MotoGP: a dança das cadeiras ainda não acabou

Jorge Lorenzo
Jorge Lorenzo

Mais de metade dos lugares da grelha de MotoGP para 2019 já estão ocupados, mas isso significa que falta a outra metade. As equipas oficiais têm pelo menos um piloto cada uma já garantido; à excepção da Yamaha e KTM, que já têm ambos os lugares preenchidos para os próximos dois anos. Entre as equipas oficiais há neste momento apenas quatro lugares para preencher. É nas equipas-satélite que existem mais vagas, sete no total.

Do lado dos pilotos, um dos mais falados neste momento é Jorge Lorenzo. Fica ou não na Ducati? Segundo declarações de Andrea Dovizioso na véspera do GP de França, a sua saída é certa; isto porque Desmo Dovi apontava como mais provável companheiro de equipa para 2019 Danilo Petrucci ou Jack Miller. Se Lorenzo não ficar, a sua vida complica-se. Era apontado como possível substituto de Andrea Iannone na Suzuki, mas essa possibilidade parece ter caído por terra. Será Joan Mir a ocupar esse lugar; o jovem piloto espanhol tinha um pré-acordo com a Honda, mas o construtor tinha que formalizar a contratação até ao dia 24 de Maio. Isso não aconteceu, pelo que Mir está livre e, tudo indica, a caminho da Suzuki.

Sacrifícios…

Para ficar na Ducati, Jorge Lorenzo terá que aceitar um corte substancial no seu salário, e negociar algo como Dovizioso: um salário fixo mais baixo, complementado com bónus pelos resultados. Antes do GP de Espanha Lorenzo dizia que queria mostrar que é capaz de levar a Ducati ao pódio, para valorizar a sua posição no mercado. Isso ainda não aconteceu este ano. Tal como aconteceu a outros antes dele, a Ducati está a revelar-se um desafio mais difícil que o previsto.

Jorge Lorenzo
Jorge Lorenzo

Neste momento poderá ter que começar a considerar as equipas-satélite, se quiser ficar em MotoGP. Por outro lado, apesar de os pilotos serem avaliados essencialmente pelos resultados, a prestação desportiva não é a única tida em conta. Há outros factores determinantes; os recentes pódios de Iannone pelos vistos não chegaram para lhe garantir a permanência na Suzuki. O factor económico e a imagem do piloto contam muito. E em relação a esta última, quer a de Lorenzo, quer a de Iannone desvalorizaram nos últimos tempos.

Ainda por cima, os 12 milhões que alegadamente a Ducati pagou a Lorenzo ainda não foram compensados pelo espanhol em resultados. Depois, a maior parte das vezes que abre a boca, Jorge Lorenzo diz qualquer coisa que não cai nada bem no meio. O seu brilhantismo em pista, que o levou a conquistar cinco títulos mundiais, contrasta grandemente com a falta de tento na língua. Na maior parte das vezes soa entre o arrogante e o gabarolas, o que prejudica a sua imagem e popularidade. Como diz o ditado popular, pela boca morre o peixe.

O tempo escasseia e especialmente Jorge Lorenzo começa a ficar sem grandes saídas. A missão de Albert Valera, o seu manager, fica assim cada vez mais difícil. Poderá acontecer Jorge Lorenzo ficar apeado?

Pedrosa fica na Honda?

Com Johann Zarco a optar pela KTM, e o facto de a Honda ter prescindido de Joan Mir pode dar a entender que afinal Dani Pedrosa poderá permanecer na Honda. Este é o 13.º ano do piloto espanhol na equipa oficial Honda na categoria rainha. Apesar de nunca ter conseguido o tão ambicionado título, Pedrosa tem vencido corridas todo os anos. As lesões não têm ajudado na luta pelo título. Pedrosa tem sido operado pelo menos uma vez por ano a qualquer coisa, e leva já mais de duas dezenas de operações em 18 anos de Mundial. Continuará ele como companheiro de equipa de Marc Marquez?

