Texto Domingos Janeiro • Fotos Ana Soares/Rasga Migas/Arquivo Motojornal
Unidos para mudar
A Associação Rasga Migas, nasce pela mão da Ana Soares (Presidente e Fundadora), mãe do Miguel Marques, vítima de um trágico acidente de moto, que lhe ceifou a vida em Outubro de 2018, que em conjunto com os amigos do Miguel (Migas, para os amigos) decidiram passar da revolta à acção, constituindo assim esta associação determinada em combater as ilegalidades que todos os dias se vêm nas vias públicas, pedindo responsabilidades, a quem as de facto tem, assumindo-se como uma nova “arma” ao dispor das vítimas.
O que está por base da constituição desta Associação? Ana Soares: O que me levou à criação da Associação Rasga Migas, foi a tragédia que me aconteceu no dia 5 de Outubro de 2018! O meu filho, Miguel Marques, foi vítima de um brutal acidente na EN 108, de onde viria a resultar a sua morte, horas mais tarde no Hospital. Quando, mais tarde, me desloquei ao local do acidente, constatei que havia algo de errado em toda a zona envolvente. Vim a confirmar mais tarde, que haviam muitas ilegalidades no local! Constatámos que havia um traço contínuo que havia sido apagado para dar acesso a um parque fechado, ilegal, onde se encontrava uma roulote de venda de comida, também ela ilegal! Foi nesse momento que começou a minha luta.
Que tipo de luta? Pela verdade! Pesquisei, investiguei e denunciei todas estas ilegalidades que envolveram o acidente do meu filho. Foi um ano muito difícil, com muitas reuniões na Câmara Municipal de Gondomar, em diversos departamentos, reuniões com as Infraestruturas de Portugal, com a GNR de Gondomar e a Proteção Civil. Depois de muita persistência, insistência e luta, ao fim de onze meses, a legalidade começou a ser reposta… Quantos jovens partiram por falta de fiscalidade e pela existência deste tipo de ilegalidades? O que se poderia ter feito para evitar estes e outros acidentes? No fundo, estou a referir-me a vidas humanas que foram perdidas, às famílias que ficaram destruídas e o desrespeito pelas entidades face à dor da perda, ao longo dos anos.
Foi então que pensaram que estava na hora de agir… Com a experiência adquirida nesta luta constante, comecei a trocar ideias com alguns motociclistas e fiz a proposta de avançarmos para a criação de uma Associação que fizesse o elo de ligação entre os motociclistas e os organismos competentes, afim de tornar a circulação nas vias mais segura. A ideia foi bem acolhida entre os amigos do Miguel e, com a força e determinação necessárias, demos início a este projecto. No fundo, é um caminhar em prol da vida, pela defesa da legalidade e da segurança rodoviária e uma homenagem ao meu filho Miguel, pelo amor que ele tinha à vida e como a vivia intensamente.
Como se pauta a acção da Rasga Migas? Nesta primeira fase, vamos procurar ser o elo de ligação junto das autoridades, denunciando as ilegalidades com que os motociclistas se vão deparando no dia-a-dia, pedindo esclarecimentos sobre situações dúbias e exigindo mais fiscalização nas estradas. Para darmos início a qualquer processo, necessitamos de uma identificação eficiente. Estamos a tentar documentar em imagens os “pontos negros”, identificação da via e a sua localização exacta. Posteriormente, segue uma exposição ou um pedido de esclarecimento aos organismos competentes (Câmaras Municipais, Infraestruturas de Portugal, Juntas de Freguesia, Forças de Segurança, Polícia Municipal, Protecção Civil entre outros). Temos um Departamento Jurídico que nos ajuda e orienta nos passos a serem dados nos vários processos e quais as vias a serem seguidas. Para já, temos também já em pleno funcionamento um Departamento virado para o apoio psicológico, de quem possa a vir necessitar.
Há custos para quem possa vir a necessitar da vossa ajuda? É uma Associação sem fins lucrativos, funcionando em regime de voluntariado, sem custos para quem tenha necessidade de recorrer à nossa ajuda. Para que isso seja possível, teremos que “sobreviver” através da angariação de donativos.
Que iniciativas têm previstas? No imediato, já temos três acções em curso, duas focadas nos automobilistas, sendo acções de rua, enaltecendo a parte cívica. A outra, nas redes sociais, sobre códigos de segurança rodoviária e procedimentos para todos os motociclistas. A médio prazo, queremos realizar formações para os motociclistas, nomeadamente, formações em primeiros socorros e condução defensiva. Fica desde já o convite a todos os motociclistas, e não motociclistas, que se queiram juntar à nossa Associação podem fazê-lo através do e-mail rasgamigas@gmail.com ou através do telemóvel 917 528 019. Todos juntos, poderemos identificar mais anomalias, exigir a sua correcção e pedir mais acções de fiscalização para repor a legalidade.
Quais as vantagens de ser associado da Rasga Migas e quais os vossos principais objectivos? A vantagem é ter a oportunidade de lutar pela prevenção deste tipo de situações e lutar pela Vida, que infelizmente não tem sido devidamente valorizada. Evitar o sofrimento e a destruição de muitas famílias que sofrerão na pele e na alma, desnecessariamente, se não lutarmos para que isto não aconteça. O nosso grande objectivo é conseguir desenvolver um trabalho conjunto com outras Associações junto de vários organismos, sempre com o objectivo de uma prevenção rodoviária mais eficaz. Uma luta contínua pela segurança e contra a falta de civismo.
Qual é o vosso lema? “Lutar Pela Vida”, sem dúvida!
Como é composta a Associação Rasga Migas e onde fica a vossa sede? Estamos sediados na Rua Nova S. Crispim 1ºDt, 441, 4000-366, no Porto. Esta Associação Rasga Migas, é composta na sua totalidade por motociclistas, que de uma forma ou de outra, já sofreram com este tipo de situações. Falta de segurança rodoviária, falta de fiscalização e falta de civismo!
Para finalizar, porque o nome Rasga Migas? Migas era o nome carinhoso pelo qual eu tratava o meu filho Miguel. Rasga vem de rasgar preconceitos, rasgar pela verdade, rasgar pela vida, rasgar por direitos….
Para quem quiser acompanhar esta associação pode aderir à página www.facebook.com/rasga.migas.9