Texto: Vitor Martins. Fotos: Motojornal
O Twin-Cooled Milwaukee-Eight 114 oferece um excelente binário desde regimes muito baixos – com o valor máximo de 164 Nm a ser obtido logo às 3000 rpm – o que equivale a um valente empurrão sem praticamente ser preciso acelerar. Ainda por cima, as vibrações praticamente não existem – sim continuam lá, porque a Harley-Davidson quis manter «sensações clássicas de uma Harley», mas bastante suavizadas. Graças ao veio de equilíbrio, a H-D reivindica a redução de cerca de 75% das vibrações ao ralenti; porquê reduzir as vibrações? Porque enquanto os tradicionais clientes Harley-Davidson as vêem como uma característica inerente às motos da marca americana, os potenciais novos clientes, vindos de outras marcas, encaram-nas como uma inconveniência. Ao que parece, na fase de desenvolvimento a Harley chegou mesmo a ter uma versão do motor sem quaisquer vibrações, mas foi rejeitado por ter desagradado aos motociclistas do grupo de foco. Assim a H-D conseguiu um compromisso com um veio de equilíbrio, e com o facto de o motor ser montado em apoios de borracha. Vibra, sim, mas sem incomodar. Apesar de ter trabalhado também na temperatura do motor e no modo como esta chega ao condutor, a verdade é que ainda se sente algum calor do lado direito, onde estão os escapes, e cheguei a pensar, no meio do trânsito, que o meu actual fato de chuva ia ter o destino dos anteriores: morte por derretimento nos escapes, cada vez que punha os pés no chão. Felizmente não chegou a tanto. E o calor sente-se mais no pára arranque do trânsito urbano, cenário longe do ideal para a Ultra.
É uma moto grande e pesada – são 416 kg em ordem de marcha – e temos que estar sempre a fazer as contas à largura da carenagem ‘batwing’, que ao rodar solidária com o guiador, torna manobras a baixa velocidade mais difíceis, ao exigir algum esforço físico. Em andamento, o calor nota-se menos, e a sensação de peso também praticamente desaparece. É uma pura touring para estrada aberta, e trazê-la para a cidade é quase masoquismo.