MotoGP – Marc Márquez: “Para ser campeão, tens de ganhar em pista e ser rápido”

Marc Márquez participou num evento especial promovido pela Estrella Galicia 0,0 e onde não fugiu a nenhuma questão. Aqui fica a entrevista.

Amado por uns, diabolizado por outros. A verdade é que Marc Márquez é um daqueles pilotos que dá ao MotoGP um colorido bem especial. Afinal, o piloto de Cervera, que fez grande parte da sua carreira ao mais alto nível aos comandos de uma Honda e esta temporada se estreou com uma Ducati, conquistou nada menos do que oito títulos mundiais!

Na verdade, Marc Márquez passou mais de uma década a competir aos comandos de uma Honda. Com a moto japonesa conquistou seis títulos de MotoGP, mas foi também aos comandos da RC213V que sofreu a mais grave lesão da sua carreira. Uma lesão que se prolongou no tempo e que, inclusivamente, colocou em dúvida se o piloto espanhol iria continuar a competir e, caso competisse, se conseguiria regressar ao mais alto nível.

A mudança para a Ducati, e logo para uma equipa satélite, a Gresini Racing, surpreendeu muitos dos seus fãs e seguidores de MotoGP. Afinal, Marc Márquez tinha decidido deixar a equipa de fábrica da Honda para abraçar um novo desafio em 2024 com a Gresini Racing de Nadia Padovani.

Esta temporada esteve aos comandos de uma moto que não tinha especificações de fábrica, a Desmosedici GP23, mas isso não pareceu afetar em demasia o piloto espanhol, que depois de se adaptar à moto italiana, logrou regressar às vitórias em MotoGP e mostrar ao Mundo que o #93 está de volta.

marc márquez

Os resultados (e o seu mediatismo) levaram mesmo a Ducati Corse a prescindir do agora campeão de MotoGP, Jorge Martin, para garantirem que Marc Márquez estará na equipa de fábrica Ducati Lenovo Team ao lado de Francesco Bagnaia. Será uma dupla temível.

Ao longo dos últimos anos a vida de Marc Márquez não tem sido fácil.

A lesão, as subsequentes operações, incluindo uma derradeira realizada em 2023 que foi arriscada, mas que lhe permitiu finalmente recuperar para a sua melhor forma, a saída da Honda num momento muito emotivo, deixaram algumas dúvidas em aberto. Mas o piloto de Cervera respondeu, reagiu, e agora está de volta ao topo do MotoGP.

Aproveitando um evento de fim de ano de um dos patrocinadores do piloto espanhol, a Estrella Galicia 0,0 , tivemos então acesso a uma entrevista com o oito vezes campeão do mundo Marc Márquez.

marc márquez

– Acabaste de fazer a tua estreia como piloto oficial Ducati, mas antes de entrar por aí, gostaríamos de falar da campanha que agora terminou. Parece que as expectativas que tinhas há um ano se concretizaram. O que aprendeste com a temporada 2024?

Marc Márquez – A temporada 2024 foi muito importante para a minha carreira porque vinha de quatro anos com muitas lesões, e isso faz-te duvidar do teu potencial, se consegues ser competitivo novamente e regressar ao teu nível mais elevado. Foi uma temporada em que definimos alguns objetivos bastante ambiciosos, claro que tendo em conta de onde vínhamos.

Definimos objetivos realistas tais como um Top 5, pódio numa corrida Sprint, depois um pódio na corrida principal e finalmente a vitória. Atingimos todos os objetivos, incluindo o mais importante, que era voltar a divertir-me, voltar a sentir as borboletas no estômago todos os fins de semana.

– Nos anos mais recentes vimos como as tuas lesões afetaram a tua carreira. Contudo, depois da última intervenção no braço direito, parece que as coisas correram bastante bem nesse sentido. Pensas que estás totalmente recuperado? Onde é que te situas em comparação com 2019?

Marc Márquez – A minha condição física está boa. Ao mesmo tempo, tal como podes perguntar a qualquer médico, após lesões graves é muito difícil voltar ao mesmo nível, mas o corpo é esperto e lembra-se, mas também se adapta, por isso é onde tu tens de trabalhar um pouco mais do que antigamente, tentar focar-te nos pontos fracos que as lesões deixaram em mim e, a partir daí, tentar estar ao máximo pronto para a pré-temporada.

Uma das coisas mais importantes em 2024 era não sofrer qualquer lesão, embora elas apareçam quando menos esperamos. Mas é essencial ter essa consistência, essa inércia boa e completar aquele passo físico que foi tão bom para mim. É para isso que temos este inverno, fortalecer os pontos fracos e começar a temporada 2025 ao nível mais alto.

