Opinião – A Voz do Rodrigo Ribeiro

Rodrigo Ribeiro, advogado, ex-deputado e um motociclista ferrenho, passa a escrever e opinar regularmente na Revista Motojornal.

A Voz do Rodrigo Ribeiro

rodrigo ribeiro“A VIDA NÃO É MEDIDA PELO NÚMERO DE VEZES QUE VOCÊ RESPIROU, MAS PELOS MOMENTOS EM QUE VOCÊ PERDEU O FÔLEGO”.

Atribuem esta citação a Bob Marley. Não consigo confirmar a origem, mas consigo confirmar a veracidade da mesma. São estes mesmo, esta simples “mão cheia” de momentos especiais que fazem uma vida valer a pena. Daqui a muitos anos, estaremos todos velhos e cansados, sentados num cadeirão confortável, mas a sonhar com os momentos em que andámos de moto pelo mundo fora, pelo NOSSO mundo.

Por mais confortável que seja a nossa poltrona de então, muitas das histórias que mais quereremos lembrar terão memórias de cabelos ao vento, mãos geladas, botas ensopadas e muita diversão em duas rodas à mistura.

Que ninguém faça confusão! Todos nós trabalhamos por um futuro melhor, mas as melhores memórias serão sempre de quando pouco mais tínhamos do que apenas os sonhos. Faz parte da natureza humana sorrir ao primeiro beijo, ao primeiro amor, ao casamento, aos filhos, às conquistas do dia a dia. Na garagem da casa, também não é diferente, o primeiro triciclo de criança, a trotinete da rua, a bicicleta para a escola, a moto para o liceu, o motão para o resto da vida. É assim que evoluem os nossos sonhos.

No início do mês de Dezembro, um desses meus sonhos tornou-se realidade com a “consagração” dos motociclistas na “minha” Assembleia da República. Eu sempre sonhei com o momento em que TODOS nós deixássemos de ser vistos apenas como os “feios, porcos e maus” das motos barulhentas, blusão e copo de cerveja na mão e passássemos a ser percecionados pela sociedade como OS SEISCENTOS MIL PORTUGUESES QUE ANDAM DE MOTO, que pagam os seus impostos e que merecem ser respeitados na estrada e fora dela.

E, nessa linda primeira semana do último mês do ano de 2024, concretizei esse meu sonho ao vê-los voltar a invadir as galerias da “minha” Assembleia da República e a serem aplaudidos de pé por TODAS AS BANCADAS. Que momento bonito e que nunca irei esquecer!

As tão anunciadas inspeções obrigatórias, aquelas que iriam defender mais a receita dos centros do que a nossa segurança, foram substituídas por verdadeiras medidas para a nossa proteção. Quando a maioria dos acidentes se deve a falha humana ou da via É LÁ QUE DEVEMOS INTERVIR, NA REGRA E NÃO NA EXCEÇÃO.

Foi um sonho tornado realidade ver o “bom senso” a ocupar o lugar da demagogia, ver as nossas vidas a ocupar o lugar dos lobbies, ver as nossas causas a ocuparem o lugar dos interesses. O futuro parece-me agora promissor para tantas das nossas outras bandeiras. A vigilância sobre a minha “menina dos olhos” a “Lei dos Rails” que salva vidas, o cálculo do IUC que castiga demasiados motociclos, a negociação de uma classe própria de portagens, o uso generalizado das Faixas BUS, o estacionamento, o ensino da condução, etc…

Há umas décadas, uma “mão cheia” de motociclistas da “velha guarda” começou estas mesmas batalhas. Alguns deles voltaram a estar presentes na Assembleia. Nunca me cansarei de lhes dizer que deixaram um belíssimo exemplo para o “sangue novo” que lhes sucederá, que Portugal ficou melhor por eles serem como são e por nunca terem desistido de lutar.

TODOS merecemos continuar as nossas vidas sobre duas rodas e, quando a idade nos fizer olhar para trás e contemplar as obras deixadas às novas gerações, sorrir e dizer: “VALEU A PENA. VALEU MUITO A PENA. DEIXÁMOS O MOTOCICLISMO MUITO MELHOR DO QUE O ENCONTRÁMOS”.

Que orgulho em TODOS vocês!

Ou, como diria o Papa Francisco: “TODOS, TODOS, TODOS”.

Texto: Rodrigo Ribeiro, Advogado, Ex-presidente de Motoclube, Ex-deputado (membro da Subcomissão Parlamentar de Segurança Rodoviária)

Crónica publicada na Revista Motojornal #1578 de janeiro de 2025 já nas bancas. Adquira a sua revista online clicando aqui .

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