A pré-temporada está terminada, todos os testes de Inverno realizados. Tudo está a postos para o início para a 70.ª edição do Mundial de Velocidade.
Será uma temporada mais longa do que o habitual, com 19 grandes prémios. O primeiro é já no próximo fim-de-semana: o GP do Qatar, como habitualmente, marca o arranque da época.
Olhando apenas para os testes é difícil fazer prognósticos. E mesmo depois das corridas no Qatar, ainda é difícil traçar previsões. Losail é uma pista um pouco diferente, com as corridas a desenrolarem-se em condições peculiares. É o único grande prémio realizado à noite, com a pista iluminada por um complexo, brilhante e caríssimo sistema de iluminação.
Embora os testes de Inverno nunca sejam conclusivos, deixam-nos com uma ideia de como equipas, motos e pilotos estão competitivos. As classificações nos três testes efectuados em Sepang, Buriram e Losail foram tão diferentes que fazem antever uma temporada tão ou mais emocionante do que as anteriores.
Apesar da dificuldade na leitura dos resultados dos testes de Inverno, algumas ilações podem ser tiradas. Por exemplo, as Honda parecem estar mais competitivas que as Yamaha. Embora apenas Dani Pedrosa tenha concluído um dos testes no topo da tabela de tempos, também Marc Marquez e Cal Crutchlow deixaram boas indicações. Por outro lado, na Yamaha foi quase sempre Johann Zarco a mostrar-se mais competitivo, com a Yamaha satélite; os pilotos oficiais debateram-se com algumas dificuldades, especialmente Valentino Rossi.
Ducati com vários protagonistas
No campo da Ducati as coisas parecem relativamente equilibradas. O piloto mais regular ao longo dos testes foi Andrea Dovizioso. O italiano não foi, porém, sempre o mais rápido dos pilotos Ducati; Jorge Lorenzo foi mesmo o mais rápido dos testes da Malásia, para nos testes seguintes praticamente ‘desaparecer’. Na Tailândia seria Jack Miller o melhor representante do construtor italiano. O australiano da Alma Pramac Racing poderá ter uma palavra a dizer nalguns grandes prémios este ano.
A Suzuki parece ter dado um importante passo em frente. Álex Rins parece ter tirado partido disso, tendo sido batido pelo seu companheiro de equipa em apenas num dos três testes deste ano.
Aprilia e KTM continuam a trabalhar para tornar as suas motos competitivas, tendo a desvantagem de terem cada uma apenas duas motos. A marca austríaca, convocou Mika Kallio para os testes com uma terceira moto, mas só pôde contar com Pol Espargaró em três dos nove dias de testes, devido a lesão. O piloto catalão chegou a rodar em Losail, mas longe da sua normal forma física. Isso mudará em 2019, quando a Tech 3 passar a contar também com duas RC16 oficiais.
Quem podemos então considerar como principais candidatos ao título?
Marquez lidera o rol de estrelas
Apesar dos testes de Inverno não lhe terem corrido de feição, nunca podemos descartar Marc Marquez, que volta a defender o n.º 1. O piloto espanhol inicia a temporada com 25 anos de idade, com quatro títulos conquistados em cinco anos de MotoGP. Marquez vai para a sua 11.ª temporada de Mundial, onde tem uma carreira repleta: seis títulos em 10 anos.
É ainda jovem – quando realizou o seu primeiro GP Valentino Rossi já tinha conquistado sete títulos, cinco deles na categoria rainha! – e é o piloto a bater, ou não fosse o campeão. No passado já mostrou que consegue dar a volta às contrariedades. Por isso os resultados dos testes – 7.º na Malásia, 3.º na Tailândia e 7.º no Qatar – podem ter pouco significado.
Dovi candidato por mérito próprio
O principal adversário de Marquez Marquez no ano passado foi Andrea Dovizioso. O piloto italiano conseguiu tantas vitórias quanto o espanhol e levou a luta até ao fim. Foi uma temporada em que se viu um ‘novo’ Dovi.
O piloto da Ducati cumpre o seu 32.º aniversário uma semana após o GP do Qatar, e é o terceiro mais antigo do campeonato – ex aequo com Jorge Lorenzo. Muito já nem se lembram que Dovizioso foi campeão mundial de 125 cc em 2004. Nos três anos seguintes foi um dos protagonistas em 250 cc, tendo sido duas vezes vice-campeão. Em ambas as ocasiões – 2006 e 2007 – perdeu o título para o seu actual companheiro de equipa, Jorge Lorenzo.
A temporada de 2018 é a sua 11.ª na categoria rainha, tendo corrido com três construtores diferentes. Em 10 anos ficou quase sempre entre os cinco primeiros no final do campeonato. Sendo o seu sexto ano integrado na Ducati, Dovi conhece bem a equipa oficial italiana. Especialmente depois do que mostrou no ano passado, este ano começa como candidato à luta pelo título.
