Uma das provas de todo-o-terreno mais interessantes e completas que se disputam no Brasil, está já em marcha. Após duas das quatro etapas especiais disputadas no RN1500, a luta entre os pilotos oficiais da Honda e Yamaha está ao rubro. Mas é também pelo ambiente de festa, pelas paisagens e filosofia de corrida, que a prova brasileira tem interesse.
Os brasileiros têm uma maneira bastante particular de viver o todo-o-terreno, em especial o seu campeonato de Ralis Cross-Country – as bajas com navegação ao mais puro estilo e inspiração dakariana. O RN1500, o rali que se disputa no estado do Rio Grande do Norte, vai já na sua 24ª edição e é disso um bom exemplo.
A corrida deste ano, que estamos a acompanhar no terreno e com isso experienciar em pleno, é considerada a segunda mais importante do calendário, logo a seguir ao Rali dos Sertões, fazendo parte de um campeonato com 4 jornadas disputadas ao longo do ano.
Uma corrida disputada ao cronómetro, mas feita com recurso a navegação por road-book e GPS, que cruza este ano os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, com arranque na cidade de Campina Grande e chegada à capital Natal e passagens pelas interessantes cidades de Acari e Assu.
Pelo meio troços fabulosos e invejáveis para quem gosta de pilotar por entre zonas de forte vegetação tropical, estradões largos e muito rápidos, troços técnicos e outros bem revirados e duros em montanha, zonas de pedra e alguma areia, num ambiente este ano mais verde e sem a seca habitual, pelas chuvas que assolaram a região.
Quatro etapas disputadas com troços cronometrados e em totais de 200 a 250 km de extensão diária, numa prova que procura dar o salto de concretização após os dois anos de pandemia que assolaram, e muito, o Brasil e as suas gentes.
Por isso a corrida é também uma expressão de alegria, sobretudo, que se sente na recetividade das gentes das cidades e simples lugares por onde a prova passa e que se envolvem e festejam a passagem dos concorrentes de forma sempre em festa! No percurso, nos parques-fechados, nos próprios briefings e nas festas que se celebram todas as noites onde a corrida assenta arraiais, o TT é diferente, único mesmo.
Desportivamente, o campeonato de Cross-Country “sofre” como os campeonatos europeus: menos concorrentes em moto, nenhum piloto em quad, e um crescente número de SSV em prova. Neste RN1500, são 31 pilotos em moto e 63 equipas nos SSV a marcarem presença.
Na frente das duas rodas, é muito curiosa a luta pela vitória nas especiais e entre os pilotos mais rápidos e experientes, entre as equipas da Honda e Yamaha, que não só utilizam grandes estruturas técnicas na prova, como também motos muito idênticas às das equipas oficiais do Dakar. Destaque para o francês Adrien Metge, ex-piloto do Dakar, que milita na Yamaha IMS Rally, e o brasileiro Bissinho Zavatti, pupilo muito bravo da equipa liderada pelo experiente Jean de Azevedo.
Metge venceu a primeira etapa do RN1500, Bissinho a segunda, com os restantes pilotos de ambas as equipas a seguir na caravana que logo ao segundo dia perdeu 3 pilotos.
Nos SSV, com mais pilotos a discutirem a vitória nas especiais e com estes veículos a serem mais rápidos que as motos, grande destaque para Bruno Varela, bem conhecido pela sua participação e resultados no Dakar deste ano, ele que venceu uma das especiais, deixando a vitória no segundo dia para Neto Valentim. Destaque para o domínio dos Can-Am na corrida, com praticamente todas as equipas a escolherem os veículos canadienses.
Segue-se mais competição e mais quilómetros, primeiro por mais uma região fantástica, o Geoparque do Seridó e depois com os troços que terminam nas dunas a norte de Natal, após mais cerca de 500 km de especiais cronometradas.
A festa continua, seguramente. E a revista MotoJornal, pelo jornalista Rui Marcelo, vai continuar a acompanhar o desenrolar desta festa do Cross-Country no Brasil.
Texto: Rui Marcelo