Dani Pedrosa
Dani Pedrosa

Dani Pedrosa pode nunca ter conquistado um título de MotoGP, mas tem sido muito valioso para a Honda. Tem sido muito consistente – nos 12 anos anteriores apenas uma vez terminou o campeonato fora dos cinco primeiros – e é claramente um membro da equipa, sem levantar ondas. No fundo, para além de rápido, é confiável. O novo director desportivo da equipa Honda é Alberto Puig, que veio substituir Livio Supo. Puig acompanhou Pedrosa desde que o descobriu na Movistar Activa Cup, em 1999.

Tornou-se no seu manager, o que durou até ao final de 2013. A separação foi cordial, mas com algum azedume de parte a parte. Agora Puig tem uma palavra a dizer sobre a continuidade, ou não, de Pedrosa na equipa. Mas o assertivo e muitas vezes polémico espanhol já disse que a sua anterior relação com Pedrosa não afectará a decisão e que não terá a palavra final.

Porque escolheu Zarco a KTM?

E porque optou Zarco pela KTM, que não é (pelo menos ainda) uma moto vencedora? Sendo um dos pilotos mais desejados do momento, teve outras opções. Na verdade a decisão não foi sua. Foi a do seu amigo/manager/treinador/segundo pai Laurent Fellon. O objectivo era conseguir algo mais da Yamaha; mas aparentemente para além de Eric de Seynes, COO da Yamaha Europa (e francês) ninguém de topo manifestou interesse no piloto da Tech3. Na Honda, Fellon não achou favorável colocar Zarco ao lado de Marquez, e a na Suzuki Fellon diz que foram menosprezados.

Johann Zarco
Johann Zarco

Pelo contrário, na KTM e na Red Bull encontrou todo o apoio que procurava para o seu pupilo. O piloto francês, que desde muito cedo se mudou para casa de Fellon, sendo adoptado praticamente como mais um elemento da família, confia plenamente nele. E por isso seguiu os seus conselhos. É verdade que a KTM ainda está longe das mais competitivas MotoGP, quem somam anos e anos de experiência e desenvolvimento nesta categoria. Mas também é sabido que a competição está inscrita no ADN da KTM, que não corre apenas para fazer número. Para muitos é apenas uma questão de tempo até a marca austríaca chegar aos bons resultados também em MotoGP. A questão é: quanto tempo?

Novas chegadas às MotoGP

Com a mais que certa chegada de Joan Mir às MotoGP e tendo em conta os actuais pilotos de MotoGP que ainda não têm contrato para 2019, já não há motos que cheguem. E além disso fala-se de um potencial interesse de algumas equipas em Jonathan Rea. O seu manager Chuck Askland diz ter sido abordado por várias equipas, incluíndo equipas oficiais, interessadas no britânico. Para este entrar, alguém terá que sair, porque neste momento já há mais candidatos do que vagas. Porque não podemos esquecer que, para além de Mir, há outros pilotos de Moto2 a subir à categoria rainha: Miguel Oliveira e Francesco Bagnaia. Nada mais, nada menos do que os dois primeiros classificados do campeonato neste momento.

Joan Mir
Joan Mir

O piloto italiano estará na Alma Pramac Ducati já a partir do próximo ano, tendo sido dos primeiros a garantir um contrato para 2019. O contrato do italiano foi feito directamente com a Ducati, e não com a equipa gerida por Francesco Guidotti. Isso dá a entender que o construtor italiano pode ter planos a médio prazo para Pecco Bagnaia, que chegará às MotoGP com 21 anos de idade.

Quanto a Miguel Oliveira, é a passagem esperada às MotoGP, e fazê-lo no seio da KTM é um passo lógico. Embora sendo equipa satélite – ou equipa junior, como Hervé Poncharal prefere -, a Tech3 terá as mesmas motos que a equipa oficial. Por isso o piloto português contribuirá para o desenvolvimento das motos austríacas.

Com estas chegadas as MotoGP, resta saber quem estará de saída. Há vários candidatos, de Álvaro Bautista a Bradley Smith, passando por Karel Abraham.