A Ducati, conhecida pela sua velocidade, em recta tira partido de contar com três equipas satélite – Alma Pramac Racing, Angel Nieto Team e Reale Avintia Racing. Mesmo sendo apenas uma destas motos, a de Danilo Petrucci, uma GP18 igual às oficiais, o feedback é importante. Jack Miller, Tito Rabat e Alvaro Bautista contam com Desmosedici GP17 e Karel Abraham e Xavier Simeon com GP16.
Incerteza na Yamaha
Para os pilotos da equipa oficial Yamaha as coisas parecem não ter mudado muito em relação ao ano passado. Ambos com dificuldades em tirar partido de uma M1 que continua a mostrar-se caprichosa. No ano passado o ano até começou da melhor forma para Maverick Viñales, com duas vitórias nas duas primeiras corridas do ano. Apesar de ter voltado a vencer mais uma vez e ter subido ao pódio em outras três ocasiões, não foi um ano fácil. Assim como não foi fácil esta pré-temporada, já que aparentemente a M1 continua a ‘mastigar’ os pneus traseiros, dificultando a vida aos pilotos. O problema não parece ter sido resolvido para 2018, e é com essa incerteza que Viñales iniciará a sua quarta temporada de MotoGP. O campeão mundial de Moto3 de 2013 teve uma ascensão meteórica no campeonato, e apesar de ser um dos mais jovens – inicia a temporada com 23 anos – é também um dos favoritos.
Pedrosa: será desta?
A cada ano que passa, uma das perguntas que se repetem antes de cada temporada é: será este o ano de Dani Pedrosa? O piloto espanhol é um dos veteranos: é o segundo mais antigo do campeonato; só Valentino Rossi está há mais tempo no Mundial. Com 32 anos de idade, para muitos Pedrosa é o ‘eterno segundo’ da categoria rainha. Com três títulos conquistados nas categorias mais pequenas, já esteve várias vezes perto de conquistar o título maior, mas acabou por ficar sempre aquém. Já foi três vezes vice-campeão e a sua carreira tem pelos duas peculiaridades: nunca pilotou outra moto a não ser uma Honda desde que chegou ao Mundial em 2001 e em 17 temporadas de Mundial só na primeira não conseguiu vencer. Com 153 pódios no seu curriculo, a sua consistência tem merecido a confiança da Honda na sua equipa oficial. Esta será a sua 13.ª temporada na categoria rainha. Repete-se a pergunta: será desta?
Rossi, a estrela que ainda brilha
Se Dani Pedrosa é o ‘eterno segundo’, Valentino Rossi é a ‘estrela eterna’. O grande tema actualmente à volta de Rossi é se ele pára no final da temporada ou continua. O Dottore busca o seu 10.º título, e enquanto se divertir e achar que pode lutar por ele, provavelmente vai ficando. O problema é que Valentino conquistou o seu último título em 2009. Se de 2014 a 2016 foi um protagonista na luta pelo campeonato, isso não aconteceu no ano passado. A Yamaha foi superada pela concorrência e Valentino, apesar de sido um dos vencedores da temporada de 2017, teve dificuldades em explorar a M1. Ainda por cima magoou-se a meio da temporada, e nem sequer esteve presente no ‘seu’ grande prémio, em Misano.
O veterano piloto italiano inicia a sua 23.ª temporada de Mundial (e 17.ª de MotoGP!) com 39 anos de idade, e certamente poucos serão capazes de apostar contra aquele que é considerado por muitos o melhor de todos os tempos. Até ele dizer um dia ‘Já chega’, nunca poderemos descartar Valentino Rossi. Se conquistasse o seu 10.º título em 2018 seria épico.
Lorenzo e a Ducati
Há muitos campeões mundiais presentes na categoria de MotoGP em 2018. Jorge Lorenzo é um deles. Tal com outros antes dele, Lorenzo não encontrou na Desmosedici uma moto fácil. Conseguiu uns pódios no seu primeiro ano com a moto italiana, mas a época ficou marcada pela inconsistência. O mesmo aconteceu nos testes de pré-temporada: foi o mais rápido em Sepang, mas depois seria apenas 16.º em Buriram – batido por dois rookies – e 10.º em Losail. Se avaliarmos a situação de Lorenzo só a partir dos testes, a temporada não se adivinha melhor que a passada. Mas o espanhol é combativo e determinado, e ainda poderá surpreender.
Esperança na Suzuki e na Tech3
Na Suzuki, no ano passado Álex Rins iniciou o ano magoado e faltou a várias corridas e Andrea Iannone teve uma temporada de (poucos) altos e (muitos) baixos. Nos testes ambos mostraram estar competitivos, mas dos pilotos oficiais serão talvez as maiores incógnitas.
Fora das equipas oficiais é praticamente impossível chegar ao título. Mas há candidatos às vitórias. Johann Zarco é um deles, e se o piloto francês já impressionou na sua primeira temporada na categoria rainha, as expectativas são grandes agora que tem um ano de experiência. Não se limitou a ser o mais rápido nos testes de Losail, mostrou também, grande consistência, e não será de estanhar se terminar este ano várias vezes à frente das máquinas da equipa oficial.
