Participar na categoria rainha do motociclismo mundial é algo a que todos os grandes fabricantes de motos aspiram. Pela categoria principal do Mundial de Velocidade passaram já ao longo dos 75 anos de existência deste campeonato grandes fabricantes. Porém, com a evolução da competição, e, principalmente, a partir do momento em que entrámos na era MotoGP em 2002, que o investimento necessário para competir ao mais alto nível atinge valores estratosféricos.
E se é verdade que para alguns fabricantes é fácil encontrar justificação para gastar tantos milhões de euros a competir em MotoGP, nomeadamente na tecnologia ou aerodinâmica, também não deixa de ser verdade que mesmo para um fabricante que todos os anos apresenta vendas recorde de centenas de milhares de motos vendidas em todo o mundo, pode ser difícil encontrar forma de justificar a participação na categoria rainha do mundial.
Para a BMW Motorrad, esta parece ser a “encruzilhada” em que se encontram.
A marca alemã, que agora tem a sua divisão de duas rodas sob a liderança de Markus Flasch, procura sempre participar nas mais diversas competições que lhe tragam prestígio mundial.
Basta recordar que estão presentes no Mundial Superbike e Mundial de Resistência FIM, com a exótica M 1000 RR desenvolvida por equipas de fábrica.
Mas passar de uma M 1000 RR que vemos nas pistas a competir para uma M 1000 RR que pode ser adquirida nos concessionários BMW Motorrad, é relativamente fácil de justificar. Passar de um protótipo de MotoGP, que não pode ser vendido aos clientes comuns, torna-se difícil de justificar.
Por isso, quando Markus Flasch, um adepto confesso do desporto em duas rodas, decide conceder uma entrevista à revisão alemã Motorrad, falando sobre o tema de entrada da BMW Motorrad no MotoGP, naturalmente que os fãs e a imprensa especializada ficam em “estado de alerta” perante essa possibilidade.
De acordo com as declarações de Flasch à publicação germânica, “Como diretor da BMW M, eu estive em todas as corridas (de MotoGP), eu conheço os responsáveis, e somos uma marca com presença lá (no campeonato). Mas está claro que tem de fazer sentido para nós (entrar em competição), e é por isso que estamos a olhar mais atentamente para isso. Eu não descartaria isso”, referindo-se à entrada da BMW Motorrad em MotoGP no futuro
Na verdade, a BMW M, a divisão desportiva da marca de Munique, já há muitos anos que está presente no paddock do MotoGP e até mesmo nas pistas. Para além dos ‘Safety Cars’ ou ‘Medical Cars’, também temos visto as S 1000 RR ou as M 1000 RR em MotoGP a fazerem algumas aparições para delícia dos fãs.
Mas uma equipa BMW Motorrad em MotoGP é algo totalmente diferente, e será um passo de gigante para a marca alemã, com a necessária subida de investimento, e até de compromisso.
Para melhor se perceber o alcance destas palavras agora proferidas por Markus Flasch, é necessário perceber que a marca está a realizar uma profunda remodelação do seu departamento de duas rodas.
Para além da mudança de presidente na BMW Motorrad, também na divisão especial BMW Motorrad Motorsport vão acontecer mudanças na liderança.
Neste caso, e a partir de 1 de junho, será Marc Bongers a ceder a sua posição em favor de Sven Blusch, com Bongers a passar a dedicar-se exclusivamente aos projetos de Superbike e Resistência com a M 1000 RR.
No comunicado oficial divulgado em meados de março de 2024, e que talvez tenha inicialmente passado despercebido à grande maioria dos fãs, está escrito que “Enquanto novo responsável pela BMW Motorrad Motorsport, Sven Blusch vai focar-se no realinhamento estratégico e otimizar uma base sólida para o sucesso desportivo no futuro. As mudanças organizacionais sublinham o compromisso da BMW Motorrad para uma estratégia desportiva a longo-prazo e orientada para o sucesso. O objetivo é claro: continuar a viver o espírito de competição, fortalecer a marca na estrada e fora dela, e partilhar a paixão pelas corridas de motos com fãs e parceiros em todo o mundo”.
Este comunicado da BMW Motorrad Motorsport permite interligar as ideias do departamento de competição com as ideias de Markus Flasch da BMW Motorrad, pelo que imaginar a entrada da marca alemã em MotoGP com uma equipa oficial poderá não ser descabido.
Por outro lado, e depois de se ter passado muito tempo a discutir a possibilidade da KTM criar uma nova equipa para acolher Pedro Acosta antes mesmo do talento espanhol assinar pela Red Bull GasGas Tech3, algo que a Dorna Sports não aceitou por, supostamente, estar a “guardar” os lugares deixados vagos pela saída da Suzuki no final de 2022 para um novo fabricante e não para mais uma equipa com motos de fabricante já a competir em MotoGP, a entrada da BMW Motorrad iria de encontro aos interesses dos gestores do campeonato e também de outros fabricantes.
Nesta situação toda convém também ter em conta que a BMW Motorrad poderia estar a ser aliciada para participar em MotoGP devido à entrada em vigor de novos regulamentos técnicos.
A partir da temporada 2027 teremos novas regras. As negociações entre a Dorna Sports a Federação Internacional de Motociclismo, MSMA – associação de fabricantes, e a IRTA – associação de equipas, prosseguem a bom ritmo.
Alguns rumores apontam para alterações significativas, nomeadamente com a introdução de novos motores de cilindrada mais baixa (fala-se em 850 cc), combustível 100% de origem não fóssil, mas também uma maior limitação à utilização de soluções como o “ride height device” ou aerodinâmica.
Tudo isto poderá servir para a BMW Motorrad encontrar forma de “justificar” a sua entrada em MotoGP num futuro a curto prazo.
Fique atento a www.motojornal.pt para estar sempre a par de todas as novidades de MotoGP. A não perder!
