales. «Quando comecei a andar de moto ele já ganhava nas 125 cc, por isso foi sempre uma referência. Tive sempre uma boa relação com ele, foi um prazer lutar com ele, que era um dos meu ídolos. Desejo-lhe a melhor das sortes, será uma pena não correr mais com ele, porque era um dos melhores. Mas é a sua decisão, dou-lhe os parabéns pela sua carreira».
Andrea Dovizioso foi rival de Dani praticamente desde o início das respectivas carreiras no Mundial, e depois foram companheiros de equipa em MotoGP. «Cheguei ao Mundial um ano depois do Dani. Lembro-me muito bem quando fiz a minha primeira corrida, como wild card, em Mugello, em 2001. Começou a chover, nenhum de nós tinha experiência e estávamos os dois sozinhos em último, muito lentos. Para mim o Dani em 125 e 250 foi sempre um pouco mais rápido do que eu, e tentei estudá-lo e aprendi muito do seu talento e do seu modo de trabalhar. Foi sempre uma grande referência para mim».
Agora com a decisão tomada, livrou-se desse peso, e certamente encarará o resto da temporada com outra atitude.