Texto Alan Cathcart • Fotos Heiko Mand, Kiska/KTM –
Aventureira acessível
Desde que a produção das Duke 125/200 da KTM começou em 2011, seguidas da 390 Duke, e depois por várias irmãs RC desportivas, nada mais nada menos do que 515 000 unidades foram construídas na fábrica dos seus parceiros Bajaj na Índia. De acordo com Stefan Pierer, Presidente da empresa, o volume de produção foi gradualmente aumentando ao longo desta década, até que só no ano passado saíram 100 000 motos das linhas de produção de Pune, cerca de metade delas destinadas a dois dos três maiores mercados globais, Índia e Indonésia. As restante foram outros países de todo o mundo, da Áustria à Austrália, da Ucrânia aos Estados Unidos, onde 20% do total de 261 454 motos produzidas em 2018 foram parar, divididas entre KTM e Husqvarna. Nenhuma dessas KTM construídas na Índia, no entanto, descende do tipo de moto dual purpose que tornaram o construtor austríaco tão bem sucedido no mercado desde o lançamento da primeira 620 Adventure monocilíndrica em 1996.
Essa ausência é vastamente atribuída à falta de convicção de Rajiv Bajaj, patrão da Bajaj, no interesse por este tipo de motos no seu massivo mercado doméstico – o maior do mundo no que diz respeito a motos com motor de combustão interna. Isso apesar do mau piso das estradas na Índia, com as quais as suspensões de longo curso de uma ‘street enduro’ conseguiriam lidar melhor, e cuja maior altura seria mais benéfica no meio do caótico trânsito; já para não falar nos gloriosos trajectos de aventura que este sub-continente oferece.
Apenas podemos conjecturar que o advento da Royal Enfield Himalayan e a BMWE G310 GS nos últimos dois anos o tenham ajudado a mudar de ideias. Isso, e o talento de Pierer na persuasão… Essa ausência foi agora a resolvida, com o lançamento no EICMA 2019, em Milão, da primeira KTM de baixa cilindrada polivalente, a 390 Adventure que deverá estar à venda a partir deste mês, que embora desenvolvida primariamente no centro de pesquisa e desenvolvimento de Mattighofen, será inteiramente fabricada na Índia. Usa a plataforma da 390 Duke, mas o seu design deriva das dominantes KTM Rally, que vencem o rali Dakar há 18 anos consecutivos.
Na verdade, pode ser justamente reivindicado que, tendo em conta que o rali limita as motos a 450 cc desde 2011, a 390 Adventure estará mais relacionada com as vencedoras do offroad do que as suas irmãs de dois cilindros paralelos 790 Adventure e V-twin 1290 Super Adventure. A possibilidade de ser o primeiro fora da fábrica a conduzir a versão de pré-produção do novo modelo um par de semanas antes da apresentação no EICMA 2019 mostrou uma moto que promete ser uma genuína moto de entrada para toda o serviço, e não um mero exercício de estilo imitador ou uma nostálgica neo-retro. «Temos vindo a falar há muito tempo sobre a produção de uma Adventure baseada num dos modelos produzidos pela Bajaj, mas não houve muita apreciação ou aceitação da parte deles», diz o Senior Product Manager Offroad & Adventure da KTM, Joachim Sauer. «Finalmente, houve tanta procura por uma Adventure mais pequena, especialmente nos nossos mercados emergentes, que desenvolvemos uma moto de conceito aqui na Áustria que estávamos preparados para produzir nós próprios com motores fabricados na Índia, embora o preço tivesse que ser necessariamente mais alto. Mas no final conseguimos convencer a Bajaj a fazer uma moto polivalente com um motor mais pequeno baseada na 390 Duke. Oferece todos os atributos das irmãs maiores, incluindo ajudas electrónicas à condução, providenciando uma utilização maios fácil por ser mais baixa e com um motor com características menos exigentes, tudo combinado com um baixo preço de aquisição graças ao facto de ser produzida na Índia».
Sauer não revelou o preço, mas ele é também responsável pela supervisão do desenvolvimento de uma KTM 250 Adventure que deverá ser lançada no próximo ano, um modelo com preço ainda mais acessível mas ainda assim uma versão polivalente de uma enduro usando a mesma plataforma da 390, mas construída para um preço mais baixo, sem suspensões reguláveis, etc. Para criar a 390 Adventure a KTM essencialmente empregou a mesma plataforma da 390 Duke, especialmente o conjunto mecânico, que fica praticamente inalterado, mas com o seu chassis extensamente modificado para um potencial mais polivalente. Isto significa que o motor de 373 cc de quatro válvulas, refrigerado por líquido, com uma taxa de compressão de 12,6:1 e com cotas internas de 89 x 60 mm, com dupla árvore de cames à cabeça comandadas por corrente, com um único veio de equilíbrio, debita os mesmos 44 cv às 9000 rpm que na 390 Duke (por isso pode ser usado pelos detentores da carta A2).
O binário máximo de 37 Nm é entregue às 7000 rpm, numa moto que pesa 158 kg a seco, ou 172 kg com o depósito de 14,5 litros cheio, que proporciona uma autonomia de mais de 400 km, de acordo com Landsiedl. Isso apesar da acção de dois catalisadores no escape de aço, que permite que o modelo, que já cumpre Euro 4, possa cumprir a mais restrita norma Euro 5. O sistema de refrigeração é todo novo, com radiador curvo e duas ventoinhas. «Tentamos manter o condutor confortável mesmo nas situações mais extremas mantendo a temperatura controlada», diz Landsiedl. Para a caixa de seis velocidades é mantida a embraiagem deslizante em banho de óleo, mas o quickshifter – para cima e para baixo – montado na moto que experimentei é opcional.