A ação na pista, pelo menos no que a pilotar um protótipo de MotoGP diz respeito, já terminou com a realização do teste de Barcelona logo após o Grande Prémio da Solidariedade. Porém, para Miguel Oliveira este período de descanso tem sido bastante ativo.
Não só o piloto de Almada, de 29 anos, tem de recuperar do esforço e todo o stress associado a competir na categoria rainha, como temos visto o #88 a mostrar o que vale aos comandos de uma moto em sessões de treino como a que participou com uma Yamaha R1 no circuito de Almeria – clique aqui para ver o fantástico vídeo POV de Miguel Oliveira .
Porém, desta feita o mais recente recruta da Prima Pramac Yamaha Factory Team, a nova equipa satélite da casa de Iwata, trocou as motos pelos tachos, pratos e diferentes utensílios de cozinha para participar num evento organizado pela Estrella Galicia 0,0.
Foi no restaurante Cacau, no Porto, que o piloto de MotoGP revelou surpreendentes dotes de chef de cozinha, e perante uma plateia de fãs e comunicação social, Miguel Oliveira juntou-se ao chef João Amorim para um show de “cooking”.
Um momento bastante descontraído e que serviu de cenário para uma entrevista promovida pela Estrella Galicia 0,0, e que poderá ler de seguida, onde o piloto português aborda temas como a passagem pela Aprilia, a sua lesão, mas também o seu futuro que passa por se estrear com a Yamaha YZR-M1 a nível competitivo em 2025.
Entrevista de fim de temporada a Miguel Oliveira
O que pensas dos dois anos com a Aprilia?
Miguel Oliveira – Foram dois anos difíceis. A verdade é essa. Tanto a nível técnico, como a nível físico, tive diversas lesões, diversas corridas de fora por contactos com outros pilotos. Foi uma época complicada, mas eu acredito que estes últimos dois anos me trouxeram algo de positivo.
Consegui adaptar-me a uma moto que era completamente ao que eu estava habituado, consegui ser competitivo em cima dela. E também acredito que isso me irá servir para o futuro. Portanto quero tomar estes dois anos como isso, como uma aprendizagem. Triste por não ver concretizado aquilo que eu poderia ter feito na Aprilia, mas a verdade é que é a altura de olhar para o futuro e embarcar num projeto muito ambicioso.
Tiveste dificuldades este ano, mas no GP da Alemanha lutaste pelo segundo lugar na Sprint e 6º na corrida principal. Os teus melhores resultados com a Aprilia. Estavas completamente competitivo. Para ti, o que foi tão especial nesse fim de semana e o que é uma corrida perfeita?
Miguel Oliveira – A Alemanha, a nível de resultados, foi talvez o nosso melhor Grande Prémio concretizado a nível de resultados. Consegui subir ao pódio na Sprint, o que foi extremamente positivo para todos.
É difícil de dizer o que seria uma corrida perfeita. Porque o objetivo é ganhar. E quando assim é não importa muito como o fazemos. Sair em primeiro e chegar em primeiro sem ver ninguém à frente, ou se é lutar pela primeira posição na última curva da última volta. Acredito que tem mais emoção fazê-lo da segunda maneira, mas a corrida perfeita é ganhar.
Tiveste uma lesão no pulso no GP da Indonésia e falhaste cinco Grandes Prémios. Já estás recuperado totalmente? Quais foram as complicações que provocaram uma ausência tão prolongada?
Miguel Oliveira – A recuperação foi relativamente dentro do timing que estava previsto. Tivemos o mínimo de seis semanas para recuperar. A parte triste é que perdi cinco corridas, foram todas muito seguidas, e a verdade é que estive muito tempo sentado no sofá a ver corridas.
A queda foi uma má sorte. Houve um curto-circuito na moto que me fez perder todos os controlos da moto, e saí por cima dos avanços. Quando cais assim é uma questão de sorte de não te lesionares, porque podes apanhar os avanços ou cair mal no asfalto, e tens esse azar. Mas conseguimos recuperar muito bem, consegui voltar na última corrida relativamente competitivo, não a 100%, mas agora já estou bastante bem.
Acabou por ser simplesmente um acontecimento triste, com uma falha mecânica na moto e isso fez-me cair. Por isso estamos aqui para olhar para a frente, tomar as experiências menos boas como algo positivo, e aprendizagem, mas devo dizer que estou bastante bem neste momento.
Consideras-te um inconformado?
Miguel Oliveira – A minha ideia sobre inconformismo vem sempre da nossa vontade em querer aprender um bocadinho mais. Nós estamos em constante aprendizagem em tudo o que fazemos na vida.
Aquilo que eu acredito que o desporto trouxe para a minha vida, e passei a maior parte da minha vida a competir, são estas aprendizagens que nos fazem mais completos enquanto seres humanos, como pessoas.
O pináculo destas aprendizagens é poder passar para outras gerações, neste caso para a minha família, para os meus filhos, e obviamente que durante a minha carreira desportiva a ambição sem dúvida é poder passar esta ambição, esta mensagem, exemplo de superação, de inconformismo, para que outras pessoas se possam rever nisto, desportistas ou não.
Depois do teste em Barcelona disseste que a Yamaha YZR-M1 parece uma moto normal em comparação com a Aprilia e o seu pacote aerodinâmico. Conta-nos como foi a tua estreia com a moto japonesa, quais são as tuas expectativas para a Yamaha em 2025 e as primeiras sensações com a nova equipa.
Miguel Oliveira – Foi surpreendentemente positivo! A verdade é que estava muito curioso de conhecer a equipa, perceber como é que funcionavam, como é que trabalhavam. As circunstâncias (do teste) foram muito particulares porque foi um teste após a celebração de um título mundial, tanto os mecânicos dentro da box, estavam, não diria cansados, mas estavam a aprender tudo pela primeira vez.
Receberam motos novas, tivemos muito apoio da Yamaha para ajudar nessa transição de uma moto para a outra. Mas diverti-me imenso, senti-me muito bem em cima da moto. Há certos aspetos que faltam para sermos competitivos, mas acredito muito na direção que o projeto está a levar para ver essas dificuldades reduzidas e podermos voltar a ver a marca azul no topo.
Agora que terminou a temporada, como é que vão ser os próximos meses até ao início da pré-temporada de MotoGP?
Miguel Oliveira – Já tivemos Natais e férias diferentes. Já viajámos todos, já ficámos em casa. Às vezes depende muito mais do momento em que estamos a viver, se nos apetece viajar ou não. Este ano decidimos ficar em casa. A logística com os meus filhos é também diferente.
Por isso vamos passar o Natal com a família, e é a melhor forma que conhecemos de passar o Natal. Seja num destino de praia com calor ou seja no inverno com frio, o importante é pelo menos podermos aproveitar este momento do ano para juntar a família.
Galeria de fotos entrevista Miguel Oliveira
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