Outros pilotos independentes
Outro piloto independente capaz de ensombrar os oficiais é Danilo Petrucci. O simpático italiano de 28 anos nunca venceu, mas conhece o sabor do pódio, e já mostrou ter o que é preciso para bater todo o plantel.
Capaz de vencer é Cal Crutchlow. O britânico já provou o sabor da vitória por duas vezes, em 2016. A consistência que por vezes lhe parece faltar ficou patente nos testes de Inverno: o britânico da LCR ficou sempre entre os cinco primeiros. Poderá ser um sinal?
E os rookies?
Johann Zarco surpreendeu no ano passado. Haverá alguém capaz de desempenhar esse papel em 2018? Em três testes Takaaki Nakagami foi o melhor dos rookies em dois. No outro foi Franco Morbidelli.
De quem muito se falou foi de Hafizh Syahrin, recrutado à última hora para substituir Jonas Folger na Tech 3. O ‘Pescado’ participou em dois testes, Buriram e Losail, e mostrou uma boa evolução de um para o outro, tendo ficado à frente de muitos pilotos bem mais experientes. Veremos como será a temporada do malaio em MotoGP.
Quem passou muito despercebido durante o Inverno foi Tom Lüthi. O experiente suíço está no campeonato desde 2003, e tem um título no seu currículo. Tem sido um dos protagonistas em Moto2 desde a introdução desta categoria e foi vice-campeão nos últimos dois anos, por isso há alguma expectativa em relação à sua prestação na categoria rainha.
O menos favorito entre os rookies será certamente Xavier Simeon. Militou em Moto2 desde que chegou ao Mundial em 2010, com dois título de Superstock (600 e 1000) no seu currículo, mas só numa das temporadas de Mundial conseguiu terminar entre os 10 primeiros. Pode ser que se revele agora com a Ducati da Avintia.
Curiosidades
• Dos 24 pilotos do plantel de 2018 de MotoGP, 12 já foram campeões do Mundo. Juntos somam 32 títulos, assim distribuídos: 6 de 125 cc; 1 de Moto3; 5 de 250 cc; 6 de Moto2; 1 de 500 cc; 13 de MotoGP.
• Desses 32 títulos, 9 (28%) pertencem a Valentino Rossi.
• Os 13 títulos de MotoGP pertencem a três pilotos: 6 de Valentino Rossi, 4 de Marc Marquez e 3 de Jorge Lorenzo.
• Valentino Rossi é o único dos actuais pilotos de MotoGP a ter corrido (e a conquistar um título) na classe de 500 cc.
• Dos 12 campeões, apenas 4 conseguiram títulos em mais do que uma categoria: Dani Pedrosa (125 cc e 250 cc); Valentino Rossi (125 cc, 250 cc, 500cc/MotoGP); Marc Marquez (125 cc, Moto2 e MotoGP); Jorge Lorenzo (250 cc e MotoGP).
• Destes pilotos pluri-campeões, aquele que não consegue qualquer título há mais tempo é Dani Pedrosa: foi campeão pela última vez em 2005 (250 cc).
• De todos os pilotos que foram campeões, aquele que conseguiu o seu último título há mais tempo é Andrea Dovizioso: campeão de 125 cc em 2004.
• Entre os actuais pilotos de MotoGP há apenas um campeão de Moto3: Maverick Viñales.
Quase 500 vitórias
• Em termos de vitórias, o plantel soma 461, sendo que praticamente um quarto delas (115) pertencem a Valentino Rossi. Os seguintes na lista com mais vitórias são Jorge Lorenzo (65) e Marc Marquez (61).
• O piloto que está há menos tempo no Mundial é Franco Morbidelli: fez a sua primeira temporada em 2014 (Moto2).
• Jack Miller foi o piloto que demorou menos tempo a chegar à categoria rainha depois de entrar no Mundial. Após três temporadas em Moto3 ascendeu a MotoGP.
• O único piloto que entrou directamente para MotoGP sem passar pelas categorias mais pequenas do Mundial foi Danilo Petrucci.
• Os únicos pilotos que deixaram o Mundial e depois regressaram foram Karel Abraham e Takaaki Nakagami. O checo saiu para o Mundial de Superbike em 2016 e regressou no ano passado. Nakagami depois dos dois primeiros anos fez duas temporadas do campeonato japonês (Superstock 600 e Moto2) e regressou ao Mundial em 2012, ingressando nas Moto2.
• Andrea Dovizioso e Jorge Lorenzo chegaram no mesmo ano ao Mundial (2002) e tiveram um percurso semelhante, mas com resultados diferentes: 3 anos em 125 cc, outros 3 em 250 cc e depois MotoGP. Dovi conseguiu apenas um título (125 cc, 2004), enquanto que Lorenzo conseguiu 4 (250 cc em 2006 e 2007 e MotoGP em 2010 e 2012).
• O piloto mais velho é Valentino Rossi, com 39 anos, e o mais novo é Álex Rins, com 22.
No quadro em baixo podemos ver de relance o trajecto dos actuais pilotos de MotoGP.