Crónica João Pais #28

João Pais, Cronista

Retalhos na vida de um rookie

Ponto prévio, o rookie sou eu.
Nestas andanças.Ponto dois.
Por norma o rookie é atento e curioso.
Sexta-feira, hora de almoço, mochilas arrumadas e meto-me ao caminho da grande
aventura, entro no lugar do pendura numa Honda NC750X, ainda hoje me questiono por onde raio teria a carola quando acedi a semelhante meio de transporte para galgar trezentos quilómetros.

A5+25 de Abril+A2 e eis-nos em Setúbal, onde deixámos para trás a monotonia acelerada e abraçamos o bucólico acelerado, seguimos até ao Algarve por entre a diversidade da paisagem, das ultrapassagens, da ventania e da contra-ventania.
Distraio-me como posso, um gajo ali sentado não pode puxar de um livrinho, não há Messenger para o arrepio dos minutos, vou contando camiões e carros com a matrícula nova sem tracinhos e com muitas letras.
De vez em quando espreito a velocidade.
Jesus, santíssimo, e de imediato regressava às minhas contagens.
Inventa mais qualquer coisa, pensei, sempre é melhor que espreitar a quantas vamos.
Fiz abdominais ali quieto, um truque que aprendi algures na net.
Resultou.
De repente já estávamos quase, descíamos a serra, oh lá lá.. e se descíamos, cheguei a pensar que pela proximidade do AIA o JLT45 havia entrado em ‘crono mode’, mantive-me firme e hirto em minha decisão, estava a gostar da viagem, afinal o bicho papão de trezentos quilómetros a escabecear capaceteiradas ao vento acabara por revelar-se tranquilo.
AIA.
Primeira impressão? TOP.
Segunda? TOP.
Todas? TOP.
Traçado, paddock, bancadas, logística de apoio, paisagem, tudo em bom, em muito bom mesmo, por novata que seja uma pessoa há-de reconhecer a excelência quando ela lhe bate à porta.
E em Portimão, no AIA, ela bate sim!
Das corridas, e sabendo-me voluntariamente confinado na box das Tuono, por via de prestação de serviços de assistência ao ‘faz tudo o que te mandam’, das corridas dizia eu, espero que se contentem com telegráficas observações, um modo de vos trazer informação que por certo obterão com muito mais detalhe e riqueza de números noutro lado desta Revista.
E o que vi eu por ali, espreitando as cercanias quando podia?
Superbikes, com demasiado Ivo Lopes para Pedro Nuno, que um e outro busquem e se elevem ao nível que merecem… O seguinte, o mais acima, o do mundo de todos lá por fora.
SSP300… Uma corrida decidida pela enormidade da insignificância de dois milésimos de segundo, Tomás Alonso superando Pedro Fragoso, venham mais corridas assim e até as bancadas sem público se haverão de arrepiar.
Rafaela Peixoto, brilhando no pódio, Madalena Simões, Bárbara Magro e Naama Rosa cada vez mais este é um mundo de homens e de mulheres, cada vez mais se percebendo que quem decide serão… As mãozinhas de cada qual.
Meninos crianças grandes, rapazes quase adolescentes, adolescentes quase homenzinhos, muitos pelo asfalto de Portimão.
Desta vez não falarei em nomes.
Todos merecendo um público, todos buscando o segredo da trajectória ideal, soltando receios de curvas deitadas, acelerando a fundo em seus sonhos de velocidade vestida em bandeiras de xadrez.
Uns ganharam e subiram ao pódio, para mim pobre escriba que por ali andava de funil e jerrican na mão, indo para onde me mandavam e com pouco mais serventia do que isso, pois para mim cada um destes miúdos é um lutador que busca sonhos na sua solidão em pista.
Posso, talvez e apenas, dizer-lhes … não há campeões sem adversários, nunca se sintam tristes, vocês estão onde milhares sonhariam estar!
Quis o acaso e a vizinhança que tenha almoçado com dois deles, Rodrigo e Lourenço, riam-se descontraídos, falei com suas mães, riam-se nervosas.
Estranho mundo este de sorrisos de amor, paixão e coragem.
Para o fim deixei Zelder, ‘The gr8test pilot’ de Murches & arredores, que arrastou uma multidão de loucos e incontidos fãs, todos em respeito e distanciamento social mas ainda assim abraçando-se telepaticamente pela conquista de variados feitos, um TOP5 no day one, um P4 quase quase pódio que é já ali no day II, dois jantares repletos de seu mundo de seguidores, vulgo amigos que não te largam, tudo somado aquilo foram milhares de quilómetros percorridos por gente que se conquista no coração.
Senhores e senhoras, escolham a vossa cadeira, seja ela em que categoria for, escolham a vossa corrida e as vossas gentes, mas não percam, nem por nada, a hipótese de fazerem parte de coisa assim, olhem para mim, que tão grande salto dei, de escriba a carregador de funis, e assim traçando enorme sorriso.
Em meu nome, e creio que de todos os que por ali vi este fim-de-semana…
Um Obrigado para si leitor…