Quando em 2017 a Honda CBR600RR deixou o mercado, completavam-se 30 anos desde que a primeira CBR600F havia pasmado o mundo com as suas carenagens totalmente fechadas e prestações arrebatadoras.
Nos anos 90 e parte dos 2000, foi recordista de vendas, um modelo que fez parte do imaginário ou dia-a-dia da maioria dos motociclistas.
A sua saída dos catálogos da Honda foi um choque para muitos de nós e deixou um vazio no segmento da desportivas e média cilindrada que a sua ‘irmã’ CBR650F, mais utilitária, não conseguiu ocupar.
O regresso da CBR600RR é saudado com grande satisfação, em especial porque esta renovada unidade tem tudo o que o modelo de 2017 tinha de bom, acrescentando-lhe a tecnologia e eletrónica que já nessa altura se pedia para ela. ‘Embrulhada’ em novas carenagens e uma decoração bem aguerrida a nova Honda CBR600RR faz regressar ao mercado uma desportiva de média cilindrada eficiente e que tem tudo para agradar e divertir quem a utiliza.
Rodei com ela durante uma manhã no Autódromo Internacional do Algarve e fiquei surpreendido pela jovial forma como se entregou neste exigente traçado.
O QUE MUDA NO MOTOR
A Honda CBR600RR de nova geração apresenta uma série de mudanças significativas no seu motor de quatro cilindros em linha de 599 cc e 16 válvulas. A potência é agora de 121 cv às 14.250 rpm, representando um salto notável em relação às gerações anteriores.
Este incremento de potência foi possível através de melhorias nos materiais utilizados nas árvores de cames, molas das válvulas e cambota, que foram projetados para gerir as forças de inércia em altas rotações.
A admissão foi reconfigurada, agora com corpos de injeção de 44 mm, para garantir um fluxo de ar suficiente em altas rotações, enquanto o sistema de acelerador eletrónico permite um controlo preciso e suave do acelerador em todas as condições de condução.
O comando das válvulas foi ajustado para melhorar a eficiência de admissão e escape, e as válvulas foram refinadas para proporcionar um desempenho ainda mais eficiente. O sistema de escape deixou de necessitar do sistema de válvulas, o catalisador foi reposicionado e ampliado para conformidade com os padrões de homologação, e resultam num motor mais potente, imediato e eficiente.
ELETRÓNICA MODERNA
A eletrónica da Honda CBR600RR apoia-se na tecnologia da CBR1000RR-R Fireblade e da exótica RC213V-S – a réplica do protótipo de MotoGP para uso em estrada –, com uma unidade de medição inercial de 6 eixos no ‘centro das decisões’.
O sistema de acelerador eletrónico oferece uma resposta precisa e natural e passa a ter 3 modos de condução predefinidos e dois modos configuráveis. Tem também o sistema HSTC de controlo de tração, que oferece nove níveis de intervenção, permitindo ajustes precisos para diferentes condições de condução.
O sistema de controlo anti-cavalinho usa informações da unidade de medição inercial (IMU) e sensores de velocidade das rodas para manter o binário e evitar o levantar da roda dianteira, garantindo uma tração ideal em todas as situações.
O nível de intervenção destas ajudas, a que se juntam ainda o efeito de travão-motor e um quickshifter de dois sentidos, podem ser definidos em diferentes níveis e mesmo desligados totalmente, tudo monitorizado através do novo painel de instrumentos em TFT de 4,2 polegadas.
A eletrónica gere também o ABS, que ajuda o sistema de travagem assinado pela Nissin e que é 2,5 kg mais leve que o anterior, e gere o elevar da roda traseira em travagens fortes, minimizando-o, e melhorando o comportamento e eficiência na desaceleração.
A CICLÍSTICA
O quadro de alumínio de dupla trave continua a ser o centro da ciclística. Apresenta uma curta distância entre eixos de apenas 1370 mm, e garante uma moto muito compacta.
O braço oscilante fabricado em alumínio, mais leve em 150 g do que o utilizado no modelo anterior, foi meticulosamente redesenhado para economizar peso sem comprometer a rigidez. Estas modificações resultam num peso em ordem de marcha de apenas 193 kg.
A suspensão dianteira da CBR600RR é uma forquilha invertida Showa Big Piston, com bainhas 15 mm mais compridas, que sobressaem nas mesas de direção, facilitando as mudanças na geometria, caso se queira elevar a frente.
O sistema de travagem é composto por pinças radiais de quatro êmbolos na frente, discos flutuantes de 310 mm e uma pinça traseira de um só êmbolo que atua sobre um disco de 220 mm.
