As consequências do conflito na Ucrânia continuam a fazer-se sentir das mais diversas formas na nossa sociedade. Do ponto de vista económico todos sentimos os efeitos da guerra iniciada pela Rússia, mas há quem sinta de forma mais direta as consequências do que acontece devido à invasão da Ucrânia. E neste caso estamos a referir-nos ao piloto bielorusso Dmitriy Mazanov.
Dmitriy Mazanov e a sua Husqvarna estavam preparados para tomar parte do arranque da Baja Portalegre 500 este fim de semana. A icónica prova lusa que conta para a Taça do Mundo Bajas FIM.
Porém, e no seguimento de diversas sanções impostas a desportistas de nações que apoiam a Rússia neste conflito, como a Bielorrússia, Dmitriy Mazanov foi informado a poucas horas do início da Baja Portalegre 500 que a sua participação foi recusada.
Através das redes sociais, o piloto bielorusso denuncia a situação que considera injusta, até porque tem vindo a competir nos últimos anos com a licença ucraniana, país no qual também reside e treina grande parte do ano.
“Sou um cidadão da Bielorrússia, mas não vivo lá há muitos anos. Antes da guerra, eu residia frequentemente na Ucrânia, onde treinava, participava em competições, preparando-me para o Rali Dakar. Nos últimos três anos competi com licença ucraniana, competindo em muitos países e competições, onde conquistei muitas medalhas e títulos.
Infelizmente, na passada Primavera, a FIM proibiu pilotos bielorussos de participarem em competições internacionais, mesmo para aqueles que partilham dos valores de humanismo, estão contra a guerra, e foram forçados a sair da sua pátria pelas suas posições. Na minha opinião, Lukashenko (presidente da Bielorrússia) não é igual aos bielorussos, porque muitos bielorussos não apoiam a guerra. Por isso é que estas sanções não deveriam ser contra todos os bielorussos. A FIA (Federação Internacional do Automóvel) permite que pilotos que assinem uma declaração antiguerra possam participar em qualquer corrida. A Federação Internacional de Motociclismo não permite.
Isto prejudica pilotos que não recebem qualquer apoio do governo e que têm de encontrar fundos para competirem por si próprios. Eu também pago pelas minhas corridas fabricando os meus produtos de rali (MAD Racing), que se tornaram muito populares por serem melhores do que outros aparelhos de outras marcas. Em cada corrida eu garanto que os aparelhos funcionam bem, e adiciono novas features baseadas na minha experiência e pedidos dos clientes. Durante a Baja Portalegre 500 eu ia usar o último update antes de o aplicar a todas as unidades.
Mas alguém na FMP – Federação de Motociclismo de Portugal pensou que barrar-me de participar irá parar a guerra. Se sim, desejo que aconteça muito rapidamente”.
Recordamos que numa decisão de emergência após o início da guerra na Ucrânia, a Federação Internacional de Motociclismo, liderada pelo português Jorge Viegas, e com apoio das federações nacionais, decidiu aplicar sanções que impedem a participação de pilotos russos ou bielorussos em competições internacionais.
No caso dos pilotos russos a razão para esse impedimento é clara, e no caso dos bielorussos como Dmitriy Mazanov, a decisão de os impedir de competir deve-se ao facto do presidente daquele país, Alexander Lukashenko, ser o maior apoiante dos esforços de guerra russos na Ucrânia.
Quem já reagiu a esta denúncia de Dmitriy Mazanov foi o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP).
Em declarações à agência Lusa, Manuel Marinheiro refere que “Há a decisão da FIM que todas as outras federações devem cumprir. É uma decisão complicada de tomar, mas algo deve ser feito”, justificando desta forma a decisão de impedir Dmitriy Mazanov de participar na Baja Portalegre 500 que este ano celebra 35 anos de existência e é pontuável para a Taça do Mundo Bajas FIM.