Depois de estarmos há já várias semanas em confinamento e de ainda estarmos sob as restrições do estado de emergência, (o qual, à partida, deverá conhecer hoje mais uma renovação até o dia 2 de Maio), esta semana verificamos que a sociedade portuguesa já se começa a mobilizar para discutir os impactos, problemas e desafios económicos que Portugal terá pela frente depois da quarentena provocada pelo coronavírus COVID-19.
No programa “Negócios da Semana”, em mais um debate conduzido pelo jornalista José Gomes Ferreira, que foi para o ar ontem (quarta-feira às 23h00) na SIC Notícias, pudemos assistir João Vieira Pereira, Diretor do Expresso, na sua última intervenção, a levantar um cenário problemático de mobilidade urbana, mas que poderá ser uma oportunidade para o mercado luso no sector das duas rodas.
O jornalista antecipou uma preocupação, sobretudo para as cidades de Lisboa e Porto e que na sua perspectiva será um aspecto crucial para a nova realidade que se adivinha “pós-estado de emergência”. Referia-se à questão dos transportes, em particular à mobilidade urbana. “O que vamos começar a assistir, de certeza, quando a economia voltar mais ou menos ao normal, é um ressurgimento enorme do uso do carro, mas apenas por um passageiro. Com muito mais utilização do carro, muito mais trânsito, eu acho que vai ser um grande desafio para todos. Porque essa vai ser a primeira tendência normal da pessoa: ‘eu vou trabalhar, vou no meu carro, e vou sozinho’ – o que é completamente contra tudo aquilo que nós estávamos a defender nos últimos tempos e que era: ‘deixe o carro em casa, vá de transportes públicos ou leve mais pessoas no carro”. José Gomes Ferreira no final completou o argumento dizendo que “há sempre soluções: arranjamos carros mais pequenos, com um ou dois lugares, e até poupamos combustível”. João Vieira Pereira rematou a ideia, e em tom de brincadeira, afirmou: “vamos todos de moto”.
Ora, mesmo em tom de boa disposição, a solução final apontada pelo Diretor do Expresso para a sua preocupação sobre a questão da mobilidade urbana é muito pertinente. Considerando a manutenção das regras de distanciamento social “pós-estado de emergência” e, devido a essa necessidade e precaução, advinha-se o consequente e mais que expectável assoberbamento diário de trânsito devido à utilização de automóveis próprios de forma individualizada. Isto significa que, de facto, as motos serão muito melhor alternativa que os automóveis para enfrentar os futuros congestionamentos de trânsito urbano no dia-a-dia. Como, aliás, o sector das duas rodas sempre o defendeu.
Mas como o próprio Diretor do Expresso referiu no início da sua argumentação: “As empresas têm de agir já e preparar a reabertura para quando ela acontecer. Atenção, estamos em estado de emergência e são mais quinze dias. Portanto, a retoma não é imediata. Mas têm de estar preparadas para isso, para quando começarem a trabalhar terem as condições todas”. Ou seja, também o sector das duas rodas tem de estar atento a este mais que provável desafio, mas que, ao mesmo tempo, pode constituir-se como uma oportunidade. O tempo o dirá.