Procurando manter a estabilidade da direção, em especial na aceleração, a Honda aplica na CBR600RR o seu conhecido amortecedor eletrónico HESD, que com base em informação obtida na unidade de gestão da moto, se torna mais firme ou livre.
A baixa velocidade manobramos a moto facilmente como se não tivesse amortecedor de direção, mas em movimento este atua para evitar que a direção abane de forma indesejada.
As carenagens têm um novo desenho, e na frente as pequenas asas procuram oferecer uma maior estabilidade na altura de entrar em curvas rápidas.
QUE BELA SURPRESA
Assim que nos sentamos na renovada CBR600RR vêm-nos à memória tudo o que nos lembramos desta ligeira desportiva.
Embora tenha visto o depósito de combustível redesenhado, a verdade é que a continua a ser uma moto pequena, ao melhor estilo das supersport de antigamente, onde, com 184 cm de estatura, sinto-me ligeiramente apertado. Assim que arranco para a pista e me começo a mexer em cima dela, parte desta sensação desvanece-se, dando lugar à satisfação da facilidade de condução que a CBR600RR oferece.
Em relação às suas prestações, confesso que não tinha grandes expectativas. Sendo uma moto com alterações para cumprir normas antipoluição mais restritivas, imaginei uma resposta mais amorfa deste quatro cilindros em linha.
Não podia esta mais enganado e que bela surpresa a Honda CBR600RR tinha guardada para mim.
Tendo em conta as profundas alterações realizadas tanto na admissão como no escape, e juntando o facto que este motor equipou durante anos a classe de Moto2 no Mundial de Velocidade, não é de estranhar as boas prestações que agora apresenta.
É um motor que precisa de rotação para mostrar o seu melhor, é para lá das 8.000 rpm que o fluxo mais forte de aceleração começa a fazer efeito. Mas destaca-se a forma solta com que sobe de regimes, quase como se estivesse a utilizar um escape mais livre e sem todas as limitações impostas por catalisador e silenciadores.
Na ciclística as suspensões mostram um pisar delicado, mas decidido, capazes de absorver a maioria dos movimentos da moto e irregularidades do piso e ao mesmo tempo garantir a firmeza necessária para nos dar a confiança para andar rápido, forçando as entradas em curva e aproveitando a boa velocidade em inclinação que esta ‘seiscentos’ permite.
Na prática, a Honda CBR600RR é a moto que sempre conhecemos, mas agora equipada com tudo o que no passado sentíamos falta, a eletrónica e as ajudas à condução, com uma estética moderna e com elementos aerodinâmicos nas carenagens que ajudam a aprimorar o seu comportamento no limite.
É uma desportiva ligeira que vem preencher um espaço que continuava vazio, num segmento cada vez mais despido de motos e que há muito tempo merecia uma moto como a nova CBR600RR. Se está à procura de uma moto compacta, acessível, muito eficiente e divertida em pista, e que depois possa usar no quotidiano, a Honda CBR600RR volta a ser a escolha acertada.
Texto: Marcos Leal Fotos: Zep Gori e C. Meggiolaro
Vídeo – Honda CBR600RR
Ficha técnica – Honda CBR600RR
Preço: 12.000€
Tipo: quatro cilindros em linha, refrigeração por líquido
Distribuição: DOHC, 4 válvulas por cilindro
Diâmetro x Curso: 67 x 42,5 mm
Cilindrada: 599 cc
Potência máxima: 121 cv @ 14.250 rpm
Binário máximo: 63 Nm @ 11.500 rpm
Alimentação: PGM-FI
Arranque: elétrico
Embraiagem: multidisco, banho de óleo, sistema deslizante e função de assistência
Caixa: 6 velocidades
Final: por corrente
Quadro: Dupla trave em alumínio
Suspensão dianteira: Forquilha invertida Showa Big Piston, totalmente ajustável, 120 mm de curso
Suspensão traseira: amortecedor Showa totalmente ajustável, sistema Pro-Link, 128 mm de curso
Travão dianteiro: 2 discos de 310 mm, pinças radiais Tokico de 4 pistões, com ABS
Travão traseiro: disco de 220 mm, pinça pistão simples, com ABS
Pneu dianteiro: 120/70 – 17″
Pneu traseira: 180/55 – 17″
Altura do assento: 820 mm
Distância entre eixos: 1370 mm
Capacidade do depósito: 18 litros
Peso a cheio: 193 kg
Importador: Honda Portugal
Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos
Capacete – NEXX XR3R
Fato – Spidi Track Wind Pro
Luvas – Spidi Carbo 7
Botas – XPD XP3-S
Galeria de fotos Honda CBR600RR
Fique atento a www.motojornal.pt para estar sempre a par de todas as novidades do mundo das duas rodas. A não perder!