– No teu primeiro contacto com a Ducati Desmosedici GP25 no teste em Barcelona completaste quase meia centena de voltas com um melhor tempo de 1m39.454s comparado com 1m38.798s que fizeste com a GP23 na Q2 no sábado anterior ao teste. O que nos podes dizer do que sentiste com as duas motos?

Marc Márquez – Aquele primeiro teste com a equipa de fábrica da Ducati na Catalunha é um primeiro momento em que tens de conhecer pessoas novas e tentar adaptar à equipa. Mas ao mesmo tempo é um teste muito importante porque foi apenas de um dia e tivemos de definir algumas linhas guia para o desenvolvimento da nova moto.

O importante para os técnicos é que tanto o Pecco (Bagnaia) e eu definimos as mesmas linhas guia, tivemos o mesmo feeling nos pontos fortes da GP25 e nos pontos fracos comparando com a GP24 que também testámos. Comparando com a moto de 2023, foi dado um salto que terei de perceber noutras pistas a diferença. Mas temos sempre nas nossas cabeças 2025, para como equipa Ducati podermos dar o passo seguinte em frente.

– Com este último teste, termina a atividade para as equipas sem concessões como a Ducati. Como é que vão ser estes meses antes do recomeço com os testes de pré-temporada?

Marc Márquez – Os meses parado podem ser longos ou curtos, depende da forma como os abordamos. Mas é importante recuperar da temporada, especialmente desta última parte, a ronda asiática, e dar ao corpo algum descanso.

Mentalmente, quando terminas bem, não precisas porque continuarias a treinar, mas também é importante abrandar um pouco e dar ao corpo o descanso, mas já a olhar para as primeiras semanas de fevereiro, quando começamos a pré-temporada na Malásia e depois a temporada na Tailândia. Quando chegarmos a fevereiro parece que estamos em novembro porque a temporada termina e começa muito perto.

Por isso temos de descansar, passar o Natal com a família e amigos, e procurar por um local de férias que, mesmo sendo bonito, tem de nos ajudar a desconectar. De janeiro para a frente temos então de entrar em modo full attack de pré-temporada, no sentido de nos prepararmos da melhor forma em termos físicos.

– Falando do futuro, o que pensas das regras das 850 cc que serão implementadas em 2027? És a favor de reduzir a aerodinâmica e excluir os dispositivos de ajuste da altura? Porquê?

Marc Márquez – Esta pré-temporada, acima de tudo, é importante porque em 2025 e 2026 os motores vão ser os mesmos. Se fizermos um erro no design do motor em 2025, vamos continuar com esses problemas para 2026. Por isso é muito importante. Depois teremos a mudança de regulamentos em 2027, com menos aerodinâmica e motores com cilindrada ligeiramente menor, mas penso que as motos vão andar da mesma forma.

Eu não sei como é que fazem, mas as fábricas conseguem sempre fazer (as motos) mais rápidas outras vez.

Contudo, o uso de menos aerodinâmica eu penso que será bom. Especialmente porque eu penso que vai levar a mais ultrapassagens e o piloto poderá fazer um pouco mais de diferença. A situação dos dispositivos de altura também se altera. Penso que quantos menos dispositivos técnicos a moto tenha, mais o piloto pode fazer a diferença, e quantos mais fatores técnicos tenha mais ficamos dependentes da mecânica.

– Recordando tudo pelo que passaste nos últimos cinco anos, ficou claro o esforço que fizeste, a forma de nunca desistir, foi algo realmente extraordinário, mesmo para um atleta de elite. Estás consciente de que o teu exemplo de superação pode ajudar outros?

Marc Márquez – Penso que essa é uma filosofia de vida partilhada com muitas pessoas e também por todos os atletas. Não se conformar é algo que tem de fazer parte de qualquer atleta, porque há sempre algo mais para conquistar. Sempre pensei que, não importa o quanto somos bons, vai surgir alguém que é melhor, hoje ou amanhã.

É por isso que temos de definir objetivos e quando os atingimos não nos podemos conformar e procurar outros, nunca baixar a guarda e querer estar sempre no topo.

Se estamos nessa posição de topo, tentamos não descer dessa posição, mas por vezes, por diferentes circunstâncias, somos derrubados e é aí que temos de continuar a trabalhar e procurar por aquele ponto em que não nos conformamos. Mas ser sempre realistas e saber onde estamos, de onde viemos e onde queremos ir. Sempre a olhar para o máximo.

Galeria de fotos entrevista a Marc Márquez

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