Como se costuma dizer, para se exigir alguma coisa, primeiro devemos dar o exemplo. Ainda que neste caso não seja necessário ir tão longe, pois não é possível ainda exigir aos motociclistas que utilizem mais do que um capacete homologado quando conduzem a sua moto, a verdade é que a Guarda Nacional Republicana (GNR) pretende liderar uma reforma mais profunda na consciência dos motociclistas portugueses dando o exemplo. O plano estratégico que será implementado é bastante vasto, mas o primeiro passo foi dado a 18 de julho com a apresentação dos novos equipamentos de proteção para os militares da GNR que cumprem serviço de moto.
A cerimónia de apresentação dos novos equipamentos de moto da GNR teve como cenário o histórico edifício onde se encontra o Comando Geral da GNR, no Largo do Carmo, bem no coração de Lisboa.
Um momento verdadeiramente especial, pois significa que os militares motociclistas da GNR que fiscalizam e organizam o tráfego rodoviário em 97% do território nacional passam a poder contar com mais e melhor equipamento que os protege em caso de acidentes durante o serviço.
Um facto que ficou perfeitamente vincado com a presença da Secretária de Estado da Proteção Civil, Dr.ª Patrícia Gaspar, contando também com a presença do Comandante-Geral da GNR, Tenente-General José Manuel Lopes Dos Santos Correia, que, durante o seu discurso de abertura do evento no Quartel do Carmo reforçou a ideia de que “Se fiscaliza, a GNR tem de o exemplo para todos os motociclistas”.
Ainda antes da apresentação dos novos equipamentos de moto para os militares da GNR, e porque a instituição revela estar bastante atenta ao fenómeno do motociclismo em Portugal, ficámos a conhecer os resultados de um precioso estudo que a Guarda Nacional Republicana realizou nos últimos anos, e que tem como foco a sinistralidade relacionada especificamente com veículos de duas rodas.
Este estudo é o resultado de um plano de prevenção para motociclistas e que se iniciou em 2021, tendo agora sido possível apresentar as primeiras conclusões. Alguns números impressionam… e não de forma positiva!
Reforçando que a sinistralidade rodoviária (geral) a nível europeu resulta em custos que representam 2% do PIB da Europa, e que essa percentagem atinge mesmo os 3% no caso de Portugal, a GNR faz questão de destacar que tem a consciência que o aumento das vendas proporciona o aumento da sinistralidade em duas rodas, o Major Pedro Ares fez um pedido aos representantes do Governo português para que sejam introduzidas alterações à lei que obriga ao uso de equipamento de proteção pelos motociclistas.
Atualmente apenas somos obrigados a utilizar um capacete homologado, mas o Major Pedro Ares acredita que seria possível minimizar a quantidade de lesões e ferimentos resultantes de acidentes de moto caso fosse obrigatório a utilização de outros equipamentos, como por exemplo as luvas.
Durante a apresentação dos números relacionados com a sinistralidade das motos em Portugal, alguns dados ficam em claro destaque pela GNR:
– Apesar da grande redução dos acidentes e feridos / mortes durante o período da pandemia, desde 2022 que se tem assistido a uma clara tendência de crescimento dos números, que se mantêm ainda assim inferiores a 2019. Em 2022 a GNR registou um total de 130.102 sinistros, e desses, resultaram 462 vítimas mortais sendo que 19,2% circulavam em moto;
– De 2019 a 2022 a GNR registou um total de 24.206 sinistros rodoviários com motos, 18.600 com vítimas, e 2.301 foram definidos como sinistros graves, ou seja, com um ferido grave ou uma vítima mortal;
– Em 2023, e isto são dados ainda provisórios relativos ao primeiro semestre, a GNR assinala um crescimento em todos os parâmetros em análise ao nível da sinistralidade em duas rodas: 3.448 sinistros (+235), 64 vítimas mortais (+19), 317 feridos graves (+52) e 2.638 feridos leves (+417).
A partir destes dados, e também de análise a outros parâmetros, o Major Pedro Ares fez questão de destacar que apesar da sinistralidade grave com motos representar apenas 0,8% do total de sinistros registados pela GNR, os sinistros com motos representam na verdade 26,6% do total de vítimas mortais nas estradas portuguesas e 31,4% do total de feridos graves.
Este primeiro momento de apresentação de dados foi seguido por um segundo momento relacionado com dados clínicos, e pela voz da Major médica Liliana Rocha, do Centro Clínico da Guarda Nacional Republicana, foi possível perceber que a GNR está também focada em entender melhor o tipo de lesões e as consequências na vida dos motociclistas.
Talvez o dado mais relevante apresentado tenha sido que o comportamento humano é responsável por 95% dos acidentes rodoviários!