A tensão na Marc VDS

Por outro lado, nas equipas-satélite falta saber quem fica com as Yamaha independentes, que até ao final deste ano são da Tech3 de Hervé Poncharal. Reale Avintia e Angel Nieto Team ainda não renovaram com a Ducati, mas é quase certo que o façam. Assim o construtor italiano mantém oito motos na grelha .

Pairam ainda dúvidas sobre se vai passar com a Marc VDS. A equipa vive momentos conturbados, com a tensão crescente entre o director, Michael Bartholemy, e o proprietário, Marc van der Straten. O primeiro é acusado pelo segundo de má gestão e desvio de fundos, mas o segundo pelos vistos ainda não conseguiu provar as acusações. As coisas azedaram e pelos vistos só serão resolvidas em tribunal. Marc van der Straten despediu oficialmente Bartholemy, que afirma não haver qualquer fundamento para o seu despedimento. Para o seu lugar foi já contratado Gianluca Montiron, antigo manager da JiR em MotoGP.

Futuro por decidir

O que acontecerá com a equipa Marc VDS? É difícil prognosticar; a estrutura de Moto2 pertence a Bartholemy; mas enquanto que a estrutura de MotoGP pertence a van der Straten, o contrato de aluguer das motos ao HRC parece estar em nome da MM Performance & Racing AG, uma empresa aberta na suíça por Michael Bartholemy. Isso pode complicar a actividade da equipa este ano mas… e o futuro? Quando estalou a polémica no seio da equipa, esta estava em conversações com a Suzuki e a Yamaha. Marc van der Straten fez um anúncio público assegurando a presença da equipa em MotoGP pelo menos até 2021. As conversações com a Suzuki caíram por terra, mas tudo indica que a equipa do multimilionário belga chegou a acordo com a Yamaha.

Estranhamente, esta é uma história que tem semelhanças com uma anterior de van der Straten, que tem agora 70 anos. O milionário belga, descendente dos fundadores da Stella Artois, em 2015 acabou com a sua equipa automóvel que participava nos campeonato de GT e LMS. Justificou a decisão dizendo que a sua paixão pelo automobilismo tinha acabado, mas culpou alguns dos seus colaboradores por terem traído a sua confiança e o espírito da equipa. No ano seguinte acabou com o todo o seu envolvimento no desporto automóvel, apesar de ter conquistado o título da Renault Sport Series.

Há ainda muita água para correr debaixo da ponte, mas ao longo das próximas semanas, e provavelmente até à pausa de Verão, as confirmações vão suceder-se.

Contratações confirmadas:

Equipas oficiais Pilotos (fim de contrato)
Aprilia Racing Team Gresini Aleix Espargaró (2020)
Ducati Team Andrea Dovizioso (2020)
Movistar Yamaha MotoGP Valentino Rossi (2020) Maverick Viñales (2020)
Red Bull KTM Factory Racing Johann Zarco (2020) Pol Espargaró (2020)
Repsol Honda Team Marc Marquez (2020)
Team Suzuki Ecstar Álex Rins (2020)
Equipas satélite
Alma Pramac Ducati Francesco Bagnaia (2020)
Angel Nieto Team
EG 0,0 Marc VDS Franco Morbidelli (2019)
LCR Honda Castrol/Idemitsu Cal Crutchlow (2019)
Reale Avintia Ducati Xavier Simeon (2019)
Tech3 KTM Miguel Oliveira (2019)

 

Pilotos por confirmar
Álvaro Bautista
Andrea Iannone Aprilia Racing Team Gresini ?
Bradley Smith
Dani Pedrosa Repsol Honda Team ?
Danilo Petrucci Ducati Team ou Alma Pramac Ducati ?
Hafizh Syahrin Tech3 KTM ?
Jack Miller Ducati Team ou Alma Pramac Ducati ?
Joan Mir Team Suzuki Ecstar ?
Jonathan Rea ?
Karel Abraham
Scott Redding
Takaaki Kakagami LCR Honda ?
Tito Rabat
Tom Lüthi