Quando em 2020 o artista russo Andrew Fabishevskiy apresentou ao mundo o seu conceito de moto lunar através da divulgação de algumas imagens geradas por computador, a alemã Hookie, fundada em Desden por Nico e Sylvia Müller, rapidamente entrou em campo para passar da teoria do conceito à prática. Foi assim que se deram os primeiros passos, terrestres, para já, para a criação da Hookie Tardigrade.
E o que tem de especial a Tardigrade para ser notícia aqui na Revista MotoJornal?
Esta concept chamou-nos à atenção devido a ser concebida pela Hookie como uma moto para ir ao espaço. Inicialmente poderia ser utilizada pela NASA – Agência Espacial Norte Americana nas suas explorações lunares, mas a sua construção prevê que a Tardigrade possa ser conduzida em exploração de outros planetas.
Nico e Sylvia Müller contactaram Andrew Fabishevskiy para lhe pedir a autorização de utilização dos seus designs. O artista russo aceitou de imediato a proposta dos fundadores da Hookie, que depois iniciaram a fase de conceção de um protótipo real e funcional.
Esta moto para ir ao espaço ganha o seu nome de um animal microscópico com o mesmo nome, capaz de suportar e sobreviver aos ambientes mais extremos: gelo, água, temperaturas elevadas ou negativas, e até ao espaço! Partindo deste animal e da sua resistência extrema, a Hookie Tardigrade foi concebida para replicar essa ideia de sobrevivência em ambientes exigentes como o espaço.
Através do programa de computador AutoDesk Fusion 360, a Hookie redesenhou os designs de Andrew Fabishevskiy, que, de acordo com os fabricantes alemães, apesar de serem interessantes não estavam à escala.
Conseguir passar o conceito para algo mais do que apenas a visão de um artista russo demorou mais de seis meses!
A Hookie viu-se na contingência de desenhar todos os elementos da Tardigrade na sua própria oficina em Dresden. E isso significou que, para além de todo o trabalho ao nível dos esquemas em computador, a Hookie necessitou de mais três meses para garantir o fabrico dos principais componentes.
Tudo isto resultou numa moto lunar e exploração planetária suportada por um quadro com dez milímetros de espessura fabricado em alumínio, cortado a laser. Os cubos das rodas são também no mesmo material. O quadro é envolvido num exoesqueleto tubular, enquanto as baterias fornecidas pelos parceiros suecos da CAKE são protegidas por uma cobertura de Kevlar fabricada pela DuPont, empresa que fornece a NASA.
Essa cobertura especial é essencial para proteger as baterias e componentes eletrónicos dos impactos de objetos espaciais ou pedras, do frio espacial, mas também, graças ao acabamento superficial em alumínio, protegendo esses componentes essenciais da Tardigrade da radiação UV.
Com dois motores elétricos da CAKE que permitem à moto lunar da Hookie atingir uma velocidade máxima de 15 km/h, e com baterias que garantem uma autonomia de 110 km, o motociclista espacial poderá utilizar a Tardigrade nos seus passeios espaciais transportando os mais diversos tipos de equipamento.
A moto pesa apenas 134 kg, o que a torna perfeita para ser transportada nos vaivém espaciais da Terra para a Lua, ou, eventualmente, para outros planetas.
Isto porque, de acordo os dados mais recentes da NASA e especialistas em viagens espaciais, o transporte de 1 kg de material para fora da órbitra terrestre custa atualmente cerca de 2.700 dólares americanos. Por isso, quanto mais leve for a moto, menos custos estarão associados à sua utilização. Para referência, o buggy lunar utilizado pela NASA pesa 210 kg.
Por outro lado, a Hookie revela que o espaço necessário para transportar o buggy lunar convencional é o mesmo que o espaço necessário para transportar quatro motos Tardigrade. O que ainda se torna mais vantajoso, pois não apenas estamos a falar em peso, mas sim em volume consideravelmente menor.
Mas os benefícios deste conceito de moto lunar da Hookie não se ficam por aqui.
Na verdade, grande parte dos componentes não eletrónicos são fabricados com recurso da impressão 3D, utilizando diferentes tipos de plástico dependendo da função do componente. Isto significa que, numa estação espacial, será rapidamente possível fabricar pequenas peças que sejam danificadas durante a exploração da superfície lunar ou de um planeta.
E por falar em substituir peças, a Hookie destaca também que as rodas da Tardigrade são o elemento mais especial desta moto para ir ao espaço.
Para além de não recorrerem a pneus convencionais, cada uma das jantes está coberta por 12 módulos individuais rugosos fabricados em poliuretano. Isto significa que facilmente será possível substituir um módulo que se danifique durante a utilização da moto na sempre complicada e agreste superfície lunar.
O sistema de direção da Hookie Tardigrade é também ele algo especial e exclusivo.
É uma direção totalmente eletrónica que recorre a um potenciómetro no guiador. O potenciómetro trabalha em conjunto com um computador Arduino, e recorrendo a um algoritmo desenvolvido pela Hookie é possível controlar a direção da Tardigrade de uma forma totalmente eletrónica.
Nico e Sylvia Müller garantem que no futuro irão continuar a trabalhar no aperfeiçoamento do sistema de direção integralmente eletrónico, e pretendem ajustar a parametrização do algoritmo que a controla.
Para já, e apesar de não aprofundar muito a possibilidade da Tardigrade ser utilizada verdadeiramente como moto espacial, a Hookie refere apenas que a NASA tem acompanhado o projeto. Talvez a agência espacial norte-americana esteja já a pensar em transportar a Tardigrade até à Lua quando regressarem às aterragens lunares em 2025.