Uma conclusão que, em conversa posterior com o Comandante-Geral da GNR, Tenente-General José Manuel Lopes Dos Santos Correia, percebemos que está no centro de uma parte relevante do plano estratégico para os motociclistas portugueses que está a ser implementado pela instituição.
O responsável máximo desta força da autoridade frisa que por mais ações de fiscalização que sejam realizadas, por mais ações de formação e esclarecimento para motociclistas, a GNR pede a todos que cumpram as regras do Código da Estrada e adotem comportamentos que tenham em conta a segurança de cada um, e, em última análise, de todos os utentes das nossas estradas.
E lançou mesmo o repto aos representantes de diversas marcas de motos que estiveram neste evento de apresentação de equipamentos de moto, mas também aos órgãos de comunicação especializada, como é o caso da Revista MotoJornal, a mais antiga publicação dedicada ao mundo das duas rodas, para que colaborem com a GNR no sentido de transmitir esta mensagem para uma mudança de comportamentos na estrada.
Em breve teremos novidades sobre este tema, e da parte da Revista MotoJornal, aceitando este “desafio” que nos foi lançado pelo Tenente-General José Manuel Lopes Dos Santos Correia, iremos sempre colaborar no que for possível para melhorar a segurança de todos os motociclistas, ajudando a reduzir a sinistralidade relacionada com motos.
E como os militares da GNR que cumprem o seu serviço de moto não estão imunes a acidentes – entre 2020 e 2022 foram registados 64 sinistros 50% com vítimas e 1 vítima mortal –, foi no Quartel do Carmo que ficámos a conhecer a mais recente atualização aos equipamentos usados pelos motociclistas da GNR com o intuito de melhorar a segurança dos militares, mas também passar a mensagem aos motociclistas que é importante estar bem equipado enquanto conduzimos motos.
Acompanhados pelas antigas motos e equipamentos dos militares de moto da GNR, num regresso ao passado que nos recorda os meios de trabalho destes agentes da autoridade, e com o Major António Maio, chefe de formação da Unidade de Trânsito da GNR e, claro, um bem-conhecido pluri-campeão de motociclismo em todo-o-terreno, a servir de “mestre de cerimónias”, foram revelados os novos equipamentos de proteção de motociclistas da GNR.
Este novo “pack” inclui um novo capacete, mas também novos blusões, calças, luvas, e até um colete independente com airbag integrado, aos quais se juntam as novas cores das motos da GNR que deixarão o conhecido prateado por um mais visível branco.
O novo capacete, do tipo modular e equipado com os necessários intercomunicadores, é fornecido pelos especialistas da Schuberth. A decoração é integralmente branca, com diversos elementos refletores em cores vivas. O mesmo esquema de cores que será aplicado às motos (e automóveis) da GNR.
Já os restantes equipamentos permitem aos motociclistas da GNR cumprirem as suas funções sabendo que estão melhor protegidos e também mais confortáveis.
Como nos contou António Maio, estes equipamentos, devido às suas características técnicas que garantem maior resistência à abrasão, maior visibilidade graças às inserções refletoras, contam com todas as proteções rígidas para proteger em caso de impacto, têm ainda um eficaz sistema de “air flow” de ventilação, que permite a sua utilização seja em que clima for, um fator importante quando nos recordamos que estes militares da GNR têm de andar de moto muitas horas por cada turno, faça chuva, sol, frio ou calor.
Porém, a maior inovação será a integração de um colete independente com airbag. Este colete foi especialmente desenhado de forma a permitir que o airbag seja despoletado e, em poucos minutos, caso seja possível e os danos no equipamento não sejam graves, o militar poderá trocar a botija de gás e prosseguir a sua patrulha.
Este colete com airbag funciona em qualquer queda a partir dos 20 km/h, a bateria tem autonomia para 35 horas, e, o melhor, é que mesmo estando insuflado o airbag não impedirá o militar da GNR de utilizar todos os outros equipamentos, nomeadamente recorrer, caso necessário, à sua arma de serviço.
Por outro lado, convém também destacar que em caso de queda o colete com airbag inclui uma pequena faixa na zona da cintura, que permitirá evitar que a arma “salte” do coldre, adicionando um nível extra de segurança.
Estes novos equipamentos serão estreados em breve, mais precisamente durante a Volta a Portugal em bicicleta, evento onde 25 militares motociclistas da GNR vão acompanhar a prova já equipados a rigor com estes elementos de proteção.
Depois deste teste prático, a GNR irá analisar e, se tudo correr conforme esperado, o equipamento será então aplicado aos restantes militares que integram a Unidade de Trânsito da Guarda Nacional Republicana a nível nacional.
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