Será já no próximo fim de semana que se realiza a sétima ronda da temporada 2022 de MotoGP. O Grande Prémio de França terá como cenário o circuito de Le Mans, um traçado que se torna complicado pela combinação de zonas rápidas com trocas de direção repentinas.
Le Mans é um circuito onde os pilotos esperam contar com uma moto estável para poder travar com confiança em inclinação, como por exemplo na curva 1, mas também querem ter uma moto ágil para mudanças rápidas de direção sem ter de abrandar em demasia.
Uma das primeiras coisas que devemos ter em conta num Grande Prémio de França em Le Mans são as condições climatéricas. Sempre imprevisíveis, este ano as previsões mais atuais voltam a dar conta da possível aparição da chuva precisamente no dia de domingo.
Supostamente a possibilidade de chuva aumenta conforme nos aproximamos da hora de início da corrida de MotoGP. E isso leva a maior grau de incerteza na afinação das motos. Na sexta-feira e sábado as previsões apontam para pista seca.
Com a chuva a ser uma ameaça, isso pode ser uma boa notícia para várias equipas. Por exemplo, Miguel Oliveira (Red Bull KTM Factory) já mostrou em 2022, no Grande Prémio da Indonésia, que em condições de chuva é um piloto claramente acima da média mesmo para a categoria rainha.
Suave na condução, adotando trajetórias “limpas”, Miguel Oliveira será certamente um dos favoritos a bom resultado em caso de chuva. A KTM RC16 parece dar-se bem neste tipo de condições. Por outro lado, temos a Ducati, que venceu em Le Mans nas últimas duas visitas… e sempre à chuva!
A Suzuki Ecstar, principalmente por Alex Rins, parece ser uma equipa a ter em conta à chuva, o que não acontece habitualmente com a Yamaha M1, pese embora Fabio Quartararo (Monster Energy Yamaha) tenha estado a excelente nível no Grande Prémio da Indonésia no que foi talvez a sua melhor prestação neste tipo de condições.
Mas a M1 sofre de problemas de aderência, pelo que se as condições de aderência do asfalto reduzirem ao longo da corrida, isso poderá deixar os pilotos Yamaha em dificuldades sérias.
A Honda está ainda a tentar perceber o que é preciso para tornar a RC213V deste ano numa moto temível. Para já têm tido muitas dificuldades, e nem mesmo Marc Márquez (Repsol Honda) parece estar satisfeito.
Porém, o espanhol já mostrou no ano passado que em condições de mudança de aderência tem uma grande capacidade de adaptação… mesmo que terminem em abandono como em 2021 ao levar longe demais o seu esforço e cair, levando ao abandono numa corrida que podia ter vencido.
Temos ainda de contar com a Aprilia, ainda que em condições de chuva, como se sabe, Maverick Viñales seja um piloto que habitualmente “desaparece” e desce rapidamente na classificação. Aleix Espargaró será então aquele que deverá novamente levar mais alto a moto italiana de Noale. Mas a nova RS-GP não tem muito tempo de pista em condições de chuva, pelo que se chover durante a corrida do Grande Prémio de França a Aprilia terá de mostrar a sua capacidade de reação.
A nível técnico, o circuito de Le Mans conta com diversas alterações de altitude graças a adotar o desenho das elevações naturais do terreno onde está localizado. Curvas com camber (positivo e negativo), zonas de travagem em inclinação ou a descer, secções a subir onde conta a potência do motor.
Um ponto extremamente crítico no traçado gaulês é a icónica curva 1 e a chicane Dunlop que se segue.
A curva 1 é extremamente rápida com as MotoGP a chegarem aos 310 km/h nesse ponto do circuito. Depois terão de travar para menos de 100 km/h para entrar na chicane. Se num primeiro momento o piloto tem de garantir que a frente da moto é “sensível” o suficiente para que a consiga levar para a trajetória e travar em inclinação enquanto troca de inclinação, num segundo momento tem de sentir uma frente sólida para a travagem e troca de direção. Um equilíbrio complicado de atingir.
A zona seguinte é a descer e com uma longa direita em que o camber provoca muitos sustos (e quedas!), sendo por isso uma secção sensível para a forquilha dos protótipos de MotoGP, que terá de transmitir uma informação perfeita para que o piloto sinta confiança para atacar essa curva em grande velocidade.
Num circuito onde a aerodinâmica não desempenha um papel decisivo, pelo menos à primeira vista, não deixa de ser interessante perceber que os novos pacotes aerodinâmicos desenvolvidos para 2022 podem desempenhar um lado fundamental no resultado das qualificações e corrida também.
Por exemplo, a KTM já admitiu que o novo pacote aerodinâmico alterou por completo o equilíbrio da sua RC16 e a forma como a moto se comporta. Ou seja, num circuito totalmente diferente do que tivemos até agora, a KTM estará perante um fim de semana onde as informações do ano passado e mesmo as que recolheu até agora em 2022 podem não ser eficazes.
E se no caso da aerodinâmica entramos num campo que vai variar muito de protótipo para protótipo, algo que não varia em Le Mans é a necessidade das motos serem extremamente estáveis. A estabilidade será inicialmente conseguida movendo a roda traseira para trás ou para a frente, alterando efetivamente a distância entre eixos.
Um caso óbvio será a Yamaha M1, protótipo que tem sofrido de falta de aderência e que tem “brincado” todos os fins de semana com a distância entre eixos para melhorar a estabilidade e ajudar pilotos como Franco Morbidelli a encontrar a aderência na traseira que tanto procura.
Ao nível da distância entre eixos para Le Mans, as equipas têm uma tendência natural para favorecer uma distância mais curta, pois as curvas do circuito onde se disputa o Grande Prémio de França ou são de média velocidade ou baixa velocidade. Mas embora isso garanta agilidade, por outro lado retira estabilidade.
E agora que já conhece alguns dos segredos que podemos encontrar no circuito de Le Mans, clique aqui para ficar a saber os horários completos do Grande Prémio de França de 13 a 15 de maio. E fique atento a www.motojornal.pt para ficar a par de todos os resultados e novidades do sétimo GP do ano.