Texto Marcos Leal • Fotos Markus Jahn/Bmw
Existe e anda
Em Mirama, no sul de França, estava parada à porta do pavilhão do centro de desenvolvimento de motos do complexo de testes, sem complicações nem grandes artefactos, simplesmente ligada ao um carregador rápido. Mas também não havia grandes razões para a esconder, todos já sabíamos que estávamos proibidos de fotografar o que quer que fosse no exterior do pavilhão. O protótipo E-Power Roadster não atrai num primeiro olhar. Melhor, atrai mas pela estranheza que as suas formas provocam. Tem uma construção algo rudimentar, parecendo-se com a naked desportiva S1000R pelo uso de um grupo óptico dianteiro igual. A sua nudez revela sem pudor todos os elementos técnicos que compõem a moto, que na verdade não são muitos, já que é o conjunto das baterias o que dão mais volume a toda a estrutura. O peso ronda os 290 quilos, mas podem reduzir-se algumas dezenas com optimização da construção.
O motor eléctrico está montado em posição longitudinal, por baixo das baterias, ligado a sistema de transmissão por veio que é imagem de marca da BMW. Tem 100 kW de potência e um binário constante de 200 Nm. Motor e transmissão, são os elementos mais importantes estudados e desenvolvidos neste protótipo. As baterias usada possuem uma tecnologia que não deverá ser a aplicadas numa futura moto eléctrica, que terá de ter uma autonomia entre os 200 e os 300 km em utilização real. Esta E-Power ainda não o consegue, mas deixou-nos surpreendidos a sua actual capacidade de suportar, 27 arranques a fundo seguidos – cada um dos 9 jornalista do grupo pôde realizar 3 – ir e vir da pista de testes e chegar ao fim com metade da carga disponível.
Tal como acontece com a scooter eléctrica C-Evolution que a BMW já comercializa, também a E-Power Roadster tem refrigeração líquida nas suas baterias. De referir que uma boa parte do sistema eléctrico e de comandos é cedido precisamente por esta scooter. A refrigeração é mais necessária na fase de carregamento das baterias, momento em que as baterias mais aquecem o que dificulta o carregamento. Estas não “gostam” de ultrapassar os 40 graus centígrados de temperatura, altura em que perdem capacidade e o carregamento tornando mais lento. Enquanto conversávamos no final do teste, cerca de 20 minutos, a E-Power Roadster ficou a carregar, tendo recuperado cerca de 30% de carga.
Antes havíamos estado durante uma hora nos testes dinâmicos e esta eléctrica é capaz de realizar o arranque dos 0-100km/h em 2,9 segundos. Não sendo impressionante, já que é um valor semelhante ao da S 1000 RR usada lado a lado, marca a forma fácil como se consegue fazer esta aceleração e a força com que empurra logo que se roda o punho, que parece não querer acabar. Esta simplicidade de uso torna-se ainda mais evidente quando comparada com o intenso trabalho de embraiagem e caixa que vai acontecendo ao nosso lado, no gritante quatro cilindros, enquanto seguimos lançados, na frente até perto dos 150 km/h. É nesta altura que o ímpeto de aceleração contínua começa a cair e a S1000RR passa por nós como que acedida de raiva. O silêncio é outro dos aspectos, que em muitas situações pode ser bem vindo.
Futuro da moto eléctrica de lazer
Para a BMW existem algumas condições que têm de ser cumpridas antes de ter uma moto eléctrica de lazer. A velocidade de carga deve equivaler a 6 km por minuto o que dará 180 km de autonomia numa carga de meia hora num carregador rápido. As infra estruturas de carregamento têm de se estendam para as zonas onde os motociclista de deslocam nas suas saídas de fim de semana, estradas secundárias em troços de montanha. A rede actual, focada na mobilidade, estende-se apenas nos principais eixos viários e grandes centros urbanos. Não chega, no entender da BMW, para suportar as deslocações de uma moto de lazer.