A Voz do Rodrigo – A “moto terapia” deveria fazer parte do S.N.S.

Quem gosta de estudar História mundial apercebe-se muito rapidamente que há algo de imutável na evolução dos povos, dos países, das civilizações. Isto é, a busca de melhores condições tem sido o principal moto humano desde os tempos das cavernas.
Foi sempre a tentativa de melhorar a sua condição que levou à evolução das armas de caça, à manipulação do fogo, à sofisticação da habitação, do vestuário, da alimentação, etc… Ou seja, “a necessidade aguça o engenho” e ano após ano, século após século, milénio após milénio, o ser humano tem vindo a ficar cada vez mais “rico” mas nem sempre mais “feliz“.
Basta compararmos a evolução do nosso país (OU DAS NOSSAS VIDAS PARTICULARES) ao longo dos últimos anos:
- Já conhecemos grandes períodos de abundância, mas também grandes períodos de provação;
- Já vivemos grandes momentos de euforia social, mas também grandes momentos de depressão coletiva;
- Nuns e noutros, nem sempre a linha de abundância económica foi similar à da satisfação social.
Em resumo, o dinheiro POR SI SÓ não é sinónimo de felicidade… ainda que ajude muito. Talvez isso explique porque nem sempre são os países mais ricos os mais felizes, porque há taxas de suicídio maiores em países endinheirados do que em países em que se luta pela vida.
Há países que nos podem servir de “exemplo mundial”. O Butão, por exemplo, é o único país do mundo a medir o sucesso nacional pelo seu Índice de Felicidade Nacional Bruta em vez do tradicional PIB. Se analisassem Portugal assim, qual é que seria maior? O nosso “índice de felicidade” ou o nosso PIB? E o que é que isso tem a ver com as motos?
Tem tudo a ver, porque alguns dos últimos estudos científicos apontam claramente o ato de ANDAR DE MOTO como um dos comportamentos humanos, individualmente considerados, capazes de provocar maior felicidade.
Têm dúvidas? Vejam a vossa cara ANTES e DEPOIS de qualquer simples volta de moto ou ida a uma concentração com mil amigos que nem conheceriam se não fosse pelas duas rodas…
- Vejam a atitude dos vossos colegas de trabalho que passam todos os dias horas e horas presos nos seus carros no trânsito…
- Vejam o sorriso de um adolescente a receber a sua primeira motinha de independência…
- Vejam a saúde que irradia de um qualquer velhote português na sua motorizada fumarenta a dois tempos, na qual já levou os filhos e os netos ao longo de toda uma vida COM MUITO MENOS CONSTIPAÇÕES, DORES NAS ARTICULAÇÕES, PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS E “STRESSES“ DOS OUTROS VELHOTES QUE CRESCERAM COM AR CONDICIONADO…
A História dá-me razão. As questões que mais interessam a qualquer país (ou habitante individual) não são só as questões económicas, a riqueza “per capita”, o PIB, etc… No fundo, aquilo que todos os governos (e todos nós também) deveríamos fazer é lutar pela FELICIDADE, independentemente da singela maneira como cada um de nós a consegue atingir.
No nosso caso, parece-nos óbvia a resposta. Nós SOBREVIVEMOS sem motos, mas só VIVEMOS FELIZES com elas nas nossas vidas. Por mais confortável que seja o nosso automóvel de família com ar condicionado, autorrádio e aquecedor para os pezinhos… o que nos faz mais feliz é abrir a porta da garagem e ver aquela obra de arte com duas rodas que nos leva pela chuva como pelo sol sempre com um sorriso dentro do capacete.
As nossas motos são responsáveis por muitos dos nossos momentos mais felizes da vida e por muitos dos stresses e AVCs que NÃO TIVEMOS por andarmos em duas e não em quatro rodas. Devíamos agradecer o nosso bom gosto e exigir aos nossos governos que coloquem as motos no “SNS”, a bem da saúde pública e da felicidade nacional.
#PostScript: Sou público exemplo de tudo o que aqui escrevi. Na garagem do meu prédio, a minha eterna moto do dia a dia, uma velhinha Yamaha Super Ténéré de 1989, sempre brilhou aos meus olhos, mesmo estacionada entre dois lindos Ferrari de dois vizinhos meus. DOS TRÊS, EU SOU O ÚNICO QUE SAIO SEMPRE A SORRIR DA GARAGEM.
Crónica originalmente publicada na Revista Motojornal #1580 já nas bancas e disponível para compra online aqui .
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